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O coronavírus pode atacar o cérebro? Ele causa AVC?

Evidências iniciais sugerem que algumas pessoas com Covid-19 teriam sintomas neurológicos. Entre eles, confusão mental, danos aos neurônios e derrame

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 18 ago 2020, 10h46 - Publicado em 7 Maio 2020, 12h10

Surgiram indícios de que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode afetar o cérebro de diversas maneiras. Em relatos de caso e estudos já publicados, a Covid-19 disparou problemas neurológicos, inclusive o temido AVC.

Para citar um exemplo, um trabalho chinês publicado no JAMA Neurology com 214 portadores da doença mostrou que até 36% tiveram também algum tipo de problema na massa cinzenta. Entre eles, alterações sensoriais, derrames e confusão mental.

“A Covid-19 está ligada a um aumento na formação de coágulos em artérias”, comentou, em comunicado à imprensa, o neurocirurgião Wanderley Cerqueira de Lima, que atua na Rede D’Or e na Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein. Além do risco de trombose e embolia pulmonar, tais coágulos podem atingir o cérebro, levando ao AVC, como mostrou uma matéria de VEJA.

Essa característica não é exclusiva do novo coronavírus. Outras infecções facilitam o entupimento dos vasos sanguíneos, como malária e dengue. No caso do Sars-CoV-2, médicos estão testando o uso de anticoagulantes em alguns indivíduos internados para amenizar o risco de complicações.

Coronavírus e o risco de AVC em jovens

O curioso é que a Covid-19 parece aumentar a probabilidade de derrames em adultos mais jovens, que geralmente não pertencem ao grupo de risco desse problema. “Os coágulos arteriais e venosos estão sendo diagnosticados em pacientes abaixo dos 30 anos”, reforçou Lima, naquele mesmo comunicado.

Em carta publicada no The New England Journal of Medicine, pesquisadores do Mount Sinai Health System, em Nova York, relatam cinco casos de AVC em pessoas com menos de 50 anos que foram infectadas pelo coronavírus. Duas não exibiam qualquer enfermidade que favorecesse o derrame. É pouca gente, claro — mas o fato serve de estímulo para que os profissionais estudem mais a fundo a situação.

Um dos possíveis mecanismos para os entupimentos nas artérias que irrigam o cérebro é a inflamação sistêmica promovida pelo corpo em resposta ao Sars-CoV-2. As citocinas, substâncias inflamatórias liberadas exageradamente em alguns sujeitos acometidos por esse agente infeccioso, agridem o endotélio, a parede dos vasos sanguíneos. Isso, por sua vez, atrapalharia a circulação.

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A tempestade inflamatória no cérebro

Além das artérias e veias, suspeita-se que as citocinas prejudiquem diretamente a massa cinzenta do pessoal afetado pela Covid-19.

Em artigo publicado no periódico Cell Press, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontam evidências de que o coronavírus poderia culminar em encefalite — uma inflamação severa do cérebro. Isso ajudaria a explicar sintomas como a confusão mental e dores de cabeça.

Por último, há relatos recentes de Síndrome de Guillain-Barré ocorrendo junto com a infecção de Covid-19. Trata-se de outra condição inflamatória (já observada em casos de zika e chikungunya) em que os nervos responsáveis pelo comando dos músculos são atacados. Como resultado, o paciente perde a capacidade de se mover por um período que pode variar bastante. Em episódios graves, o quadro afeta a musculatura que regula a respiração, colocando a vida em risco.

De novo: ainda é cedo para dizer que coronavírus causa a Síndrome de Guillain-Barré.

Não se sabe ainda se vários desses achados mais drásticos são meras coincidências ou se de fato estão ligados ao vírus por trás da pandemia. Mais estudos são necessários para entender como o estado inflamatório afeta o cérebro e, especialmente, se esses danos são temporários ou podem deixar sequelas.

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Um ataque direto?

A inflamação e o surgimento de trombos são as duas principais hipóteses para explicar as manifestações neurológicas que viriam da Covid-19. Porém, outras teorias vêm sendo estudadas. Uma especula que o vírus teria uma atração especial por células do sistema nervoso central — ou seja, ele as invadiria diretamente.

Aqui no Brasil, um trabalho da Universidade Estadual de Campinas mostrou que o Sars-CoV-2 consegue infectar neurônios cultivados em laboratório. Contudo, isso não significa que ele faria o mesmo dentro do corpo — e em intensidade suficiente para provocar estragos.

Falta confirmar, por exemplo, se o vírus consegue mesmo atravessar a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro de patógenos em circulação. “E, se sim, que tipo de impacto pode causar no tecido nervoso”, declarou, à Agência Fapesp, o biólogo Daniel Martins-de-Souza, autor da pesquisa brasileira.

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