Serotonina: o que é e como aumentar o “neurotransmissor da felicidade”
O neurotransmissor está ligado não só ao humor, mas a uma série de funções do organismo

A sensação de de bem-estar é muito associada aos efeitos da serotonina. Embora conhecida como o “hormônio da felicidade”, ela é na verdade um neurotransmissor relacionado com o nosso humor e uma diversidade de funções.
Os baixos níveis da substância no organismo estão relacionados a transtornos mentais, como a depressão. A alimentação, atividade física e até mesmo exposição à luz do sol podem ajudar a aumentar os níveis de maneira natural.
Entenda o que é, como funciona a serotonina e sua importância para o corpo humano.
O que é serotonina?
A serotonina é um neurotransmissor que ajuda na comunicação entre os neurônios. No sistema nervoso central, é responsável por regular diversas funções, como humor, sono, cognição e apetite.
No entanto, ela não atua apenas no cérebro. Grande parte de sua produção ocorre no sistema digestivo, onde também regula funções como a digestão e trânsito intestinal.
“Ela tem um papel crucial na manutenção do equilíbrio emocional e na prevenção de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Quando os níveis de serotonina estão desregulados, pode haver implicações severas na saúde mental. Assim, muitos antidepressivos visam aumentar sua disponibilidade no cérebro”, explica o médico psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein.
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Como ela é fabricada
A produção começa com o triptofano, aminoácido presente em alguns alimentos, como banana, ovo, leite, queijo e chocolate amargo. Ele é absorvido pelo corpo e transformado em serotonina por neurônios especializados no cérebro e por células do sistema digestivo.
Após a sua produção, a serotonina permanece armazenada dentro do neurônio em pequenas vesículas chamadas vesículas sinápticas.
“Quando recebe um estímulo nervoso, o neurônio libera estas vesículas com serotonina no espaço de comunicação com outro neurônio, que chamamos de fenda sináptica. A serotonina se liga nos receptores de serotonina do próximo neurônio, transmitindo adiante informações essenciais”, detalha Kanomata.
Após esse processo, parte da substância é reabsorvida pelo neurônio original para ser reutilizada. Nesse contexto, temos os inibidores de recaptação de serotonina, medicamentos frequentemente chamados de “antidepressivos” ou “ansiolíticos”.
“Em outras palavras, são remédios que impedem que a serotonina retorne para dentro do neurônio, aumentando a sua disponibilidade entre os neurônios. Isso, consequentemente, leva a uma ativação prolongada dos receptores, o que teoricamente restitui o equilíbrio das funções antes desreguladas”, explica o psiquiatra.
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Como a serotonina atua no organismo?
A serotonina atua sobre várias funções fisiológicas e psicológicas.
“No cérebro, ela participa da regulação do humor, sono, apetite e funções cognitivas, além de estar associada a distúrbios neuropsiquiátricos como depressão e ansiedade”, afirma a neurologista Viviane Felici, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
No sistema digestivo, a serotonina é responsável pela movimentação do intestino. E também participa da comunicação entre o eixo intestino-cérebro.
“Além disso, ela influencia na sensação de saciedade, no ciclo do sono e na percepção da dor”, acrescenta Felici.
Quais são os sinais de serotonina baixa?
A baixa de serotonina pode ser provocada por vários fatores, como estresse crônico, falta de sono, alimentação inadequada, sedentarismo, predisposição genética e alguns distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade.
“O uso excessivo de substâncias como álcool e drogas também pode impactar negativamente os níveis. Antes de qualquer conclusão, é fundamental consultar um médico para uma avaliação adequada e indicação do tratamento correto”, pontua Felici.
Níveis baixos levam a diversos sinais no nosso corpo. Por parte do sistema nervoso central, pode-se esperar uma desregulação em diferentes âmbitos.
“No humor, encontramos sintomas ansiosos, tristeza, desânimo, irritabilidade. O sono pode apresentar problemas como dificuldade para dormir e sonolência excessiva. Pode haver ainda aumento ou queda de apetite, além de dificuldade de foco, perda de concentração e esquecimento”, elenca Kanomata.
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Serotonina alta demais também é ruim
O aumento excessivo de serotonina no cérebro pode ocorrer pelo uso abusivo de medicamentos que aumentam a liberação desse neurotransmissor, como antidepressivos, principalmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, e drogas psicoestimulantes.
“Isso pode levar a um quadro raro chamado síndrome serotoninérgica, que causa alteração do estado mental, rigidez e espasmos musculares. A situação pode ser perigosa e exige tratamento imediato. Por isso, qualquer uso de remédios que afetem os níveis de serotonina deve ser feito sob orientação médica”, destaca Felici.
As manifestações podem ser leves, como inquietação, irritabilidade, tremores e dor de cabeça, ou graves e com risco à vida, como hipertensão arterial, arritmia cardíaca, aumento da temperatura corporal, convulsão e coma.
Como são avaliados os níveis de serotonina no organismo?
A avaliação dos níveis de serotonina costuma ser feito de modo subjetivo pelo médico através de uma avaliação clínica dos sintomas, estilo de vida uso de medicações e histórico do paciente.
Apesar de ser possível medir pelo sangue, esse exame tem pouca aplicação prática porque a serotonina circulante não reflete diretamente os níveis cerebrais.
“Geralmente, não são feitos exames de sangue, líquor ou imagem, devido à complexidade de estimar a quantidade exata desse neurotransmissor no cérebro, onde ele exerce sua maior função. Por isso, o acompanhamento com um profissional de saúde é fundamental para uma análise adequada”, afirma Felici.
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Como aumentar a serotonina?
A elevação da serotonina no sistema nervoso central pode ocorrer principalmente por meio do crescimento da disponibilidade de precursores da substância, no caso o triptofano. O mesmo ocorre ainda pela redução da recaptação da serotonina ou aumento da sua liberação, comumente ocasionado por medicamentos.
“De forma mais simples, isso pode ser feito pelo uso de compostos que favoreçam a disponibilidade de serotonina e por meio da ingestão de alimentos ricos em triptofano: carnes de forma geral, ovos, laticínios, castanhas, sementes, leguminosas e cacau”, explica Kanomata.
Medidas comportamentais também podem favorecer o equilíbrio de todo esse sistema complexo, como a prática de atividade física, boas noites de sono e técnicas de relaxamento.
“A adoção de um estilo de vida saudável é essencial para manter os níveis de serotonina em equilíbrio e promover bem-estar físico e mental”, conclui o psiquiatra.