Leucemia mieloide: do diagnóstico à cura, conheça a doença de Afonso de “Vale Tudo”
Câncer da medula óssea afeta as células responsáveis pela produção do sangue
Desde que a personagem Camila (Carolina Dieckmann) da novela “Laços de Família”, da Globo, raspou os cabelos em uma cena dramática ao som de “Love by Grace”, de Lara Fabian, a leucemia nunca mais saiu do imaginário do brasileiro.
Agora, 25 anos depois, a doença volta a ser retratada na teledramaturgia. O personagem Afonso (Humberto Carrão), da nova versão de “Vale Tudo”, é diagnosticado com leucemia mieloide aguda.
Como toda campanha de merchandising social, a ação deve valer mais do que o apelo melodramático, mas também servir de alerta para a população.
Quais são os sintomas da leucemia mieloide aguda? Como é feito o diagnóstico de leucemia mieloide aguda? Como é feito o tratamento de leucemia mieloide aguda? Leucemia mieloide aguda tem cura?
Confira, a seguir, as características e detalhes do agravo.
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O que é leucemia mieloide aguda?
Ao todo, existem mais de dez tipos de leucemia, cuja classificação considera variáveis como velocidade de progressão da doença e o tipo de célula afetada.
As leucemias também podem ser crônicas (de surgimento mais lento) ou agudas (mais agressivas). Considerando as células atingidas, são divididas em mieloides, mais comuns em adultos, e as linfoides, que atingem mais as crianças.
A leucemia mieloide aguda (LMA) é um câncer da medula óssea que afeta as células responsáveis pela produção do sangue.
“Normalmente, as células-tronco da medula se transformam em células maduras, como glóbulos vermelhos, brancos ou plaquetas, em um processo organizado. Na LMA, algo dá errado. É como uma fábrica que começa a produzir peças defeituosas em alta velocidade, sem parar, até entupir toda a linha de produção”, afirma o médico Ricardo Bigni, chefe da Hematologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Diferente das leucemias crônicas, que costumam evoluir lentamente, a LMA é agressiva e de evolução rápida. A cada ano, afeta cerca de 10 mil brasileiros, de acordo com estimativas do Inca.
“A LMA exige diagnóstico e início de tratamento imediatos”, detalha o médico hematologista Philip Bachour, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A doença também se distingue das leucemias linfoides, pois afeta a linhagem mieloide das células sanguíneas, explica Bachour. “Vale lembrar que apenas exames específicos conseguem diferenciar os subtipos de leucemia com precisão, por isso a avaliação médica é indispensável”, frisa.
Quais são os fatores de risco?
A leucemia mieloide aguda se desenvolve quando mutações genéticas alteram as células-tronco da medula óssea.
“Essas células deixam de amadurecer e passam a se multiplicar descontroladamente, ocupando a medula e impedindo a produção normal de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. É uma espécie de ‘invasão’ da medula óssea por células defeituosas”, resume Bachour.
Entre os fatores de risco estão idade avançada, exposição prévia a quimioterapia ou radioterapia, contato com substâncias químicas como benzeno, e algumas síndromes genéticas.
“Na maioria dos casos, a doença surge sem um fator identificável — o que reforça a importância do diagnóstico precoce. Vale destacar que apresentar um fator de risco não significa que a pessoa terá a doença, e muitas vezes a LMA se manifesta sem causa aparente. A recomendação é sempre manter acompanhamento médico regular”, reforça.
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Quais são os sintomas da leucemia mieloide aguda?
Os indivíduos afetados podem apresentar sintomas associados à falência da medula óssea, incluindo:
- cansaço intenso,
- palidez,
- febre persistente,
- infecções de repetição,
- sangramentos
- ou hematomas.
Muitas vezes, os sinais começam de forma inespecífica e podem ser confundidos com quadros comuns, como viroses, alerta o hematologista.
“Como esses sinais podem se confundir com outras condições comuns, não é motivo para pânico, mas sim para buscar avaliação médica o quanto antes”, enfatiza o médico.
Na ocorrência e persistência dos sintomas, é importante procurar imediatamente serviços de pronto atendimento ou médicos hematologistas.
“Um hemograma simples pode levantar a suspeita, mas apenas exames especializados confirmam o diagnóstico. Quanto antes a doença for identificada, maiores são as chances de sucesso no tratamento. O ideal é procurar um serviço médico habilitado para esse tipo de investigação”, afirma o especialista.
Como é feito o diagnóstico da leucemia mieloide aguda?
O caminho rumo ao diagnóstico preciso passa pela realização de um conjunto de testes específicos e de nomes um tanto quanto estranhos, vale dizer.
“Começa com o mielograma, que é a aspiração da medula óssea, seguido da imunofenotipagem — um exame que identifica a ‘identidade’ das células. Depois, entram testes avançados, como o cariótipo e os painéis de sequenciamento genético, os NGS, que detectam mutações específicas”, resume Bachour.
O hematologista explica que esses exames não só classificam a agressividade da doença, mas também apontam se há terapias alvo-dirigidas disponíveis para aquele paciente.
“O grande desafio é que, no Brasil, esses testes ainda não têm cobertura plena pela saúde suplementar, a ANS, e muitas vezes não estão acessíveis no SUS, apesar de serem indispensáveis”, destaca Bachour.
“Esses exames vêm se tornando padrão no cuidado moderno, mas ainda não estão disponíveis de forma universal no Brasil. Por isso, é importante discutir cada caso com o médico, que vai indicar as melhores alternativas possíveis para o paciente”, acrescenta o médico.
Como é realizado o tratamento?
Na última década, o tratamento da leucemia mieloide aguda passou por transformações, como explica o médico Fabio Pires, membro da Sociedade Brasileira de Hematologia e do Einstein Hospital Israelita.
“Cada vez mais, o tratamento tem ficado individualizado. Tradicionalmente, a doença é tratada com quimioterapia intensiva, que dura cerca de sete dias, com o paciente internado no hospital. Posteriormente, os médicos avaliam as chances de cura com a quimioterapia ou a necessidade de um transplante de medula óssea, detalha Pires.
Vale pontuar que a medicina dispõe de outros recursos, como os já citados medicamentos-alvo que atacam mutações específicas, além da imunoterapia.
“Para muitos pacientes, o transplante de medula óssea continua sendo uma etapa fundamental para alcançar a cura. A escolha depende do perfil genético da doença e das condições do paciente”, explica reforça Bachour.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliou a indicação de uso do medicamento Tibsovo (ivosidenibe), disponibilizado pela Servier, para o manejo de casos específicos de LMA.
“Essa personalização só é possível graças ao diagnóstico detalhado com NGS e outros testes. Cada paciente tem um perfil único, e por isso as opções terapêuticas devem ser discutidas de forma individualizada com a equipe médica”, reforça o hematologista do Hospital Oswaldo Cruz.
A leucemia mieloide aguda tem cura?
Sim. A cura é possível, especialmente diante de diagnóstico precoce e tratamento adequado. Em pacientes de maior risco, o transplante de medula óssea é a principal estratégia curativa.
“O grande avanço é que hoje conseguimos identificar subgrupos de pacientes que podem se beneficiar de novos medicamentos, ampliando as possibilidades de controle da doença. Embora existam chances reais de cura, especialmente em centros especializados, os resultados dependem do perfil da doença e do acesso a tratamentos modernos”, conclui Bachour.
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