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Alergias em animais: causas, sintomas, diagnóstico e tratamentos

A coceira excessiva pode ser sintoma de alergia, que, na pior e mais comum manifestação, exige atenção e tratamento a vida toda

Por Naira Hofmeister
Atualizado em 24 nov 2019, 11h30 - Publicado em 24 nov 2019, 10h30
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  • Quem tem um bicho em casa sabe que aquela coceira atrás da orelha ou a lambidinha nas patas é hábito corriqueiro. De fato, cães e gatos, assim como humanos, se coçam vez ou outra sem que isso vire um problema. Mas, quando esse comportamento é constante, pode indicar a presença de uma alergia, condição que normalmente não tem cura e é capaz de comprometer o bem-estar do pet.

    Nos centros urbanos, a má notícia é que a manifestação mais incômoda é também a mais comum. Falamos da dermatite atópica, doença genética que exige acompanhamento e tratamento junto ao veterinário.

    “O tutor vai perceber se a coceira passa do limite aceitável. Quando o animal interrompe uma atividade, como comer, beber água ou brincar, para se coçar é sinal de que ela é patológica”, sinaliza o veterinário Alexandre Merlo, gerente da farmacêutica Zoetis, que desenvolve pesquisas e medicamentos para dermatite atópica.

    Embora faltem estatísticas e dados científicos sobre a incidência dessa e de outras encrencas de base alérgica em animais de estimação, os profissionais são unânimes em afirmar que a chateação na pele já é a principal razão para procurar um veterinário.

    Mas o que estaria acontecendo para que tantos cães e gatos desenvolvam reações do tipo? “É o estilo de vida. Com a humanização dos pets, eles passaram a ser tratados como crianças, gente da família. Vivem dentro de casas e apartamentos, e isso acarreta uma série de condutas que levam ao aumento dos problemas na pele”, analisa a veterinária Flávia Clare, professora da Equalis Educação em Medicina Veterinária, em Curitiba.

    Trata-se do que os cientistas chamam de hipótese da higiene. Segundo essa teoria, quanto mais o dono cuida do seu bicho como se ele fosse um filho, com banhos regulares e ambiente limpinho, maior é a probabilidade de o sistema imunológico dele ficar sensível a poeira, ácaros e outros agentes que se espalham pelo ar e pelo chão.

    Sem ter com o que se preocupar, as defesas acabam hiper-reagindo a fatores externos que não costumam causar estragos. Da mesmíssima forma que acontece com os humanos, também bem mais alérgicos nas últimas décadas.

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    A questão é que a dermatite atópica, especialmente, destrambelha a saúde física e mental do animal. “Notamos irritabilidade, intolerância e ansiedade”, aponta Marconi Farias, professor de veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

    O prurido frequente leva a feridas crônicas que podem até dispersar um cheiro desagradável. É que, sem tratamento, as lesões evoluem para uma infecção bacteriana ou fúngica. Isso acontece quando o ecossistema da pele se desequilibra, e os seres microscópicos que habitam naturalmente a região se proliferam e invadem inclusive a corrente sanguínea. É um perigo que não fica à flor da pele.

    As alergias mais comuns

    Dermatite atópica: é uma doença genética inflamatória na qual a pele se torna sensível a estímulos variados do ambiente, como pólen, ácaros, grama, pó doméstico etc.

    Alimentar: com sintomas semelhantes aos da dermatite atópica, o diagnóstico se dá pela mudança da dieta durante 60 dias. Os fatores alergênicos mais reportados são as proteínas da carne bovina, do frango, do trigo e do leite.

    A picadas de insetos: é uma reação localizada a partir do contato com a saliva da pulga, do carrapato ou de outros parasitas. Mais comum fora dos grandes centros urbanos ou em áreas com saneamento precário.

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    De contato: problema pontual desenvolvido a partir do toque ou convívio do animal com algo que irrite a pele, como a coleira ou certos produtos químicos.

