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Black das Blacks: Veja Saúde com preço absurdo

Tirzepatida: como saber se é falsa e como não cair em ciladas

Ação da PF expôs rede de Mounjaro clandestino; aprenda a se proteger

Por Layla Shasta
Atualizado em 27 nov 2025, 17h48 - Publicado em 27 nov 2025, 17h48
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Tirzepatida (princípio ativo do Mounjaro) manipulada pode trazer riscos à saúde, segundo entidades médicas. Só o original tem estudos garantindo eficácia e segurança (Eli Lilly/Divulgação)
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A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira (27) uma ação contra profissionais da saúde, clínicas e laboratórios suspeitos de fabricar ilegalmente medicamentos para emagrecimento.

De acordo com a PF, os investigados na chamada “Operação Slim” estariam manipulando a tirzepatida, substância usada no Mounjaro, um dos novos remédios mais procurados para perda de peso, sem autorização, sem pagar direitos de patente e ignorando normas sanitárias.

Foram expedidos 24 mandados de busca e apreensão. Entre os bens de alto valor já confiscados do grupo criminoso estão carros de luxo, relógios sofisticados e até aviões registrados em nome de laranjas ligados ao esquema.

O caso exemplifica como a explosão de interesse por medicamentos injetáveis usados no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2, chamados popularmente de “canetas emagrecedoras“, abriu espaço para um mercado paralelo que movimenta muito dinheiro e oferece riscos reais à saúde.

Para especialistas, na esteira desse movimento estão consequências perigosas: qualquer frasco ou caneta injetável fabricado nesses esquemas pode conter doses erradas, substâncias desconhecidas e até contaminantes.

Por que isso importa

A tirzepatida original é produzida em ambientes altamente controlados, com etapas rígidas de purificação. Como um análogo do GLP-1 e do GIP, essa medicação advém de uma uma molécula complexa e sua manufatura precisa de esterilidade, pureza e boa conservação térmica (condições que poucos locais são capazes de fornecer).

“Esse é o grande problema: quando não se usa a versão original do medicamento, há risco de falta de pureza, de contaminação com outros compostos e, principalmente, de adulteração”, destaca o endocrinologista Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

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Entre as principais ciladas envolvendo esses medicamentos estão produtos falsificados, frascos sem registro sanitário, “genéricos” que não existem, protocolos duvidosos vendidos por médicos picaretas e outras fraudes. No centro do debate, há ainda a disputa entre profissionais de diferentes áreas da saúde, atualmente não habilitados a prescrever, que tentam entrar nesse novo mercado.

Já foram encontrados esquemas de venda ilegal até em salões de cabeleireiro.

+Leia também: Remédios manipulados para obesidade: o risco oculto da decisão da Anvisa

Armadilhas mais comuns e como driblá-las

A tirzepatida foi desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Eli Lilly and Company, que conduziu estudos de fase 1, 2 e 3 que levaram à aprovação do medicamento para diabetes tipo 2 (Mounjaro) e obesidade (Zepbound).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconhece exclusivamente a Eli Lilly como fabricante do princípio ativo e dos medicamentos originais que o contêm.

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Isso significa que não existe tirzepatida manipulada, genérica ou produzida por outras marcas. Segundo especialistas, qualquer oferta fora desse escopo é irregular e potencialmente perigosa. Dito isso, confira a seguir como se proteger:

1. Não compre versões manipuladas ou “alternativas”

Não é permitido vender Mounjaro em farmácias de manipulação e afins. Macedo reforça que versões manipuladas apresentam três grandes problemas: falta de esterilidade e pureza, risco de contaminação e adulteração, e ausência total de estudos de segurança e eficácia.

Além de não serem avaliados e aprovados pela Anvisa, medicamentos manipulados não são testados para confirmar sua segurança ou eficácia, e têm controle de qualidade menos rigoroso que os medicamentos originais.

2. Fuja de ofertas em redes sociais

As redes sociais estão cheias de anúncios de tirzepatida com preços atrativos, entrega rápida e supostas “promoções exclusivas”. No entanto, a Eli Lilly aponta, em documento oficial, que nunca vende o medicamento por esses canais. “Caso você se depare com alguma opção de compra, saiba que é ilegal”, diz a farmacêutica em carta aberta sobre o assunto.

