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Com psicologia, pessoas podem desaprender a sentir dor crônica, diz estudo

Terapia é vista como benéfica por especialistas, mas não deve ser usada de forma exclusiva

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein*
22 out 2021, 16h28

Se o cérebro é capaz de gerar dor mesmo sem lesões aparentes, ou após a cicatrização, seria possível ele “desaprender” a senti-la? Com essa pergunta, pesquisadores norte-americanos avaliaram o uso de um tratamento psicológico no alívio da dor crônica nas costas, e tiveram resultados positivos.

A partir da Terapia de Reprocessamento da Dor (PRT, sigla em inglês), os participantes do estudo clínico eram orientados a entender o papel do cérebro na geração da dor crônica, a reavaliar as próprias dores enquanto faziam movimentos que, antes, tinham medo e a lidar com as emoções que pudessem exacerbar o incômodo.

Caso alguém sentisse dores toda vez que se sentasse, por exemplo, a orientação seria para que fizesse o movimento lentamente, prestando atenção às sensações e tentando pensar nelas como seguras. O mesmo valeria para outros gatilhos, como conflitos no trabalho ou na família.

Resultados do estudo

Ao todo, 151 voluntários — com relatos de dor crônica nas costas com duração de, pelo menos, metade dos dias dos últimos seis meses e uma semana de dores com intensidade média igual ou maior a quatro (em uma escala de 0 a 10) — foram divididos em três grupos, de forma randomizada:

• 50 receberam o tratamento psicológico;
• 50 receberam o cuidado padrão;
• 51 serviram de comparativo, via grupo placebo.

Antes e depois da terapia, todos realizaram exames de ressonância magnética para medir como o cérebro reagia a um estímulo de dor leve.

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Ao final do tratamento de quatro semanas, 66% dos participantes que passaram pela PRT estavam completamente ou quase sem dor, em comparação com 20% do grupo do placebo e 10% dos que receberam o cuidado padrão. Os benefícios, sejam de alívio ou de cessação da dor, duraram um ano, em média.

Todos os participantes do estudo, cujos resultados foram publicados no periódico Jama Psychiatry, apresentavam dores primárias, que não são explicadas por outra condição ou lesão. Este é, inclusive, o tipo mais comum de dor crônica, identificada em 85% das vezes. No caso das dores secundárias, são causadas por outros problemas, sendo entendidas como sintomas.

“Por muito tempo, nós pensamos que a dor crônica se devia, primeiramente, a problemas no corpo, e muitos tratamentos até agora miravam nisso. Esse tratamento é baseado na premissa de que o cérebro pode gerar dor na ausência de lesão ou após a cicatrização, e que as pessoas podem desaprender a sentir essa dor. Nosso estudo demonstra que isso é possível”, destaca Yoni Ashar, autor principal e pesquisador do departamento de Psicologia e Neurociência da Universidade do Colorado, onde o estudo foi conduzido, em comunicado à imprensa.

Tratamento multidisciplinar

A escolha dos pesquisadores em testar a abordagem psicoterápica em pessoas com dores primárias torna as alterações psicoafetivas mais evidentes, de acordo com José Oswaldo de Oliveira Júnior, neurocirurgião e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED).

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“Há muito tempo se busca a compreensão sobre a relação entre sintomas físicos e os processos mentais. Na prática, há uma constatação de que estímulos sabidamente dolorosos e intensos podem não causar desconforto algum, enquanto o contrário pode também ser verdadeiro. Ou seja, uma pessoa pode ter dor intensa sem que nenhum estímulo tenha sofrido”, explica o especialista.

Por causa da complexidade para compreender por que sentimos dor, Oliveira acredita que o tratamento psicoterápico deve ser entendido como benéfico, mas não para ser adotado de modo exclusivo. Outras intervenções podem ser incluídas, como medicações, mas não apenas.

“Os procedimentos variam desde uma massagem de conforto, prescrição de esquemas analgésicos variados, cirurgias minimamente invasivas e até implantes de sistemas de estimulação elétrica ou de liberação de fármacos analgésicos no sistema nervoso”, indica.

*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein.

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