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Melatonina pode proteger o coração, segundo revisão de estudos

Também chamada de hormônio de sono, a melatonina reduziria o risco de arritmias, hipertensão e outras doenças cardiovasculares

Por Maria Fernanda Ziegler (Agência Fapesp)
Atualizado em 15 mar 2023, 10h55 - Publicado em 27 Maio 2020, 18h08
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  • Após revisar dados de 162 ensaios clínicos, pesquisadores brasileiros concluíram que a melatonina – substância popularmente conhecida como o hormônio do sono – pode proteger o coração contra arritmias, doença arterial coronariana, hipertensão e outros distúrbios cardiovasculares.

    As conclusões foram divulgadas no International Journal of Molecular Sciences. O trabalho teve apoio da Fapesp e a participação de cientistas das universidades de São Paulo (USP) e Anhembi Morumbi.

    “A ação do hormônio sobre a pressão arterial e a frequência cardíaca se dá tanto nos vasos e no coração, como em outras estruturas do sistema nervoso central. Estudos mostraram o efeito da melatonina até mesmo sobre as mitocôndrias das células, estruturas importantes na regulação do sistema cardiovascular”, diz José Cipolla-Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e autor principal do artigo.

    Além de dados de pesquisas clínicas e ensaios experimentais sobre o papel cardioprotetor da melatonina, os autores apresentam no artigo uma lista de substâncias capazes de imitar a função do hormônio. A seleção foi feita com auxílio de ferramentas de inteligência artificial.

    “Listamos substâncias semelhantes à melatonina e verificamos quais têm potencial ação no sistema cardiovascular. De um conjunto imenso de moléculas, encontramos 780 com ação cardiovascular supostamente semelhante à da melatonina”, afirma Cipolla-Neto. De acordo com o pesquisador, os dados estão abertos e podem guiar o desenvolvimento de novas drogas para doenças que atingem o coração e os vasos sanguíneos.

    Atuação do hormônio do sono no diabetes

    Recentemente, Cipolla-Neto publicou um artigo sobre a ação do hormônio do sono em distúrbios metabólicos. “Havia uma concepção errada de que a melatonina, em humanos, pudesse ser diabetogênica”, diz.

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    De acordo com o pesquisador, a melatonina tem efeitos distintos no período noturno e no diurno: “À noite, quando é fisiologicamente secretado, o hormônio de fato reduz a produção de insulina e induz resistência insulínica, porque nessa fase o indivíduo está dormindo e, portanto, em jejum”. E esses processos estão ligados ao diabetes tipo 2. “Por outro lado, a melatonina que é produzida e atua à noite também determina, durante o dia, um aumento da sensibilidade insulínica e da secreção de insulina pelo pâncreas”, completa.

    Dessa forma, Cipolla-Neto afirma que, ao tomar melatonina à noite, é esperado que haja uma melhora no controle glicêmico. “Isso precisava ser esclarecido”, diz.

    Prescrição criteriosa da melatonina

    Assim como outros hormônios, o do sono pode ser suplementado em situações específicos. Mas a ação ampla da substância no organismo – seja na regulação do sono, no sistema cardiovascular ou na regulação do metabolismo – reforça a necessidade de que a reposição hormonal seja cuidadosamente calculada.

    “Faço questão de dizer que melatonina não é uma substância inócua, que possa ser tomada ao bel-prazer. Ela é um hormônio e a sua administração deveria ser rigorosamente controlada”, informa Cipolla-Neto.

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    Para o especialista, primeiro é preciso saber se há mesmo uma necessidade de reposição hormonal. A partir daí, o ajuste da dose varia para cada indivíduo. E a administração da droga é noturna: a melatonina não pode estar circulando na corrente sanguínea durante o dia. De acordo com o pesquisador, também é preciso observar os hábitos de sono de cada pessoa.

    Estudos clínicos

    O grupo de pesquisadores pretende iniciar uma pesquisa, em parceria com o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), com pacientes que por algum motivo não têm a glândula pineal – responsável pela produção de melatonina.

    Em uma primeira fase, o objetivo do estudo será acompanhar os efeitos terapêuticos da reposição da substância nesses pacientes sem a glândula pineal. “A ideia é descrever uma síndrome do paciente sem a glândula pineal do ponto de vista metabólico, cardiovascular, neurológico e psicológico”, explica Cipolla-Neto. A partir daí, será possível investigar o potencial da melatonina na prevenção de males cardíacos, entre outros.

    Em paralelo, os cientistas pretendem avaliar os filhos de mulheres que trabalharam no turno da noite durante a gestação. “Vamos fazer estudo metabólico e de desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças”, diz.

    Este conteúdo foi produzido pela Agência Fapesp.

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