Um teste rápido para diagnosticar a hanseníase
Simples e inovador, o método consegue até mesmo especificar o tipo da doença. Mostramos, em vídeo, como ele funciona
Cercada de estigmas em razão das manchas e lesões que provoca na pele, erroneamente consideradas contagiosas, a hanseníase ainda é um problema de saúde pública no Brasil.
O diagnóstico precoce e o rastreio fazem parte da Estratégia Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) e são considerados pontos fundamentais para mudar o panorama nos países que lideram os casos da doença. A entidade tem como meta, aliás, zerar a hanseníase endêmica até 2030.
A hanseníase é causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Mesmo sem apresentar sinais, a pessoa infectada pode disseminar o micro-organismo por gotículas de saliva e secreções nasais.
Os principais sintomas são manchas e placas na pele, formigamentos e perda de sensibilidade. A progressão pode levar a sequelas físicas como mãos em forma de garra e outras deformações. O Brasil é o segundo país em número de casos registrados, só atrás da Índia e logo à frente da Indonésia.
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Ao redor de um terço dos episódios por aqui é notificado após comprometimentos mais sérios, como fraqueza nas mãos e dores nas articulações, o que evidencia a detecção tardia.
Pesquisadora na área de diagnóstico para doenças negligenciadas, a farmacêutica Juliana de Moura, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), se uniu ao químico Ronaldo Censi Faria, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para desenvolver uma solução capaz de flagrar anticorpos da hanseníase no sangue, facilitando, assim, sua identificação — hoje, ela é feita por meio de exames físicos e biópsias dos locais afetados. Dê o play no vídeo para entender melhor.
“Conseguimos chegar a uma plataforma inovadora, que utiliza peptídeos reagentes a anticorpos detectados eletroquimicamente”, resume Juliana.
Testado com 50 amostras de sangue, o método consegue até mesmo especificar o tipo da doença. Na forma multibacilar, de manifestações mais severas, ela apresenta carga de anticorpos mais elevada. Já nas paucibacilares, a baixa produção dos anticorpos dificulta ainda mais o diagnóstico pelos métodos tradicionais.
“Com nossa alternativa, é possível encaminhar ao médico um número maior de pessoas, e os resultados do exame ajudam a direcionar o tratamento”, diz a cientista.
“Sem contar a possibilidade de fazer triagens em áreas endêmicas, detectando a doença antes do aparecimento de qualquer lesão, o que ajudaria a quebrar a transmissibilidade da hanseníase”, completa.
Esse trabalho foi vencedor da categoria Inovação em Medicina Diagnóstica do Prêmio Dasa de Inovação Médica com VEJA SAÚDE 2021.
Nome original do trabalho: Novo teste simples e rápido para o diagnóstico sorológico da hanseníase
AUTORES: Juliana de Moura, Ronaldo Censi Faria, Sthefane Valle de Almeida e Cristiane Zocatelli Ribeiro.
INSTITUIÇÕES: Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).