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Vacina russa para Covid-19 alcança eficácia de 92% em avaliação parcial

O Centro Gamaleya divulgou resultados positivos de sua vacina contra o coronavírus, mas recebeu críticas pela falta de transparência

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 2 dez 2020, 12h36 - Publicado em 11 nov 2020, 17h50

A vacina Sputnik V, desenvolvida pelo Centro Gamaleya, estatal russa, demonstrou eficácia de 92% em prevenir a Covid-19 em análises parciais. Pelo menos é o que afirma um comunicado à imprensa da entidade, nos moldes do anúncio feito recentemente pela Pfizer. Ou seja, sem a disponibilização de detalhes para a comunidade científica.

Segundo o texto, a eficácia foi averiguada em uma análise interina dos primeiros 20 voluntários incluídos no estudo de fase 3 que pegaram Covid-19. A maioria dos infectados estava no grupo placebo e não no que de fato recebeu o imunizante – a diferença foi de 92%. Este tipo de avaliação é feito antes da conclusão da pesquisa e, em situações graves como a de uma pandemia, até pode ser utilizado para solicitar a aprovação emergencial de uma vacina.

O problema: para dar credibilidade ao resultado, o número mínimo de infecções necessárias para começar a análise interina deve constar no protocolo do estudo desde o início. No caso da Sputnik V, ele não está disponível ao público. Pfizer, Moderna e AstraZeneca foram as únicas farmacêuticas a compartilharem os detalhes de suas pesquisas de vacinas contra a Covid-19.

Esse imunizante do Centro Gamaleya foi o primeiro a ser aprovado de maneira emergencial no mundo. Isso ocorreu ainda em agosto na Rússia, porém sem apresentar quaisquer informações sobre os estudos de fase 3. E é só quando essa etapa acaba, com dezenas de milhares de voluntários, que é realmente possível atestar eficácia e segurança de uma fórmula. Na ocasião, a liberação gerou críticas da comunidade internacional.

O desempenho da vacina Sputnik V, segundo o comunicado

O que estamos vendo agora é justamente uma prévia dos resultados da fase 3. No material à imprensa do Centro Gamaleya, é dito que mais de 16 mil pessoas receberam as duas doses da vacina, que usa uma tecnologia semelhante à desenvolvida pela Universidade Oxford, em parceria com a AstraZeneca. Ou seja, um pedaço do Sars-CoV-2 é inserido em um vetor viral (um adenovírus inofensivo), que é então injetado no corpo. Isso para o sistema imune reconhecer essa parte do coronavírus e, então, atacá-lo.

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A diferença é que a Sputnik V utiliza dois tipos de adenovírus, ambos circulantes em humanos. A fórmula desenvolvida pelos ingleses recorre a um só, advindo dos chimpanzés. Em teoria, a estratégia russa pode reduzir o risco de que uma eventual resistência do organismo contra o adenovírus atrapalhe a resposta à partezinha do Sars-Cov-2 escondida ali. A fase 3, prova final dessa teoria, pretende envolver 40 mil participantes em diversos países, como Venezuela e Emirados Árabes Unidos.

Nas aplicações feitas até agora, nenhum efeito adverso não esperado foi identificado. Algumas pessoas (a quantidade exata não foi divulgada) tiveram reações leves e curtas, a exemplo de dor local e sintomas gripais como febre, fraqueza, fadiga e dores de cabeça. A pesquisa continua até que os 40 mil voluntários sejam vacinados e o número de infectados pré-determinado seja atingido.

O Centro Gamaleya garantiu que irá publicar os dados preliminares da fase 3 em “uma das principais revistas médicas internacionais” e que, ao fim do estudo, “fornecerá acesso ao relatório completo do ensaio”. Os resultados de fase 1 e 2 estão disponíveis em artigo no periódico The Lancet. Até agora, há dados publicados de testes com 76 voluntários nas fases 1 e 2, mais os 20 infectados na análise interina da fase 3. A título comparativo, a vacina de Oxford incluiu mais de mil indivíduos na fase 2, e a da Pfizer divulgou sua análise interina com 64 casos confirmados de Covid-19.

Só vale ressaltar que as comparações entre as vacinas ainda têm pouca aplicação prática. No fim das contas, o que valerá mesmo é a conclusão da fase 3. Ou ao menos a divulgação da íntegra dos dados para apreciação de cientistas não envolvidos com o desenvolvimento do imunizante. Esse, aliás, é outro ponto fraco do anúncio da Sputnik V. A análise interina foi realizada pelo próprio Gamaleya – no caso da Pfizer, um comitê independente examinou os dados.

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A vacina russa pode chegar ao Brasil?

O governo do estado do Paraná firmou parceria para trazer os testes da Sputnik V para esse lado do globo, mas ainda não submeteu o protocolo para as autoridades de saúde nacionais. O contrato também garante a fabricação da vacina no país. Já a Bahia fez acordo para comercializar 50 milhões de doses em território nacional.

Os russos afirmam ter recebido pedidos de compra de mais de 1,2 bilhão de doses por 50 países. Os acordos com parceiros internacionais permitirão a produção de outras 500 milhões de doses ao ano fora da Rússia. Mas tudo depende, é claro, da aprovação da vacina e dos resultados fase 3.

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