Postagens, vídeos e anúncios que oferecem o remédio sem receita médica também são irregulares. A Anvisa não permite anúncios diretos ao público em geral para medicamentos vendidos com prescrição médica.

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3. Venda em consultórios e clínicas é proibida

Nenhum médico pode comercializar medicamentos dentro do consultório. O Código de Ética do Conselho Federal de Medicina (CFM) não permite que profissionais médicos ou clínicas comercializem medicamentos em sua prática privada devido a conflitos de interesse.

“Mas, infelizmente, existem clínicas vendendo aplicações e protocolos, inclusive caríssimos”, lamenta Macedo. Segundo o endocrinologista, a prática costuma estar ligada à venda casada, monetização e bonificação dos prescritores.

Portanto, se a clínica oferece pacotes de emagrecimento com aplicações prontas, dentro do próprio consultório, e “protocolos exclusivos”, isso já é um alerta vermelho.

4. Tirzepatida do Paraguai é igual a do Brasil?

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Não. No Paraguai, circula uma ampla variedade de opções de canetas emagrecedoras que não são aprovadas no Brasil, e que podem ser adquiridas sem grandes entraves. Assim, pessoas têm cruzado a fronteira em busca de versões mais baratas das canetas.

No entanto, apesar da existência dessas fábricas, Macedo destaca que elas não seguem os mesmos protocolos rigorosos exigidos pela Anvisa e não obedecem à lei das patentes. “Aqui no Brasil, a medicação ainda está sob detenção da patente da empresa que pesquisou o medicamento, que é a Eli Lilly”, diz.

Nesse sentido, a farmacêutica norte-americana reforça que “qualquer medicamento à base de tirzepatida, diferente da versão original, não passou por estudos clínicos que embasam seu perfil de eficácia e segurança, tampouco sua qualidade foi avaliada e aprovada pela Anvisa”, diz em carta.

+Leia também: Mounjaro do Paraguai: entenda os riscos de canetas emagrecedoras sem regulamentação

5. Onde comprar com segurança

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Compre em grandes redes ou farmácias regulares, mediante receita controlada. Evite compras pela internet, em marketplaces, grupos de WhatsApp, perfis de Instagram ou lojas duvidosas.

Prescrição por profissionais que não médicos

Entre as polêmicas envolvendo a questão, está a dúvida sobre quais profissionais podem receitar o medicamento. A decisão da Anvisa, em outubro, de autorizar a prescrição do Mounjaro para tratar a apneia obstrutiva do sono (AOS) levantou polêmica e abriu uma brecha para os dentistas.

Como a apneia também é acompanhada por especialistas da odontologia, abriu-se a possibilidade de eles recomendarem o medicamento. O Conselho Federal de Odontologia (CFO), contudo, faz algumas ressalvas. O órgão lembra que a prescrição deve respeitar os limites éticos da área e sempre priorizar a segurança do paciente.

Além disso, reforça que os dentistas só estão autorizados a indicar a tirzepatida em casos em que a apneia esteja diretamente ligada à obesidade, condição que exige, por definição, acompanhamento médico.

Já a Sbem considera que dentistas não deveriam prescrever medicamentos sistêmicos para tratar apneia. A entidade demonstra preocupação com os potenciais riscos dessas terapias.

“A legislação permite que o odontólogo trate a apneia do sono, mas dentro de um contexto em que o médico acompanha o processo. Cada profissional deve atuar na sua área”, avalia Macedo.

“O odontólogo pode melhorar diversas questões, mas a falha é que, como eles podem legalmente prescrever qualquer remédio, acabam prescrevendo mesmo sem capacitação. Há muitos riscos envolvidos nesse processo”, disse.

No fim das contas, diante de um cenário que combina demanda explosiva, lacunas regulatórias, disputas profissionais e ações criminosas, especialistas reforçam que a melhor proteção ainda é a informação.

Medicamentos como a tirzepatida são ferramentas importantes no tratamento de doenças crônicas, mas exigem acompanhamento adequado, prescrição responsável e compra em vias oficiais.

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