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Leptina: o que é e para que serve esse hormônio ligado à saciedade

Produzido pelo tecido adiposo, ele é crucial para manter o balanço energético do organismo

Por Ingrid Luisa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 mar 2025, 18h30 - Publicado em 12 mar 2025, 16h00
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A leptina está envolvida no processo da saciedade no organismo (JGI/Jamie Grill/Getty Images)
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A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo, que mudou a forma como se enxerga a gordura e se entende todo o balanço energético do corpo humano.

Até cerca de 30 anos atrás, a gordura corporal era menosprezada e pouco estudada, considerada apenas uma reserva de energia. Em tempos onde há comida disponível para a maioria da população, muita gente julgava sua ação como inútil ou até prejudicial ao corpo humano.

Mas não é bem assim. O tecido adiposo é um importante órgão endócrino, intimamente ligado ao controle do peso e funções vitais. Entenda mais sobre a leptina a seguir:

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O que é a leptina?

É um hormônio produzido pelos adipócitos, as células que armazenam gordura.

Ela foi descoberta em dezembro de 1994 em Nova York, nos Estados Unidos, no laboratório do cientista Jeffrey Friedman da Universidade Rockefeller.

A quantidade desse hormônio reflete os níveis de adiposidade de um ser humano. Se um indivíduo tem mais gordura, ele possui mais células produzindo leptina; se tem menos, vai ter uma menor produção.

Esse mecanismo é crucial para informar o nosso cérebro se o tamanho do tecido adiposo (reserva energética) está adequado ou não, influenciando diretamente nos neurônios da fome e saciedade.

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Ela faz essa comunicação informando quando é hora de parar de comer.

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Para que serve a leptina?

A leptina contribui fortemente para a homeostase (o equilíbrio) do organismo.

Além de ter papel chave na sinalização da saciedade, ela também está ligada a diversos mecanismos comandados pelos hormônios esteroides, que são feitos com moléculas de gordura. Entram na lista a reprodução, a resposta imune e inflamatória, a hematopoiese (formação de células do sangue) e até a formação óssea.

Pessoas que têm uma mutação rara, resultando em deficiência total de leptina, sofrem com uma grande hiperfagia, gerando obesidade grave logo nos primeiros meses de vida: “Como não há sinalização desse hormônio, o cérebro acha que há falta de tecido adiposo, é como se a pessoa estivesse com inanição, por isso o corpo o manda comer mais e economizar bastante energia”, explica o pesquisador José Donato Jr., do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC).

Quem não possui o hormônio também acaba com hipogonadismo, pré-diabetes, e imunidade comprometida. O tratamento para a falta genética de leptina é fazer sua reposição.

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Como a leptina regula o balanço energético?

Durante décadas, a regulação dessa balança foi uma incógnita para a ciência, mas tudo mudou em 1994 com a descoberta desse hormônio.

“Estudando a leptina, foi possível localizar os neurônios que controlam a fome”, conta o médico Lício Velloso, também do OCRC. “Antes, não se sabia que uma área do cérebro, o hipotálamo, exercia um papel no controle do apetite”, explica.

O hipotálamo é, na verdade, o maestro da orquestra que nos leva à mesa — e nos tira de lá. Nessa estrutura cerebral, convivem duas classes de neurônios reguladores do apetite: uma fica ativada quando estamos satisfeitos; a outra quando estamos com fome.

Tudo acontece num ciclo perfeito. Quando falta combustível para o organismo, o hormônio grelina é liberado pelas células do estômago e aciona os neurônios pró-fome.

Já quando estamos ficando cheios, a leptina cai na corrente sanguínea e entra no cérebro, acionando seus receptores no hipotálamo e emitindo sinais de saciedade, assim inibindo a fome, favorecendo o gasto energético e até aumentando a oxidação (ou queima) de lipídeos.

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Outro hormônio que também ajuda a promover saciedade é o famoso GLP-1, mimetizado por moléculas como semaglutida e tirzepatida.

Nesse contexto, aumentar os níveis circulantes de leptina favorece a perda de peso, e reduzir os níveis desse hormônio (quando há emagrecimento, por exemplo) gera aumento de fome e redução do gasto energético. Isso compromete algumas funções do organismo que exigem bastante energia.

Mulheres com baixo nível de gordura, e consequentemente baixa leptina, tendem a parar de ovular, por exemplo.

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Resistência à leptina: o caso da obesidade

Se pessoas com obesidade possuem muita leptina, porque carregam bastante células de gordura, como altas taxas do hormônio favorecem a perda de peso e a saciedade? Pode dar um nó na cabeça mesmo.

Na verdade, o corpo com obesidade desenvolve resistência à ação da leptina.

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Todo o balanço energético é desmantelado pelo acúmulo exagerado de gordura no corpo. A gordura visceral, que se instala entre os órgãos dentro do abdômen, é uma fábrica de moléculas inflamatórias, as culpadas pela algazarra que arruína a harmonia do organismo.

À medida que a pessoa engorda, mais cresce seu estoque de gordura visceral e seus níveis de inflamação. E, com o tempo, esse estado crônico atrapalha a ação dos hormônios que regulam o balanço do apetite e da saciedade, caso da leptina.

E aí que surge o paradoxo: pessoas com obesidade produzem bastante leptina, mas isso não se traduz em menos fome e perda de peso porque o organismo é resistente a ação dela.

É por isso que não adianta tomar leptina para sentir menos fome e emagrecer. Ela já foi testada como remédio antiobesidade e não funcionou, exceto em casos em que há uma deficiência genética na produção do hormônio.

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Existe cura para a resistência a leptina?

Não, assim como não dá para curar a resistência a insulina, por isso tanto a obesidade como o diabetes são doenças crônicas.

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Na obesidade, o aumento da inflamação repercute em outros hormônios (cortisol, insulina…) e até na microbiota intestinal, promovendo colônias de bactérias que favorecem a absorção de energia dos alimentos.

No fim, o círculo vicioso conspira para aumentar a vontade de comer e acumular energia no tecido adiposo, situação que leva a uma inflamação crônica que ameaça o hipotálamo. “Caso isso perdure, pode até ocorrer a morte de neurônios ligados a saciedade, gerando um desequilíbrio definitivo na regulação do apetite”, diz Velloso.

O controle da fome e da saciedade depende, em boa medida, de mecanismos inconscientes, conduzidos por reações químicas e sinais elétricos que ficam descompensados na obesidade.

Para tratar essa doença, procure ajuda de uma equipe multiprofissional, envolvendo nutricionista, educador físico, médico endocrinologista e/ou cirurgião do aparelho digestivo e psicólogo.

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