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Estudo brasileiro reforça que a Covid-19 causa problemas cognitivos

Falha na memória, dificuldade de concentração e perda de equilíbrio seriam efeitos tardios do coronavírus. Veja como eles surgem e qual o tratamento

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 9 fev 2021, 18h47 - Publicado em 9 fev 2021, 18h02

Um estudo brasileiro, realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/FMUSP), mostra que disfunções cognitivas, como perda de memória recente, desequilíbrio e dificuldade de concentração, são efeitos tardios da infecção pelo coronavírus.

A equipe liderada pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin chegou a essa conclusão após analisar 185 pessoas — com idades de 8 a 80 anos —, entre março e setembro de 2020. Para isso, ela usou uma ferramenta chamada MentalPlus.

“É um jogo digital que criei em 2010. Ele analisa as funções cognitivas para ajudar no tratamento de problemas neurológicos e psiquiátricos”, conta Lívia.

O MentalPlus funciona quase como um videogame comum, jogado em um tablet. Mas em vez de só divertir, ele testa a memória, a atenção, a função executiva, a percepção visual e o controle inibitório. Há uma fase de avaliação, outra de reavaliação e dez de reabilitação.

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O estudo ainda está em andamento, mas os resultados iniciais acabaram de ser publicados. Eles apontam que, em 80% dos participantes, o coronavírus provocou dificuldade de atenção, perda de memória, problemas com a compreensão e déficits no raciocínio e na execução de tarefas comuns do dia a dia.

“Isso atrapalha atividades como fazer contas, dirigir um carro, ler, arrumar a casa”, enumera Lívia. De acordo com os dados preliminares, os sinais cognitivos são mais intensos em quem desenvolveu as formas graves de Covid-19. Porém, essas consequências podem surgir mesmo em casos antes tidos como assintomáticos.

Mas como ter certeza de que o Sars-CoV-2 é quem está por trás disso tudo? Lívia explica que os resultados dos testes foram comparados com o de um grupo de indivíduos testados anteriormente.

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“Nós comparamos cada participante com pacientes de perfil compatível. Se o voluntário era portador de síndrome de Down, sua avaliação era comparada à de pessoas com síndrome de Down que não tiveram Covid-19, por exemplo”, complementa a neuropsicóloga.

Como dissemos, essa foi a primeira fase da investigação. Atualmente, já são 430 indivíduos em acompanhamento. Se você já pegou o coronavírus, está curado e tem interesse em se voluntariar, clique neste link para se inscrever.

Como o coronavírus causa disfunções cognitivas

Cientistas do mundo todo estão estudando as sequelas do Sars-CoV-2 no cérebro. No Brasil, um trabalho da Universidade Estadual de Campinas que ainda está em fase de pré-print (não foi publicado em uma revista científica) relatou lesões nos neurônios de 26 indivíduos que morreram por Covid-19, através de autópsias. Elas seriam decorrentes da hipóxia — ou seja, da falta de oxigenação no sangue.

Mais uma pequena análise, essa da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, comparou a ressonância magnética cerebral de três pessoas que pegaram coronavírus com a de outras três que haviam sofrido com a falta de oxigênio por outras doenças. Os resultados dos dois grupos foram similares.

Há também uma ação direta do Sars-CoV-2 nos neurônios. O neurocirurgião Feres Chaddad, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que o vírus é capaz de afetar o nervo olfatório, o responsável por transmitir os cheiros que sentimos para o cérebro. “E essa estrutura tem conexão direta com o sistema nervoso central. É por isso que hoje se nota uma associação entre a doença e encefalites, meningites e acidente vascular cerebral”, informa.

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Já uma investigação da Universidade Yale, nos Estados Unidos, utilizou células-tronco de indivíduos saudáveis para criar um modelo de cérebro no laboratório. A partir daí, eles constataram que o coronavírus é capaz de infectar neurônios e se replicar.

É possível tratar esses sintomas da Covid-19?

Sim, mas não há um remédio específico. As estratégias são as mesmas empregadas contra disfunções cognitivas em geral.

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“Podemos usar atividades lúdicas, terapia ocupacional, exercícios de memória. Mas antes é preciso avaliar o grau de comprometimento neurocognitivo do paciente”, orienta Chaddad.

Já Lívia destaca que, mesmo após se curar da Covid-19, é necessário ter atenção com certos sinais. “Fique de olho se apresentar sonolência excessiva diurna, falha na memória e confusão mental. Ou se começar a tropeçar com facilidade”, aponta.

Nesses casos, procure um neurologista. Quanto antes a reabilitação for iniciada, maiores as chances de ser bem-sucedida.

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