Sífilis: o que é, estágios, sintomas e tratamentos
Essa infecção sexualmente transmissível é capaz de gerar graves consequências à saúde. Mas a prevenção, o diagnóstico e o tratamento da sífilis são simples
A sífilis é uma infecção bacteriana comumente transmitida através de relações sexuais desprotegidas ou de mãe para filho durante a gestação. A condição pode provocar um conjunto de diferentes sintomas, incluindo problemas de pele, distúrbios neurológicos e impactos para o coração.
A doença se manifesta em três estágios principais, sendo os dois primeiros conhecidos pelas suas características mais marcantes e também pelo maior risco de transmissão entre pessoas.
O diagnóstico geralmente é realizado a partir de teste rápido disponível nos em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). A infecção é curável e o tratamento envolve a penicilina benzatina (também chamada de benzetacil).
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O que é a sífilis
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Além do contágio por relação sexual, ela também pode ser passada adiante pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou da mãe para o bebê, durante a gestação ou o parto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ocorram 6 milhões de casos no mundo todos os anos. O infectologista Álvaro Furtado Costa, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que a doença é especialmente incidente em alguns subgrupos específicos: homens que fazem sexo com homens, pessoas transexuais e usuários de drogas injetáveis.
“Qualquer um que faça sexo sem proteção pode pegar. Mas o maior desafio no mundo é diminuir a incidência nessas populações-chave”, acrescenta o médico, que atua no Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo.
Tipos de sífilis
Os sintomas de sífilis dependem do estágio no qual ela se encontra.
● Sífilis primária: “Começa com uma lesão no local de entrada da bactéria. Pode ser na genitália, na boca ou no ânus”, relata Costa. Só que é uma ferida que não dói nem coça – por isso, passa despercebida na maioria das vezes. Ela surge entre 10 e 90 dias após o contágio.
● Sífilis secundária: “Se a primária não for tratada, a T. pallidum ganha a corrente sanguínea e entra em várias estruturas do organismo”, informa o infectologista. A fase secundária, que surge de seis semanas a seis meses depois da cicatrização da ferida inicial, se manifesta através de manchas na pele do corpo todo. Elas também não coçam nem ardem.
● Sífilis latente: “Quando o paciente passa das fases primária e secundária sem perceber e cuidar dos sintomas, a doença entra em um estágio assintomático”, aponta o especialista. O tempo de duração varia de pessoa para pessoa.
● Sífilis terciária: a última e mais grave etapa ocorre quando a bactéria começa a afetar o cérebro, o coração e os ossos, gerando graves lesões no organismo. Ela demora até quarenta anos para se manifestar dessa forma.
● Sífilis congênita: é o nome dado para a infecção quando transmitida da mãe para o bebê. Nesses casos, a criança nasce com má formação, cegueira, surdez ou deficiência mental. É possível ainda que a mulher sofra um aborto ou que o feto venha a óbito durante a gestação ou o parto.
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Como funciona o diagnóstico
Para detectar a sífilis, basta realizar um exame de sangue. O Sistema Único de Saúde (SUS) também oferece um teste rápido, para o qual não é preciso de pedido médico e que é feito com uma quantidade bem menor de sangue – basta um simples furo no dedo.
“O resultado sai em apenas 30 minutos. O teste está disponível em Unidades Básicas de Saúde e Centros de Referência”, conta o profissional.
O ideal é que todos os parceiros do indivíduo diagnosticado também investiguem se têm a doença. “Esse é um dos maiores obstáculos no combate à enfermidade no mundo. Nós não conseguirmos fazer a notificação dessas parcerias rapidamente e, como consequência, não tratamos todos. Por isso a cadeia de transmissão não é quebrada”, lamenta Costa.
Já as gestantes realizam qualquer um dos dois exames durante o pré-natal para evitar as consequências da doença na gravidez. O exame é solicitado duas vezes: no primeiro e no terceiro trimestre.
Sífilis tem cura? Conheça o tratamento
A sífilis tem, sim, cura. Assim como o diagnóstico, o tratamento é simples. “Usamos uma injeção de penicilina intramuscular, um antibiótico milenar e amplamente disponível na rede pública”, informa o expert. A quantidade de doses varia de acordo com a etapa da IST. Para a primária, é feita apenas uma aplicação. Já a secundária exige até três.
Por outro lado, como na terciária a T. pallidum chegou em várias estruturas do organismo, o paciente precisa ser internado e tomar o medicamento por duas semanas direto na veia. Ah, e a penicilina é liberada para as grávidas e os bebês diagnosticados.
Costa lembra que quem pega a T. pallidum não se torna imune a ela. Portanto, é essencial se proteger para não sofrer uma reinfecção.
Como prevenir
As únicas formas de prevenção são não compartilhar agulhas e usar camisinha. O infectologista relata que essa é mais uma dificuldade no enfrentamento à doença.
“Não existe vacina nem medicação profillática [capaz de evitar o contágio]. Temos que nos apoiar exclusivamente no uso de preservativo e sabemos que as pessoas têm dificuldade para utilizá-lo seja na penetração, seja no sexo oral ou anal”, comenta.
Costa revela que estão sendo realizadas pesquisas em busca de novas formas de prevenção. Porém, nenhuma está em fase tão avançada. Ainda há um longo caminho para percorrer. A camisinha segue como a melhor solução.
A sífilis no Brasil
A notificação compulsória de sífilis adquirida em nosso país é feita desde 2010. Até hoje, infelizmente, o número de casos não para de subir.
De 2012 a 2022, foram notificados no país 1,2 milhão de casos de sífilis adquirida e mais de 537 mil infecções em gestantes. No período, também foram computados mais de 238 mil registros de sífilis congênita, com 2,1 mil óbitos de crianças. Os dados são do mais recente boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde.
Somente em 2022, foram notificados no país 213 mil casos de sífilis adquirida (taxa de detecção de 99,2 casos/100.000 habitantes). Em gestantes, foram mais de 83 mil notificações, com 26 mil infecções congênitas e 200 óbitos infantis.
De acordo com o ministério, houve aumento crescente na taxa de detecção em toda a série histórica, exceto em 2020, quando foi observado um declínio, provavelmente devido à redução da capacidade diagnóstica durante a pandemia de Covid-19.
Costa acredita que, fora os desafios enfrentados no mundo como um todo, a IST não consegue ser freada no nosso país por falta de objetividade nas ações do governo.
“Há um tempo, lançaram um dia de combate contra a sífilis, mas não há medidas mais certeiras. Isso realmente nos preocupa, porque não se vê um planejamento claro do Ministério da Saúde sobre a prevenção”, conclui.