Não adianta culpar as mudanças no clima ou a pouca idade. Se uma criança fica de cama com frequência e apresenta infecções graves, que resistem aos tratamentos, pode ser sinal de imunodeficiência primária, distúrbio de origem genética e hereditária que passa uma rasteira no sistema imune.
O problema acomete uma em cada 10 mil pessoas. Na maioria dos casos, atinge a capacidade de o organismo produzir anticorpos que impedem o ataque de micróbios nocivos. Daí a recorrência, entre esses indivíduos, de males como pneumonia, sinusite, otite…
Aproveitando que estamos na Semana Mundial da Imunização e na Semana de Conscientização sobre a doença, conversamos sobre o assunto com a médica Beatriz Souza, professora livre-docente de pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Há uma estimativa de que leva até seis anos para a imunodeficiência primária ser descoberta. O que dificulta o diagnóstico?
Fora as dificuldades que envolvem os testes laboratoriais que avaliam o desempenho do sistema imune, como o hemograma, muitas pessoas, inclusive profissionais de saúde, ignoram ou não conhecem essa condição. Ou seja, acabam tratando apenas os sintomas até que, depois de muitas idas ao médico pelos mesmos motivos, uma investigação mais aprofundada é solicitada. Eis a importância da informação e do Trecs Krecs, exame feito com a mesma amostra e cartão da triagem neonatal, o teste do pezinho, e que consegue detectar esse problema logo nos primeiros dias de vida.
Adultos também podem sofrer com a imunodeficiência primária?
Sim. Mesmo que o sujeito tenha nascido com a mutação genética que irá predispor a doença, ela pode se manifestar muitos anos após o parto.
Como é feito o tratamento?
Com imunoglobulina humana, isto é, transfusões periódicas feitas para repor os anticorpos que a pessoa não consegue produzir. Antibióticos específicos também podem ser prescritos.
Vacinas em geral ajudam nesses casos?
Depende de quão baixa é a produção de anticorpos. É que a vacina nos expõe aos vírus ou às bactérias que causam determinadas doenças a fim de estimular o corpo a combatê-las. Se o organismo não consegue fabricar anticorpos suficientes para isso depois, esse recurso tem efeito contrário e acaba contaminando o paciente.
A vida de quem carrega essa mutação genética possui limitações?
Mesmo seguindo o tratamento à risca, recomendamos, como medida preventiva, que o contato com pessoas doentes seja restringido.
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