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Quando a cirurgia bariátrica não deveria ser adiada por causa da pandemia

Especialistas estabelecem critérios para avaliar se a cirurgia bariátrica pode ou não ser postergada para quando a crise do coronavírus arrefecer

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 18 ago 2020, 10h46 - Publicado em 18 Maio 2020, 20h52
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  • A sobrecarga do sistema de saúde por causa do coronavírus (Sars-CoV-2) e o próprio receio da população estão gerando o adiamento de vários exames e procedimentos clínicos em hospitais. Mas um artigo publicado no periódico científico The Lancet e escrito por 23 especialistas, incluindo o Brasil, alega que, em certos pacientes, atrasos na realização da cirurgia bariátrica podem culminar em prejuízos sérios à saúde.

    Baseado na literatura médica recente, o documento aponta alguns pontos críticos. A principal preocupação envolve pessoas que, por causa da obesidade, apresentam disfunções com potencial de piora rápida. Entre os exemplos, eles citam a disfagia grave (uma dificuldade para engolir alimentos) e a hérnia interna sintomática. Para essa turma, a cirurgia bariátrica deveria ser encarada quase como uma urgência médica.

    O artigo também destaca os casos em que o indivíduo, além de obeso, está com o diabetes descontrolado, mesmo com uso de vários remédios. Em situações como essa, a cirurgia bariátrica (também chamada de cirurgia metabólica justamente por ajudar no controle da glicemia e da pressão) precisaria ser feita em 90 dias.

    “Quanto mais tempo a gente espera, maior será o risco e menor será o benefício. É incalculável o risco de mortalidade”, relata o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Ele foi o representante brasileiro entre os criadores do documento.

    Os pesquisadores trazem dados como o de que o diabetes aumenta o risco de morte por problemas cardiovascular em até 2,6 vezes. A obesidade, por outro lado, favorece hipertensão, insuficiência hepática, câncer, osteoartrite e doença renal crônica. E ambas podem ser contornadas com a cirurgia bariátrica.

    Além de correr esses perigos, quem posterga o procedimento pode se beneficiar menos dele. Veja: quando indicada no tempo correto, a cirurgia metabólica é capaz de, em determinadas pessoas, fazer o diabetes entrar em remissão. Só que, quanto maior o tempo convivendo com o diabete, menor a chance de isso ocorrer.

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    A partir de certos critérios para definir a urgência da cirurgia bariátrica, o artigo encaixa os pacientes basicamente em três categorias. Confira:

    Acesso urgente

    Pessoas com sintomas severos ou disfunção com potencial de piora rápido, como disfagia grave, hérnia interna sintomática e sérias deficiências nutricionais, necessitam ser operados em até um mês.

    Acesso acelerado

    Quem apresentar uma das condições abaixo têm que passar pela cirurgia dentro de 90 dias:

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    “Não dá para dizer quantos procedimentos isso representaria porque não temos o número exato de pessoas que não têm controle da obesidade e do diabetes”, comenta Cohen.

    Acesso padrão

    Quem se enquadra nesses pontos pode esperar mais de 90 dias:

    O risco e os cuidados da cirurgia bariátrica em meio à pandemia de coronavírus

    Visitas a um hospital aumentam o risco de pegar o coronavírus. E cabe destacar que a obesidade e o diabetes, principais motivos que justificam essa operação, são fatores de risco para complicações da Covid-19.

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    “Pessoas acima do peso não só têm uma probabilidade maior de apresentar quadros mais graves se forem infectadas, como podem espalhar o vírus por mais tempo”, afirma o endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP).

    Mancini acredita que, no momento atual, esses indivíduos precisam ficar em casa, adotar todas as medidas de proteção e não se expor desnecessariamente. Até porque uma operação de grande porte também compromete a imunidade por algum tempo.

    Ricardo Cohen pondera que a cirurgia traz rapidamente algumas reações benéficas, que minimizariam o risco de complicações da Covid-19. “Ela diminui a inflamação provocada pela obesidade”, afirma. E há indícios de que processos inflamatórios facilitam a ação desse agente infeccioso.

    Entretanto, ele reconhece que é imprescindível realizar a cirurgia bariátrica em centros bem separados do atendimento de casos de coronavírus. E que certas etapas do acompanhamento, como adequação da dieta e dos medicamentos, podem ser realizadas por meio da telemedicina.

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