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Nasce o primeiro bebê após um transplante do útero de uma doadora morta

Procedimento, realizado no Brasil, acaba de ser publicado na maior revista científica do mundo. É a esperança de um novo tratamento contra a infertilidade

Por André Biernath
Atualizado em 3 mar 2020, 19h21 - Publicado em 5 dez 2018, 10h50

Uma equipe de 14 médicos brasileiros liderados pelo ginecologista Dani Ejzenberg acaba de anunciar um feito inédito: eles realizaram um transplante de útero a partir de uma doadora morta e a mulher que recebeu o órgão conseguiu engravidar posteriormente. Além disso, a criança nasceu saudável. Uma notícia boa atrás da outra. “Apesar de tentativas anteriores, é a primeira vez que um procedimento desses dá certo”, conta Ejzenberg, em entrevista a SAÚDE.

A operação foi conduzida no Hospital das Clínicas de São Paulo em setembro de 2016. A paciente, de 32 anos, tinha a Síndrome de Mayer‐Rokitansky‐Kuster‐Hauser (MRKH), doença que afeta uma a cada 4 500 mulheres. O quadro é caracterizado pela falta (total ou parcial) de estruturas que compõem o aparelho reprodutor feminino. Nesse caso específico, ela não tinha o útero, o que impossibilitava qualquer gravidez.

A doadora do órgão tinha 45 anos e morreu após sofrer uma hemorragia em uma região específica entre o crânio e o cérebro. Ela havia realizado três partos anteriormente.

A cirurgia pioneira durou quase seis horas e foi um sucesso. A mulher teve alta após oito dias de observação no hospital e precisou tomar remédios imunossupressores durante cinco meses para evitar que seu corpo rejeitasse o útero recebido. Após 37 dias do procedimento, já ocorreu a primeira menstruação e, sete meses depois, os especialistas resolveram implantar um embrião que havia sido colhido, passado pela fertilização in vitro e congelado previamente a partir da junção de seu óvulo com o espermatozoide de seu marido. 

A gestação evoluiu normalmente e o parto cesariano ocorreu no dia 15 de dezembro de 2017. Chegava ao mundo uma menina de 2,5 quilos e com o desenvolvimento esperado para a idade. Logo após o nascimento, o útero foi retirado da mulher para que ela não precisasse tomar remédios imunossupressores para o resto da vida. A recém-nascida está para completar um ano e, ainda bem, não apresenta qualquer problema de saúde. O relato completo do caso foi publicado ontem (4) no prestigiado periódico científico The LancetÉ um marco da ciência brasileira e mundial.

Avanços anteriores

Outros trabalhos conduzidos na Suécia já haviam demonstrado que o transplante de útero dava certo. Porém, todos os casos foram feitos com órgãos de doadoras vivas. “Geralmente, a mãe doava o útero para a filha. Dos nove casos realizados no país escandinavo, sete mulheres conseguiram engravidar”, detalha Ejzenberg. Portanto, essa é a primeira vez que a tentativa de engravidar com o útero de uma doadora morta funciona — uma experiência anterior na Turquia infelizmente acabou em cinco abortos seguidos.

De acordo com os autores do artigo, o bom resultado demonstra que esse tipo de cirurgia é um caminho para tratar a infertilidade, problema que afeta até 10 a 15% dos casais que desejam ter um filho.

Num editorial da mesma edição do The Lancet, os médicos Cesar Diaz-Garcia e Antonio Pellicer, das universidades de Oxford (Inglaterra) e de Valência (Espanha), respectivamente, escreveram sobre o feito brasileiro: “Num cenário em que a escassez de informações e evidências científicas ainda são a norma, o artigo de Dani Ejzenberg e colegas representa um avanço importante no conhecimento sobre os transplantes de útero”.

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Porém, é claro que será preciso novos trabalhos com mais pacientes para comprovar que a operação com o órgão de doadoras mortas é um caminho viável. “Isso significa que o procedimento ainda está em seus estágios iniciais e existem muitas questões que precisamos entender melhor”, ponderam os especialistas.

Os cirurgiões brasileiros já estão programados para realizar dois novos transplantes de útero com essas mesmas características nas próximas semanas. “No momento, não temos vagas para novas pacientes, mas a perspectiva é que a técnica evolua e outros grupos consigam realizá-la em breve”, acredita Ejzenberg.

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