A oxandrolona é um composto sintético criado na década de 1960. A empresa farmacêutica GD Searle & Co., atualmente uma subsidiária da Pfizer, o transformou em um medicamento com nome comercial de Anavar nos Estados Unidos.
Por lá, o remédio contou com diversas aplicações terapêuticas, incluindo a promoção de crescimento de massa magra após cirurgia, trauma, infecção ou administração prolongada de corticoides. Sempre com prescrição médica.
Mas, atualmente, o produto vem sendo usado por usuários de academias com o objetivo de ganho de massa, mesmo sem uma necessidade de saúde. E o uso inadvertido e sem acompanhamento médico pode trazer sérios riscos para a saúde.
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No Brasil, a oxandrolona é uma substância inscrita na lista C5 da Portaria 344, de 1998, do Ministério da Saúde. Na prática, isso significa que a dispensação dessa categoria de medicamentos ocorre somente com retenção de receita.
Consultada, a Anvisa afirmou que já houve medicamentos dessa natureza registrados no país, na forma de comprimidos. No entanto, os registros caducaram.
“Não há proibição quanto a manipulação da oxandrolona, desde que prescrita por profissional habilitado, para a mesma indicação terapêutica e via de administração aprovadas à época em que houve registro do medicamento, e desde que haja retenção da receita”, pontua a Anvisa, em nota.
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O que é oxandrolona
A oxandrolona é um hormônio anabolizante sintético com ação semelhante à testosterona.
O agente pode ser utilizado em condições clínicas específicas que requerem reposição do hormônio masculino.
Para que serve o composto
Os níveis de testosterona podem cair de maneira mais pronunciada devido a diferentes fatores, como o avanço da idade, estresse e a infecção pelo HIV.
Os sintomas desse déficit do hormônio masculina podem incluir problemas como redução do desejo sexual, dificuldades de ereção, irritabilidade, diminuição da massa muscular e perda de força.
“As principais causas são problemas que envolvem a hipófise, como tumores hipofisários, ou os testículos, como lesões. Existem algumas doenças metabólicas, como obesidade e diabetes, que são associadas ao quadro”, detalha o médico Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
O diagnóstico da deficiência hormonal é realizado a partir de um exame de sangue. Nesse caso, pode ser necessário realizar o tratamento para aumentar os níveis do hormônio.
“A reposição de testosterona ou oxandrolona está indicada nas situações de deficiência diagnosticada nos homens, o que a gente chama de hipogonadismo“, afirma o médico endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein. A ideia é contrapor aqueles sintomas mencionados anteriormente.
A oxandrolona também pode ser utilizada na recuperação de massa em casos específicos como cirurgias, infecções crônicas, trauma e uso prolongado de corticoides. No entanto, o presidente da SBEM frisa que não há um consenso médico sobre a indicação clínica da substância.
Formas de administração da oxandrolona
A oxandrolona é administrada na forma de comprimidos.
Na ausência de medicamentos registrados no Brasil, ela pode ser produzida em farmácias de manipulação, apenas com prescrição médica e retenção de receita.
Posologia
Existem diferentes possibilidades de formulação da oxandrolona, como cápsulas de 10 ou 20 miligramas.
O modo de usar o fármaco varia segundo a necessidade de cada paciente, de acordo com o nível hormonal e a condição de saúde associada. “Não há uma posologia padronizada”, pontua Miranda.
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Riscos da utilização inadequada de oxandrolona
A terapia hormonal com testosterona ou oxandrolona é utilizada incorretamente para ganho de ganho de massa muscular com fins estéticos e melhora do desempenho esportivo. A conduta é fortemente contraindicada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
O Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu, através de uma resolução de 2023, a prescrição desse tipo de medicamento com finalidade puramente estética. Na decisão, o órgão destaca a ausência de estudos clínicos de boa qualidade que atestem os riscos do uso indiscriminado tanto para homens como para mulheres.
Ou seja, tomar oxandrolona por conta própria, sem indicação clínica e acompanhamento médico representa um risco para a saúde de diversas ordens.
“Para os homens, o uso em excesso desses hormônios leva a uma supressão na produção de testosterona pelo testículo. Os indivíduos podem ficar inférteis, com testículo atrofiado. E há risco de ginecomastia, que é o aumento da região da mama e calvície”, diz Rosenbaum.
E o problema não está restrito a eles. “Nas mulheres, pode levar ao surgimento de acne, aumento da quantidade de pelos, engrossamento de voz e clitoromegalia, que é o crescimento do clitóris”, alerta o médico.
O uso inadequado de oxandrolona ainda eleva o risco de problemas cardiovasculares, como trombose, doença arterial coronariana, arritmias, hipertensão e até mesmo morte súbita.
São comuns ainda sinais de alterações na saúde mental, como agressividade, comportamento suicida, depressão e dependência.
Bula da oxandrolona
Devido à ausência de medicamentos à base de oxandrolona registrados no Brasil, não há bula disponível no portal da Anvisa.