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Refrigerante afetaria a fertilidade

Estudo indica que tomar essa bebida todo dia traz dificuldades extras para um casal que deseja engravidar

Por Thaís Manarini
Atualizado em 29 jul 2018, 12h00 - Publicado em 29 jul 2018, 12h00
Só uma latinha ao dia já reduziria a chance de ter filhos (Foto: Dercílio/SAÚDE é Vital)
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Não é de hoje que a ciência insinua um elo entre ingestão frequente de refrigerantes e problemas de fertilidade. E tem evidência nova na área. A professora de epidemiologia Elizabeth Hatch, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, avaliou hábitos de 3 828 mulheres de 21 a 45 anos e 1 045 homens e concluiu: tomar uma lata todo dia reduziu, em média, 20% a chance de gravidez.

“Uma das principais teorias é que a bebida contribui para a resistência à insulina, o que aumenta a inflamação no corpo”, esclarece. “E isso tem impacto negativo na fertilidade.” O médico Maurício Chehin, da Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo, nota que o enrosco parece estar no açúcar mesmo, já que o refri diet não foi ligado a obstáculos.

Em sua defesa, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir) diz que a pesquisa é baseada em questionário alimentar – portanto, não mostra relação de causa e efeito. Segundo Elizabeth, porém, esse tipo de investigação é a que, dentro do possível, melhor fornece evidências sobre a ligação de um comportamento alimentar com o risco de um problema.

Bate-papo com a autora

Confira abaixo, a entrevista com a pesquisadora Elizabeth Hatch, líder da investigação. Ela conversou com a gente por e-mail.

SAÚDE: Por que você decidiu investigar a associação entre o consumo de refrigerantes e a fertilidade?

Elizabeth: Como é possível ver na introdução de nosso artigo, há diversos estudos que sugerem essa relação. Por exemplo: três pesquisas encontraram baixa qualidade do sêmen entre homens que tomavam mais refrigerantes.

SAÚDE: Com base em seu estudo, acha que pessoas que querem engravidar deveriam pensar duas vezes antes de abusar dos refrigerantes?

Elizabeth: Tomar muito refrigerante traz efeitos deletérios em diversos aspectos da saúde. Logo, seria prudente não exagerar em nenhuma fase da vida.

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SAÚDE: Você já tem hipóteses para explicar por que a bebida prejudicaria a fertilidade?

Elizabeth: Há vários mecanismos biológicos discutidos em nosso artigo. Uma possibilidade é que a ingestão de refrigerante leva à resistência insulínica, o que aumenta a inflamação no organismo. E isso traz impactos negativos na fertilidade.

SAÚDE: É verdade que o refrigerante diet e o suco de frutas não afetaram as chances de ter filhos?

Elizabeth: Sim. Se o conteúdo de açúcar (ou xarope de milho com alto teor de frutose) tem a ver com a situação, isso explicaria por que não achamos o mesmo dado sobre os refrigerantes diets. E os sucos de frutas apresentam, além do açúcar, diversos outros micronutrientes saudáveis. Esse pode ser o motivo de também não termos identificado nenhum problema em relação a eles.

SAÚDE: A Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) diz que “não há nenhuma evidência científica séria e válida que relacione o consumo de refrigerantes com menores chances de gravidez”. Você acha que o fato de seu trabalho ser baseado em questionário de frequência alimentar diminui a força dos resultados?

Elizabeth: Não, de forma alguma. Obviamente a entidade não gosta desses dados e vai lutar contra qualquer evidência que diga que os refrigerantes são prejudiciais ou associados a alguma doença – esses produtos são relacionados a diabetes, obesidade e provavelmente problemas cardíacos.

Fizemos um grande estudo de coorte prospectivo, ou seja, a exposição ao refrigerante foi medida antes do resultado aparecer, o que reduz o risco de viés. Além disso, seria extremamente difícil realizar um estudo randomizado*. Então, os trabalhos observacionais, como o nosso, fornecem as melhores evidências que temos.

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*Nota da reportagem: em um estudo randomizado, um grupo de voluntários seria escolhido aleatoriamente e então passaria a tomar refrigerante sempre, enquanto outra turma selecionada ao acaso não o beberia. Depois de determinado tempo, a taxa de fertilidade de todos as pessoas seria medida e comparada. Mas, por questões éticas, é complexo obrigar voluntários a consumir com frequência um produto qualquer para verificar supostos danos que ele comete à saúde.  

O outro lado da história

Agora, confira a nota de esclarecimento da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) sobre os achados da pesquisa americana:

“Não há nenhuma evidência científica séria e válida que relacione o consumo de refrigerantes com menores chances de gravidez. Estudos baseados em questionários de frequência alimentar, como os realizados pela Boston University School of Public, são excelentes para recolher informações sobre padrões alimentares ao longo dos anos. Porém, nunca para estabelecer causa e efeito, nunca para atestar que determinado alimento provoca determinada doença. Os próprios pesquisadores sabem disso.

Estabelecer vínculo entre o consumo de refrigerantes e qualquer doença causa um pânico desnecessário, sem qualquer comprovação científica. Esses produtos são atestados pelo CODEX Alimentarius* pelas autoridades norte americana (FDA) e europeia (EFSA). No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atesta a segurança dos refrigerantes comercializados no país.

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A Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (ABIR) entende que estudos científicos são extremamente importantes para derrubar boatos. Por isso, devem ser interpretados exatamente sobre o que representam, sob o risco de criar uma insegurança na população.

As empresas brasileiras de refrigerantes apoiam e encorajam estilos de vida balanceados por meio do oferecimento de diferentes opções de escolhas à população. Todos os produtos produzidos pela indústria brasileira de bebidas não alcoólicas têm sua qualidade e segurança atestados para consumo.

* Codex Alimentarius é um fórum internacional de normatização do comércio de alimentos estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), por ato da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS), mais especificamente pelo JECFA, que vem a ser justamente o comitê científico internacional de especialistas em aditivos alimentares administrado pela FAO e pela OMS. O JECFA se reúne periodicamente e realiza a avaliação do risco associado ao consumo de aditivos alimentares, contaminantes, toxinas de ocorrência natural e resíduos de medicamentos veterinários em alimentos, assessorando o Codex Alimentarius em suas decisões.”

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