Perda gestacional tardia: o que pode causar morte de bebê no final da gravidez?
Micheli Machado e Tati Machado enfrentaram situações parecidas recentemente. Entenda o óbito fetal e a importância de apoiar mulheres que o vivenciam

A assessoria de comunicação de Tati Machado, de 33 anos, apresentadora da TV Globo, comunicou nessa terça-feira (13) que ela havia perdido o bebê que esperava, na reta final da gestação.
Ao perceber a ausência de movimentos do feto, ela foi admitida no hospital na 33ª semana de gravidez. A equipe médica constatou a ausência dos batimentos cardíacos fetais. As causas para o óbito ainda são investigadas pelos médicos.
Neste último final de semana, a atriz Micheli Machado passou por uma situação similar. Grávida de nove meses da segunda filha, fruto do casamento com o ator Robson Nunes, ela foi internada para fazer uma cesárea de emergência no sábado (10), após a ausência de batimentos cardíacos do bebê ser confirmada pelos médicos.
Apesar de mais raras, perdas gestacionais na reta final da gravidez são possíveis. Porém, nem sempre os médicos conseguem determinar a causa para esse acontecimento devastador.
Qual a diferença entre aborto espontâneo e óbito fetal?
Profissionais da saúde usam diferentes nomenclaturas para se referir à perda gestacional.
Em geral, o falecimento do bebê é consideramento um abortamento espontâneo até a 20ª semana. Quando ocorre até as 12 semanas de gestação, é classificado como precoce. É tardio quando acontece entre a 12ª e a 20ª semanas.
Considera-se óbito fetal quando a perda do bebê acontece a partir de 22 semanas de gravidez. Também é classificado em precoce, antes da 28ª semana, e tardio, depois da 28ª semana.
Mundialmente, a estimativa é de que 2,6 milhões de óbitos fetais ocorram por ano. Alguns sintomas que podem indicar abortamento tardio ou óbito fetal são: sangramento vaginal, expulsão de líquido vaginal e cólicas uterinas. Perceber que os movimentos do bebê diminuíram ou foram interrompidos é outro sinal de alerta.
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O que causa o óbito fetal?
Há vários fatores de risco relacionados ao falecimento do bebê. Infelizmente, nem sempre é possível determinar a causa exata para o óbito. Essas situações, em que o motivo não é evidente, são consideradas óbitos fetais idiopáticos.
Em países com condições sanitárias insuficientes, as infecções são as grandes causadoras da perda do bebê no final da gestação. Várias infecções sistêmicas podem se espalhar para a placenta e atingir o feto.
Toxoplasmose, malária, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis, zika-vírus, covid-19, pneumonia e outras infecções bacterianas estão entre as que trazem esse risco. Micro-organismos como os parvovírus e a listeria também representam um perigo à saúde da gestante e do bebê.
Outras complicações podem estar envolvidas nos casos de óbito fetal. Se a grávida tem hipertensão ou diabetes gestacional, o risco de abortamento ou óbito fetal é maior. A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia são condições associadas a esses fatores de risco.
Alterações genéticas são mais um dos motivos para o óbito fetal. As mutações cromossômicas podem gerar anencefalia, hidrocefalia, espinha bífida e encefalocele, que afetam o sistema nervoso. Transtornos na formação cardíaca do bebê ou aneuploidias (quando a quantidade de cromossomos está alterada) também podem acarretar a perda.
Na reta final da gestação, problemas na placenta e no cordão umbilical, que afetam o envio de nutrientes e oxigênio ao bebê, podem ser responsáveis pelo óbito. Em alguns casos, a razão pode ser uma condição trombofílica associada, em que há um distúrbio na coagulação do sangue. A mais comum é a síndrome dos anticorpos antifosfolípides.
Doenças autoimunes, hidropsa fetal e uso de substâncias como álcool, cigarro e drogas ilícitas podem ter ligação com casos de óbito fetal.
Qual o protocolo a ser seguido no hospital?
A perda gestacional é constatada a partir de um ultrassom, em que se percebe a ausência dos batimentos cardíacos fetais. Exames complementares, como de sangue ou de urina, podem ser solicitados depois.
O mais importante neste momento é garantir o apoio à gestante e à família, disponibilizando assistência psicológica. O recomendado é manter a gestante em uma ala separada de outras grávidas e permitir que a família fique com o bebê por tempo suficiente após o part.
O parto, em casso de óbito fetal, pode ser feito via natural ou cesárea. O meio vaginal é o mais indicado. A cesariana é utilizada quando há descolamento da placenta, instabilidade dos sinais clínicos da gestante, histórico de cesáreas ou posição desfavorável do feto.
Os médicos devem fornecer auxílio psicológico após o parto e indicar outros cuidados para lidar com a lactação, as cólicas e o sangramento que podem ocorrer.
Impacto psicológico
Qualquer perda gestacional é difícil de encarar. E, muitas vezes, é uma dor invisibilizada pela sociedade.
Mulheres que a enfrentam podem ter um processo de luto difícil e precisam de apoio da família e das demais pessoas que a cercam, bem como dos profissionais de saúde que as acompanham.
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