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Racismo aumentaria níveis de inflamação em negros, o que causa doenças

Estudo revela que vítimas de discriminação racial são mais suscetíveis a processos inflamatórios, que por sua vez aumentam o risco de problemas crônicos

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 18 jun 2020, 10h42 - Publicado em 25 jun 2019, 19h07
racismo preconceito e saude
 (Ilustração: Nadia Bormotova/Getty Images)
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O racismo causa danos à saúde — e isso não se restringe ao aspecto psicológico. Uma nova pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, mostra que vítimas de preconceito racial correm maior risco ficar com o corpo inflamado, o que aumenta a probabilidade de doenças crônicas ao longo do tempo.

Os americanos reuniram 71 indivíduos, sendo 48 negros e 23 brancos. A média de idade era de 53 anos. Antes da análise laboratorial, todos responderam a um questionário para determinar situações nas quais já haviam vivido uma discriminação étnica.

Além disso, 37 participantes do grupo todo também eram soropositivos. Isso permitiu aos cientistas diferenciar o que era causado pelo racismo e o que seria provocado por uma infecção como a do HIV.

A partir daí, foram extraídas amostras das células dos voluntários e medidas as moléculas inflamatórias e antivirais presentes neles.

Os cientistas, então, encontraram maiores taxas de inflamação nos afro-americanos do que nos brancos. Eles também constataram que o preconceito racial está por trás de mais de 50% dessa diferença, inclusive entre os portadores do HIV.

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A relação entre inflamação, doenças crônicas e segregação

Para descobrir a importância daquele resultado, é necessário entender primeiramente como os processos inflamatórios estão ligados às enfermidades crônicas.

Quando a inflamação surge em uma parte do corpo, significa que nosso organismo está reagindo a alguma infecção, machucado ou estresse. Esse processo estimula o nosso sistema imunológico e serve para afastar agentes infecciosos e reparar tecidos danificados.

Em resumo: a inflamação nada mais é que um mecanismo de defesa para combater ameaças ou consertar danos. Isso não engloba apenas a ação de vírus e bactérias, mas também o estresse e a ansiedade — reações que ocorrem devido às mais diversas formas de manifestações racistas. Quem controla essa resposta do organismo é um conjunto de genes.

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O problema é que, se o corpo se sente ameaçado a todo momento, a inflamação acaba se tornando um problema, e não uma solução. “Se esses genes permanecem ativos por um período prolongado de tempo, a inflamação pode promover ataques cardíacos, doenças neurodegenerativas e câncer“, afirma, em comunicado à imprensa, o psicólogo Steve Cole, professor da Universidade do Sul da Califórnia que participou do estudo.

Em pesquisas anteriores, Cole já havia descoberto que a inflamação é mais intensa em grupos socialmente marginalizados. “Vimos isso antes em casos de solidão crônica, pobreza, estresse pós-traumático e outros tipos de adversidade. Mas, até agora, ninguém havia olhado para os efeitos do preconceito”, conta o psicólogo.

O nível socioeconômico não influenciou os resultados

Que fique claro: a pobreza também desencadearia processos inflamatórios. Porém, até por isso os cientistas só selecionaram voluntários de mesmo nível socioeconômico para a investigação. Mesmo com esse controle, ainda assim surgiram aqueles resultados discrepantes entre brancos e negros.

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Em outras palavras, o racismo é um problema adicional para o corpo. “Discriminação racial é um tipo diferente de estressor crônico em relação à pobreza”, aponta a psicóloga April Thames, professora da instituição que liderou a investigação.

A especialista explica que a situação financeira é passível de algum grau de influência individual: eu posso tentar mudar de emprego, buscar mais uma fonte de renda ou economizar em um ou outro item. Embora, claro, nem sempre isso seja possível.

Em contrapartida, o racismo é algo sobre o qual a vítima não tem controle. “Quando se trata da discriminação, você nem sempre percebe que está ocorrendo. E não consegue mudar a sua cor de pele” acrescenta April.

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Uma limitação do trabalho reside no baixo número de participantes. Entretanto, segundo a professora, a conclusão é um sinal de que cientistas devem repeti-lo em uma escala maior para determinar os efeitos inflamatórios do preconceito em pessoas negras.

Fora isso, o levantamento não acompanhou os indivíduos por um longo período de tempo, nem investigou diretamente se o grau inflamatório observado causaria uma doença. Por outro lado, experimentos anteriores já associaram essa reação do corpo a males graves — como dissemos antes.

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