    Como funciona o diagnóstico

    É importante ficar de olho e contar com o veterinário para identificar o que está por trás do coça-coça. O sintoma que tanto incomoda o animal pode dedurar males além da alergia, caso da própria sarna.

    Aliás, outros bichinhos minúsculos causam confusão na pele. A coceira derivada das picadas de pulgas — alguns animais desenvolvem sensibilidade à saliva desse inseto — ainda é uma das alergias mais recorrentes nos ambientes domésticos.

    O problema, no entanto, está em declínio graças à urbanização e à melhoria das condições sanitárias. “Onde há mais recursos e poder aquisitivo, é muito difícil aparecerem animais alérgicos a picada de pulga porque eles são tratados regularmente”, relata a veterinária Cristiane Ritter, do Centro Veterinário Poa Pet Care, em Porto Alegre.

    Na cidade grande, predomina entre os cães a dermatite atópica. Já para os gatos, a ocorrência da disfunção ainda não foi comprovada, embora tenham sido descritos casos de coceira crônica que não são vinculados nem a picada de insetos nem a alimentos, indício de que os felinos também podem estar se tornando novas vítimas.

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    O coça-coça e os machucados que aparecem como consequência nem sempre são sinais de dermatite atópica. Às vezes eles vêm à tona devido a uma alergia alimentar ou, se as lesões são mais localizadas, em função de uma dermatite de contato, que, como o nome já diz, é causada pelo toque da pele do animal com algo que desperte reação.

    Para descobrir a causa do problema, a maioria dos veterinários prefere ir na tentativa e erro: retiram os itens mais rejeitados pelo organismo dos bichos um a um e acompanham para ver se houve melhora. No caso da alergia alimentar, pode ser a proteína da carne; na dermatite de contato, às vezes é a coleira ou uma roupinha. Uma vez excluído o fator irritante, os sintomas cessam.

    Dá para controlar a alergia

    A situação é diferente na dermatite atópica, quadro crônico que pode ser agravado por um monte de coisas. “É uma doença de difícil controle. Nesses animais, a pele perde a sua função de barreira natural e se torna hiper-reativa a tudo”, resume Farias.

    Como a doença enfraquece a proteção da derme e alimenta coceira e formação de feridas, o tratamento envolve banhos com xampus especiais e soluções à base de cloreto de sódio, que atuam na recomposição da barreira cutânea. Se o animal estiver com infecção por bactérias ou fungos, lembra Flávia, é necessário partir para antibióticos ou antifúngicos.

    A boa notícia é que despontaram tratamentos inovadores nessa área. E alternativas à cortisona, remédio que deprime a imunidade para frear o problema mas que pode envolver riscos se usada constantemente.

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    A última geração de medicações envolve comprimidos mastigáveis e, mais recentemente, injeções de anticorpos que agem como um míssil teleguiado na origem da dermatite e da coceira — caso de um remédio biológico recém-lançado pela Zoetis.

    “É uma maneira de tratar mais próxima do natural, tendo menos reações adversas”, afirma Merlo.

    Para alguns profissionais, homeopatia, ozonioterapia e acupuntura podem trazer bons resultados, não só para essa dermatite, mas para alergias em geral — a indicação, porém, não é unanimidade pela falta de evidências científicas.

    Em paralelo ao tratamento veterinário, manter o ambiente, a casinha e a cama do animal em ordem também é importante, porque tira de cena poeira, ácaro e outros elementos incitadores de coceira.

    Vale caprichar. Ninguém merece viver nesse coça-coça!

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    Os sinais de uma pele com alergia

    Detecção passo a passo

    1. Lesões localizadas indicam alergia de contato, que vão embora ao afastar o animal do alérgeno causador.
    2. Um bom antipulgas serve para descartar alergia a parasitas.
    3. Se nada disso resolver, o veterinário costuma propor uma dieta por 60 dias para descobrir se o problema é com algum alimento.
    4. Se a melhora não for significativa, tudo leva a crer que há dermatite atópica — que pede tratamento específico. É possível fazer testes para saber a qual alérgeno seu animal reage, mas eles são caros.
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