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Semaglutida: tudo sobre o novo remédio disponível para obesidade

Anvisa aprovou a venda do medicamento, que será encontrado com o nome comercial de Wegovy; com ele, participantes de estudo perderam até 17% do peso

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 6 jan 2023, 15h59 - Publicado em 6 jan 2023, 15h59
wegovy
A obesidade é uma doença crônica em ascensão no mundo, cujo controle depende não só de medicamentos. (VEJA Saúde/SAÚDE é Vital)
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente o medicamento Wegovy (semaglutida) para o tratamento da obesidade. Trata-se de uma injeção de uso semanal que ajuda a controlar a fome e promove uma redução expressiva no peso corporal. 

A liberação foi recebida com entusiasmo pelos especialistas. “É o que há de mais eficaz no momento em matéria de medicamentos”, comenta o endocrinologista Marcio Krakauer, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). 

Nos estudos pré-aprovação, já publicados em grandes periódicos, a droga levou a uma perda de 15 a 17% do peso corporal. A título de comparação, os grupos que receberam o placebo (um fármaco “de mentirinha”) eliminaram cerca de 3%, e os remédios disponíveis hoje promovem, no melhor dos casos, uma queda de 9% no peso. 

É importante ressaltar, contudo, que os participantes desses estudos também fizeram ajustes na alimentação e aderiram a programas de atividade física. “O medicamento não é uma solução final, mas uma ferramenta dentro de um tratamento completo, com acompanhamento multidisciplinar”, ressalta Krakauer. 

+ Leia também: Novos rumos para a perda de peso

A semaglutida está indicada para indivíduos com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 ou acima de 27 com doenças associadas ao excesso de peso, como diabetes e cardiopatias. Ainda não há data definida para que a substância chegue ao mercado.

Uma nova versão 

O efeito expressivo da semaglutida no peso corporal não é uma novidade para os médicos: ele já havia sido demonstrado em diversos estudos anteriores.

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O medicamento vem sendo prescrito há algum tempo no tratamento da diabetes (o uso com esse objetivo já estava aprovado no Brasil) e de maneira off-label (fora da indicação da bula) para a própria obesidade.

Até então, era comercializado na forma oral, chegando a uma dose de até 14 mg, de uso diário, ou, então, uma injeção de até 1 mg. O que muda agora é a indicação na bula com o aval da Anvisa, e em uma nova formulação, de 2,4 mg do princípio ativo. 

“É uma caneta diferente que, com uma aplicação, atinge a dosagem necessária para o efeito semanal”, aponta o endocrinologista Ricardo Barroso, diretor da Sbem-SP. 

Mecanismo de ação 

A semaglutida pertence à classe dos análogos de GLP-1, hormônio produzido pelo próprio organismo, no intestino. “Ele atua numa região do cérebro chamada hipotálamo, regulando o apetite e promovendo saciedade”, explica Priscila Mattar, diretora médica da Novo Nordisk, que produz o medicamento. 

Com a fome sob controle, o indivíduo come menos. A semaglutida tem 94% de homologia – isto é, semelhança – com o nosso GLP-1, e se conecta melhor aos receptores cerebrais onde ele atua. 

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Tamanha tecnologia dentro de uma injeção é bem-vinda no arsenal contra uma das doenças em maior ascensão no planeta. Entretanto, o preço, ainda a ser definido pela Anvisa, deve dificultar o acesso para a maioria da população. Nos Estados Unidos, para ter ideia, o tratamento sai por cerca de R$ 6 mil ao mês

Outro medicamento da mesma categoria já aprovado no Brasil, o Saxenda (liraglutida), tem ação semelhante, mas deve ser aplicado diariamente, ao custo de cerca de R$ 600 por embalagem com três doses. 

Como o remédio deve ser tomado e quais os efeitos colaterais

Antes de tudo, é preciso receber indicação médica. “O papel do princípio ativo é inibir a fome, mas muitas pessoas não comem por falta de saciedade, e sim por ansiedade, compulsões, transtornos psiquiátricos… Nesse caso, a medicação pode não ser tão efetiva”, esclarece Krakauer. 

+ Leia tambémA saciedade como uma resposta para os desafios atuais

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O tratamento é feito de maneira progressiva, começando com a dose mais baixa, de 0,25 mg. “Isso é necessário para a adaptação do organismo, porque o remédio também altera o funcionamento do intestino, podendo levar a náuseas, refluxo e constipação”, comenta Barroso. 

A questão da mudança de hábitos é importantíssima. “Se a alimentação não melhora, é provável que a pessoa tenha mais efeitos colaterais e ganhe o peso de volta rapidamente”, ressalta Barroso. 

Como a obesidade é considerada uma doença crônica, não há um prazo definido para o fim das picadas. “Tudo vai depender de como a pessoa se sairá nesse período e a quantidade de peso que ela precisa perder”, diz Krakauer.  

Substituto da bariátrica?  

A classe dos análogos de GLP-1, como a semaglutida e a liraglutida, tem demonstrado resultados tão bons que se vislumbra um futuro onde elas substituam a cirurgia bariátrica em certas situações. 

“Outra molécula semelhante, recém-aprovada nos Estados Unidos, alcança 25% de redução de peso. Então, espera-se que a categoria poderá eliminar a necessidade de operar muitos pacientes”, aponta Krakauer. 

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A intervenção cirúrgica promove um emagrecimento que chega a 50% do peso, dependendo do caso e da técnica escolhida. Essa opção poderia ficar reservada, por exemplo, aos quadros mais severos de obesidade ou aos indivíduos que respondem pior à medicação. 

Remédio não faz milagre…

… E nem deve ser usado por conta própria. “Em primeiro lugar, perder peso só porque não se está comendo nada não é algo saudável”, alerta Krakauer. 

Sem o combo atividade física e dieta, o indivíduo tende a perder não só gordura, mas também massa magra, o que é prejudicial à saúde e ao próprio processo de emagrecimento. Além disso, a tendência é que a perda de peso não se sustente a longo prazo. 

Por fim, a obesidade é uma doença crônica, cujo controle envolve não apenas medicamentos, mas acompanhamento de nutricionista, educador físico e, não raro, psiquiatras e psicólogos. 

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