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O que se sabe até agora sobre a Covid-19 em gestantes

O coronavírus aumenta o risco de pré-eclâmpsia? Há transmissão da mãe para o bebê na barriga? Conversamos com especialistas para resolver oito questões

Por Daniella Grinbergas
Atualizado em 13 Maio 2021, 15h44 - Publicado em 16 out 2020, 12h20
coronavírus na gravidez
Ainda há muitas dúvidas sobre a infecção por coronavírus durante a gravidez. (Foto: Getty Images/SAÚDE é Vital)
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Um artigo publicado no periódico científico JAMA (Journal of American Medical Association) dá o tom de incerteza sobre os efeitos da Covid-19 em grávidas. De um lado, ele aponta uma maior probabilidade de pré-eclâmpsia durante a gestação em mulheres infectadas pelo novo coronavírus. Do outro, os próprios autores reforçam que mais evidências são necessárias antes de confirmar esse efeito, até porque a pesquisa foi conduzida por um curto período de tempo.

Em geral, gestantes são mais propensas ao agravamento de infecções respiratórias, mas os dados estatísticos da Covid-19 não apontam isso até agora. Diante de uma pandemia que sequer completou um ano, é normal termos questões em aberto.

Ainda assim, a ciência e os especialistas têm corrido contra o tempo para buscar responder as perguntas que mais importam para as futuras mães. Com base em estudos e na experiência dos profissionais, abordamos oito pontos que toda gestante deve saber:

1. O coronavírus provoca maior risco de pré-eclâmpsia?

Esse quadro é marcado por uma subida na pressão durante a gestação, que pode trazer problemas para a mãe e o bebê. “A publicação do JAMA [citada no início do texto] dialoga com a impressão clínica”, explica a ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo Tarsila Gasparotto, que tem formação em obstetrícia de alto risco. “A Covid-19 gera uma inflamação com potencial de causar tromboses. E isso pode interferir nos mecanismos que causam pressão alta na gravidez”, arremata.

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Porém, como o próprio artigo pontua, é preciso realizar mais pesquisas para comprovar a consistência desses resultados. Isso porque o estudo avaliou uma população única durante curto intervalo de tempo. Mais do que nunca, a recomendação é de que a gestação tenha acompanhamento médico frequente.

2. A transmissão vertical acontece?

Ainda é cedo para bater o martelo, contudo alguns indícios apontam que pode haver a transmissão da mãe para o bebê. Relatos de casos isolados, como achado de carga viral na placenta, no sangue do corão umbilical e até mesmo em vias aéreas do recém-nascido, levantam essa hipótese.

Porém, Tarsila ressalta que outros levantamentos são necessários. Eles deveriam incluir populações maiores — de diferentes localidades — e comprovar que o vírus da mãe de fato passou para o feto.

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“Ainda que a transmissão vertical seja confirmada, será necessário estudar o significado clínico disso”, pondera. Ou seja, mesmo que o vírus tenha capacidade de invadir o organismo do bebê antes do nascimento, será que ele é capaz de provocar algum estrago?

Mas nada de desespero! Mário Macoto Kondo, chefe do departamento de obstetrícia do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, ressalta que a probabilidade de um acometimento grave na criança deve ser baixa. “Ao contrário de outros vírus, como o Zika, parece que o Sars-CoV-2 não provoca malformações fetais. Isso já nos traz um grande alívio”, afirma.

3. O risco de um parto prematuro aumenta por causa do Sars-CoV-2?

De acordo com uma revisão sistemática do PregCOV-19 Living Systematic Review Consortium, publicada no periódico BMJ, grávidas com Covid-19 podem, sim, estar mais sujeitas a um parto antes da hora. Aliás, diversas outras infecções estão associadas com esse quadro.

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Por outro lado, as taxas gerais de nascimentos pré-termo espontâneos não são altas no momento. Na verdade, elas permanecem semelhantes ao período pré-pandemia. Mais um mistério que a ciência tenta desvendar.

4. Quadros graves de coronavírus são mais frequentes em gestantes?

“Se a paciente não tiver nenhuma doença prévia, não”, tranquiliza Tarsila. Isso significa que o quadro pode se agravar se a grávida possuir fatores de risco já conhecidos para casos graves de Covid-19, como diabetes, obesidade e hipertensão.

“Comorbidades maternas sempre aumentam os riscos em qualquer gravidez”, reforça Eduardo Zlotnik, ginecologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

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5. Há riscos para o bebê na barriga?

Tudo vai depender da gravidade do quadro da mãe, que impacta diretamente no bem-estar do filho. “Se a gestante estiver respirando sem dificuldade, a passagem do oxigênio para a placenta será mantida”, comenta Kondo.

“O problema se dá em casos graves, quando há diminuição da oxigenação, levando sofrimento ao bebê. Além disso, observamos que a infecção aguda pode levar à diminuição do líquido amniótico“, arremata.

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6. Gestante pode ser entubada e tomar remédios contra a Covid-19?

Sim — com indicação médica, claro. Quando o caso é grave e há falta de oxigenação, a recomendação de ventilação mecânica se estende às grávidas. “O tratamento é realizado como fosse fora da gravidez, mas, claro, prezando a saúde do bebê”, afirma Kondo.

Segundo ele, os medicamentos também podem ser administrados normalmente. “Os remédios mais usados para infecções pulmonares não causam prejuízos aos fetos”, diz.

7. Como precisa ser o parto de mulheres com coronavírus?

Atenção: a doença não exige cesárea. A avaliação e a realização do parto em si seguem como antes.

O que mudou foram os protocolos de segurança. “Toda mulher que entra no hospital para um parto é testada. Caso ela esteja com o vírus, os cuidados de higiene são ainda maiores e há recomendações de cautela e proteção na hora da amamentação e cuidados com o bebê”, pontua Kondo.

8. O pré-natal das gestantes muda na pandemia?

Os especialistas são unânimes: a crise atual não justifica pular consultas ou exames de pré-natal. “A rotina não pode ser suspensa em nenhum contexto. Os malefícios para a saúde materno-fetal superam qualquer risco aumentado de contrair o coronavírus”, ressalta Tarsila.

E, se a mãe testar positivo para a infecção, a recomendação é realizar acompanhamento ainda mais intenso, mesmo que o curso da doença não se agrave. “Precisamos ter uma vigilância maior no período de infecção”, conclui Zlotnik.

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