Mundo pode atingir 2,8 milhões de mortes por Covid-19 até fim do ano
Essa projeção de mortes por coronavírus traz ainda um cenário mais otimista e outro pessimista, dependendo de como combateremos a pandemia daqui em diante
Se as políticas públicas de prevenção e a adesão às máscaras de agora se mantiverem as mesmas no mundo como um todo, poderemos chegar a 2,8 milhões de mortos pela Covid-19 no final de dezembro de 2020. Mas, se os governos relaxarem demais as políticas de distanciamento social, as vítimas fatais do coronavírus (Sars-CoV-2) podem subir para 3,9 milhões.
Estamos falando de números preocupantes: no dia 11 de setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 905 mil óbitos confirmados pela doença esse ano. Ou seja, de agora até o fim de dezembro, o planeta apresentaria um crescimento nas mortes muito superior ao visto desde o começo da pandemia. A projeção é do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington (IHME), nos Estados Unidos.
No melhor cenário, eles calculam 2 milhões de vidas perdidas. Isso se o uso de máscaras se tornar praticamente universal e regras de isolamento forem adotadas assim que a taxa de mortalidade diária de um país superar 8 pessoas por milhão. Ao adotar essas estratégias, salvaríamos mais de 750 mil vidas até o fim de 2020.
A análise considera dados globais, inclusive os do Brasil. Aqui, se comportamentos e leis seguirem como estão, o modelo aponta 175 mil mortes de janeiro até 31 de dezembro — ou 177 mil se a flexibilização se ampliar. Por outro lado, adotar estratégias de mitigação mais rígida e a utilização maciça das máscaras pouparia 16 mil vidas no nosso território.
As limitações de um modelo matemático no caso do coronavírus
O panorama desenhado pelo IHME é chocante, mas vale ressaltar que estimativas como essa são criadas a partir de modelos matemáticos. É uma espécie de simulação que combina diferentes dados da vida real em equações.
Nessa projeção americana, foram consideradas as seguintes informações: número atual de mortes, prevalência de anticorpos contra o coronavírus na população, novos casos, taxas de testagem, mobilidade das pessoas, uso de máscara, características da população, legislações sobre distanciamento social, entre outros.
Projeções assim são amplamente utilizadas pela ciência, porém devem ser interpretadas com cautela. Tratam-se de estimativas que sofrem interferência da qualidade dos dados regionais disponíveis, dos parâmetros utilizados pelos pesquisadores e por aí vai. No Brasil, os números da pandemia não são tão robustos — há, por exemplo, subnotificação e um atraso considerável entre o momento da morte do paciente e sua inclusão nas estatísticas oficiais.
Trocando em miúdos, a projeção serve como um alerta. Ela ajuda as autoridades e a população a tomar certas decisões, contudo não é uma sentença. O próprio IHME calculou que o Brasil atingiria 125 mil mortes até o fim de agosto. Isso aconteceu pouco tempo depois, no dia 4 de setembro.
Hemisfério Norte pode viver pico de coronavírus no inverno
De acordo com essa estimativa, uma das maiores justificativas para o aumento considerável nos óbitos até o fim do ano é a chegada do inverno no Hemisfério Norte. Quando a pandemia de Covid-19 começou a explodir no mundo, em março, Europa e Estados Unidos estavam no fim dos meses mais frios do ano, época em que as infecções respiratórias virais se tornam mais frequentes.
Nas projeções mais pessimistas do IHME, o mundo pode chegar a 30 mil mortes diárias em dezembro. O recorde até agora é de 8 mil, em abril. O cenário estipula, se tudo ficar na mesma, cerca de 960 mil óbitos nas Américas (maior parte nos Estados Unidos) e mais de 1 milhão entre Europa e Ásia Central.
Como não chegar lá
Para Christopher Murray, diretor do instituto, é fácil se perder nesses números tão elevados. Mas ele entende que a análise reforça como as máscaras e a implementação de medidas de distanciamento social rápidas são importantes e eficientes.
O cálculo evidencia ainda como é perigoso buscar o controle da pandemia pela chamada imunidade de rebanho por meio da infecção natural — ao invés de nos protegermos e aguardarmos uma vacina eficaz e segura.
“É uma oportunidade de destacar o problema da imunidade coletiva, que ignora ciência e ética, permitindo que ocorram milhões de mortes evitáveis”, alerta Murray.