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Um novo pacto para acabar com as doenças tropicais negligenciadas

Plano global prevê eliminar enfermidades causadas por parasitas e mais comuns em regiões vulneráveis até 2030. Conversamos com uma das líderes dessa missão

Por Diogo Sponchiato
22 fev 2022, 19h23
doenças tropicais negligenciadas
Parcela expressiva das doenças tropicais negligenciadas é transmitida por mosquitos.  (Ilustração: Nik Neves/SAÚDE é Vital)
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Tracoma, oncocercose, filariose, leishmaniose… Esses nomes podem parecer grego ou remeter a moléstias de um passado muito distante. No entanto, são exemplos de doenças tropicais negligenciadas (DTNs), um martírio de saúde pública que continua castigando 1,7 bilhão de pessoas pelo planeta, 10 milhões delas só no Brasil.

As DTNs, cuja lista de males ainda inclui de verminoses intestinais a doença de Chagas, são mais frequentes em regiões sem acesso a boas condições de moradia, higiene e saúde. Se deixam de ser detectadas e tratadas a tempo, costumam gerar sequelas significativas, quando não encurtam a própria expectativa de vida.

Em comum, essas enfermidades são provocadas por algum tipo de micróbio ou parasita. Um pequeno glossário ajuda a entender e visualizar as ameaças:

  • Tracoma: infecção bacteriana que pode levar à cegueira;
  • Oncocercose: causada por um verme transmitido por mosquitos, compromete os olhos e a pele;
  • Filariose: também conhecida como elefantíase, vem de um um verme disseminado por mosquitos e desata inchaços e deformações nos membros;
  • Leishmaniose: é fruto de um protozoário que pega carona em mosquitos e está por trás de lesões na pele e em outros órgãos;
  • Chagas: obra de um protozoário transmitido pelo inseto barbeiro e pela contaminação de alimentos como açaí, afeta marcadamente o coração;

+ Leia também: Os desafios para vencer a Doença de Chagas

Todas essas moléstias, e outras mais, são o alvo de um pacto ambicioso firmado pela União de Combate às DTNs e renovado, com a assinatura de líderes globais, pela Declaração de Kigali (Ruanda). A meta é botar um ponto final nessas doenças até 2030.

De acordo com Thoko Elphick-Pooley, diretora da entidade, há duas estratégias principais em curso: oferecer acesso a tratamento às vítimas e eliminar os fatores que limitam ou impedem a prevenção, como falta de água potável e saneamento básico.

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Trata-se de uma empreitada que demanda recursos e o envolvimento ativo dos governos de cada país, de parceiros do setor privado e de filantropos. Da Inglaterra, onde está baseada hoje, Thoko explica na entrevista abaixo a dimensão dos desafios e o que precisa ser levado em consideração para cumprir os objetivos da Declaração de Kigali.

foto da entrevistada
Thoko Elphick-Pooley, diretora da União de Combate às DTNs. (Foto: Divulgação/SAÚDE é Vital)
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VEJA SAÚDE: Como viabilizar o suporte às pessoas que sofrem com as doenças tropicais negligenciadas hoje?

Thoko Elphick-Pooley: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,7 bilhão de pessoas necessitam de pelo menos um tratamento contra uma DTN. A maioria daquelas que precisam desse suporte corre o risco de adoecer por vermes intestinais e/ou filariose linfática.

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Temos que atender quem precisa. Fornecer tratamento em massa para populações em risco é uma estratégia fundamental e tem levado a eliminação de algumas doenças. Por exemplo: as Américas estão prestes a erradicar a oncocercose, doença cuja zona de transmissão ativa remanescente é a Área Yanomami, na fronteira entre a Venezuela e o Brasil.

Felizmente, a maioria dos medicamentos necessários para tratar e prevenir DTNs são doados gratuitamente pelas indústrias farmacêuticas.

Como criar um ambiente menos vulnerável a essas moléstias?

É preciso realizar um trabalho de prevenção e eliminação dos fatores que provocam essas doenças em primeiro lugar, caso da falta de acesso a água potável, saneamento e boa moradia.

A maioria das DTNs, como tracoma, sarna, verminoses intestinais, leishmaniose e Chagas, é causada pela falta de acesso a serviços básicos. Serão necessárias, portanto, parcerias multissetoriais para melhorar os padrões de vida das comunidades afetadas, que estão entre as mais pobres da sociedade.

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Qual é o papel dos governos dentro do pacto de erradicação das DTNs?

Os países são os motores e os beneficiários desse progresso. Devem definir agendas que concretizem seus objetivos e fortalecer os sistemas de saúde para possibilitar a prestação de serviços às comunidades atingidas pelas DTNs, financiados parcial ou totalmente por fundos nacionais.

Esse é um princípio essencial por trás da nova Declaração de Kigali, uma declaração política de alto nível com a meta de mobilizar a vontade política e garantir compromissos para acabar com as DTNs.

O que pode fazer parte da cadeia de cuidados para sedimentar e alargar as conquistas nessa área?

A OMS identificou várias abordagens que podem facilitar o cumprimento desse novo roteiro de combate às DTNs. Elas incluem melhor acesso a monitoramento, avaliação e diagnóstico, incrementos na logística e no fornecimento de medicamentos e outros produtos, fortalecimento da capacidade de defesa e financiamento da causa…

Serão necessários recursos para garantir que as metas sejam alcançadas e, por isso, pedimos aos governos, aos parceiros do setor privado e aos filantropos que estejam 100% comprometidos com o fim das doenças tropicais negligenciadas.

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