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“Se saúde digital não for bem implementada, pode piorar atendimento”

Em entrevista exclusiva, CEO de entidade internacional discute aprendizados da Covid-19 e como superar desafios para que a tecnologia alcance a todos

Por Chloé Pinheiro
18 Maio 2021, 18h20

É chover no molhado dizer que a digitalização da saúde se tornou mais evidente (e urgente) do que nunca com a pandemia de Covid-19. Levante a mão aí quem não trocou uma receita com o médico por SMS, contou com a telemedicina ou usou um aplicativo para monitorar a qualidade do sono

Os exemplos são vários e o aumento de demanda e oferta é visto como positivo. Mas fica uma questão: como garantir qualidade de atendimento e a inclusão de todos nesse novo mundo? Fizemos essa (e outras) perguntas à Peter Lachman, CEO da Internacional Society for Quality in Health Care (ISQua).

Lachman é um dos destaques do Digital Journey by Hospitalar, evento digital realizado pela maior feira do setor de saúde do Brasil, que acontece até dia 20. Veja como foi a conversa:

VEJA SAÚDE: Escutamos muito sobre como tecnologias digitais mudaram a assistência em saúde durante a pandemia de Covid-19. Como manter a qualidade e a segurança do atendimento diante da explosão da demanda?

Peter Lachmann: Saúde digital não é um conceito novo. Na verdade, acaba de atingir sua maioridade. O problema é que ele não foi introduzido de um jeito racional ou lógico. Agora temos uma oportunidade de melhorar isso, observando o que funcionou e o que deu errado durante a pandemia. Há um crescente número de estudos sendo publicados sobre aspectos da saúde digital. Com eles, avançaremos no desenvolvimento de padrões de segurança e qualidade para hardwares, softwares e aplicações, além de ter processos específicos de auditoria e acreditação.

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Também é preciso facilitar a interoperabilidade [comunicação entre os dados de sistemas de empresas distintas; por exemplo, um hospital e um convênio] e assegurar que todas as informações sobre saúde sejam precisas e constantemente atualizadas. Não podemos perder de vista, contudo, que soluções digitais são apenas ferramentas de uma cultura de qualidade e segurança, com o propósito maior de fornecer alta qualidade, cuidado centrado em pessoas e cobertura de saúde universal. Do contrário, serão apenas ferramentas caras.

Por fim, destaco a importância de considerar o fator humano em cada etapa do design e na implementação de qualquer solução. Pacientes e profissionais devem ser treinados em como receber e dar cuidado de um jeito novo.

Quais fraquezas dos sistemas de saúde foram trazidos à luz pela pandemia?

A maioria dos países não estava preparada o suficiente para algo nessa escala. Países que responderam bem, como Coreia do Sul e Taiwan, haviam aprendido com pandemias anteriores, o que permitiu uma ação imediata. A Nova Zelândia tinha ainda outra vantagem: o fato de ser remota, o que permitiu fechar as ilhas.

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Em todos os outros países, faltaram planos de resposta. Falhamos tanto em comunicar quanto em aprender rápido. Decisões difíceis tiveram que ser tomadas, não só sobre saúde, mas também na economia. Se a resposta tivesse sido mais rápida, muitas vidas poderiam ter sido salvas.

Fora isso, de modo geral os sistemas de saúde não conseguiram continuar os serviços habituais por falta de pessoal, equipamentos e infraestrutura física – e isso terá um impacto de longo prazo na população. Não obstante, os profissionais de saúde ao redor do mundo realizaram um trabalho heroico em manter serviços e tratar infectados – uma verdadeira demonstração de dedicação e coragem.

Como a transformação digital pode melhorar a qualidade do atendimento em saúde?

Ela é um facilitador do cuidado centrado em pessoas e amplia o acesso à assistência. O uso de wearables [os dispositivos vestíveis que monitoram aspectos da saúde], a telemedicina e o compartilhamento desses dados com o paciente tem potencial para melhorar a transparência e o próprio prognóstico da pessoa.

Contudo, se a transformação digital não for bem implementada, pode piorar a qualidade e a segurança do atendimento. Para que isso não aconteça, deve ser utilizada de uma maneira que reconheça as desigualdades estruturais dos sistemas de saúde e da sociedade no geral.

Temos também um impacto positivo no clima do planeta, porque a implementação de soluções digitais reduz o uso de carbono e outros recursos naturais. A maioria das intervenções possíveis no âmbito digital é mais amigável ao meio ambiente.

Como falar sobre transformação digital e tecnologias de ponta em um país como o Brasil, onde uma parte significativa da população não é educada digitalmente ou tem acesso à internet de qualidade?

Acesso à internet é o novo determinante social de saúde, e será o fator limitante à disseminação da saúde digital sustentável. Se isso for reconhecido desde já, então a implementação de grandes projetos pode ser feita de maneira planejada.

Precisamos ter soluções de saúde de qualidade disponíveis nos smartphones, o que requer duas grandes mudanças. Primeiro: reduzir o preço dos aparelhos. Segundo: incrementar as redes de banda larga, desenvolver projetos de wi-fi de graça nas cidades e iniciativas específicas para áreas remotas.

Sobre a educação, o melhor jeito é simplificar as mensagens, e nesse sentido temos bons exemplos dos bancos e outras indústrias que já digitalizaram seus serviços. Saúde digital deveria ser ensinada nas escolas para preparar de antemão as gerações mais jovens.

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Como a personalização do atendimento em saúde evoluiu nos últimos anos, diante dos avanços tecnológicos? Você pode nos dar alguns exemplos? E o que destacaria como principais tendências da saúde digital?

Muitas inovações recentes fazem a diferença na personalização do cuidado. A saúde digital já mudou a maneira como nos consultamos, guardamos registros, pedimos exames e compartilhamos seus resultados.

Agora, podemos revolucionar o diagnóstico de doenças complexas, com machine learning [aprendizado de máquina, técnica em que o computador é alimentado com dados para descobrir como resolver um problema] e inteligência artificial. Ainda conseguimos monitorar sinais vitais e doenças crônicas como diabetes em tempo real, com tecnologias como os já mencionados wearables, o biomonitoramento e até mesmo “tatuagens de rastreamento”, que estão em desenvolvimento.

Em suma, é possível oferecer soluções digitais para toda a jornada do paciente, mas isso deve ser feito sempre em parceria com os usuários de cada uma delas.

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