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Hanseníase: o que é, as causas, os tratamentos e os sintomas

A hanseníase é uma doença cheia de estigmas devido às lesões que surgem na pele. Felizmente, existe tratamento gratuito e eficaz

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 15 jun 2021, 18h42 - Publicado em 11 jun 2021, 16h41
ilustração de pessoas afetadas pela hanseníase
Marcada por muito preconceito, a hanseníase só é transmitida em suas formas bem contagiosas e a pessoas suscetíveis. (Ilustração: Ana Matsusaki/SAÚDE é Vital)
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O que é a hanseníase e como ela é transmitida

A hanseníase – chamada antigamente de lepra – é uma doença crônica e transmissível provocada pela bactéria Mycobacterium leprae. Apesar de seus principais sintomas serem marcas na pele – falaremos disso mais adiante –, ela não é transmitida pelo toque nas feridas, e sim por contato com gotículas de saliva e secreções nasais por um longo período de tempo.

No entanto, ela só é passada de um indivíduo que pegou uma forma contagiante e que não está em tratamento para alguém considerado suscetível.

Entenda: “Para pegar a doença, você precisa ter uma grande suscetibilidade a ela. Isso só acontece com cerca de 5% da população. A maioria é resistente e não desenvolverá o problema mesmo se tiver contato com versões contagiantes”, tranquiliza a dermatologista Sandra Durães, coordenadora do departamento de hanseníase na Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

A incubação da M. leprae – ou seja, o tempo que leva para surgirem os sintomas após o contágio – demora de três a sete anos. Esse longo tempo é um dos fatores que dificulta o controle da doença.

Quais são os sintomas

Sandra explica que o alvo da Mycobacterium leprae são os nervos periféricos, que saem da medula e se espalham pelo corpo todo. “O que acontece com a pele é consequência do acometimento desse nervo”, informa.

É por conta disso que os primeiros sinais são lesões na derme: manchas brancas e vermelhas, placas, caroços, ressecamento e queda de pelos.

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Quando não se inicia o tratamento no começo, ocorrem também perda de sensibilidade, com sensação de formigamento e dormência nas mãos e nos pés, além de perda de força muscular. Essas alterações podem levar ao surgimento de ferimentos e posturas inadequadas, com deformações nos membros.

“Os pacientes com alta carga bacilar podem também apresentar sensação de nariz entupido”, acrescenta a dermatologista.

Quais são os fatores de risco

Como dissemos, para pegar hanseníase é preciso ser suscetível à ela. Essa característica é definida por fatores genéticos.

Porém, o risco aumenta para populações vulneráveis, com baixa renda e escolaridade e que vivem em moradias insalubres. “Ela é conhecida como uma doença ligada à pobreza. Está entre as enfermidades que atingem populações negligenciadas”, aponta a médica.

Tanto que o Brasil, por ser muito desigual socioeconomicamente, é o segundo país com maior número de casos, perdendo apenas para a Índia.

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Quais são os tipos de hanseníase

Outro fator necessário para que ocorra a infecção é o tipo de hanseníase, já que algumas são menos transmissíveis. Confira quais são abaixo:

Paucibacilar: é dividida entre a hanseníase indeterminada, na qual há poucas manchas de contornos mal definidos e sem comprometimento neural, e a tuberculóide, caracterizada também por poucas lesões, mas melhor definidas e já com um nervo afetado. Ambas são versões menos infecciosas.

● Multibacilar: aqui temos a hanseníase dimorfa, marcada por muitas manchas e placas, comprometimento de vários nervos e episódios de piora durante ou após o tratamento – as chamadas reações hansênicas ou estados reacionais. Por fim, há a virchowiana, que é a forma mais grave e com mais sintomas na pele, nos nervos e nos órgãos internos. Por terem maiores cargas bacterianas, as multibacilares são as versões mais contagiantes.

Como o diagnóstico é feito

O diagnóstico é essencialmente clínico, realizado através do exame dermatoneurológico, no qual se analisa a pele e os nervos periféricos pela palpação. Também são feitos testes de sensibilidade e força muscular.

Se o especialista ficar na dúvida, outros exames auxiliam a fechar o diagnóstico. “Na baciloscopia, medimos a carga bacilar colhendo uma linfa da lesão para ver a quantidade de bactérias”, ensina Sandra.

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Além desse, há a biópsia e o PCR. “Contudo, a maioria dos casos é diagnosticada pelo simples exame dermatoneurológico, realizado em 70% das vezes pela Atenção Primária no Sistema Único de Saúde (SUS)”, acrescenta.

Ilustração do século 14 mostra dois portadores de hanseníase tentando entrar numa cidade.
Ilustração do século 14 mostra dois portadores de hanseníase tentando entrar numa cidade. (Ilustração: Wikimedia Commons/SAÚDE é Vital)

Hanseníase tem cura? Saiba como funciona o tratamento

O tratamento é baseado em poliquimioterapia, que consiste em um esquema de vários antibióticos. Uma parte deles deve ser recebido uma vez por mês nas unidades básicas de saúde (UBSs) ou centros de referência, sendo utilizados no próprio ambulatório sob a supervisão da equipe médica. As doses diárias restantes são tomadas em casa.

A terapia varia de acordo com o tipo da enfermidade. Para a paucibacilar, dura seis meses. Já para a multibacilar, leva um ano.

“O paciente tem que estar muito bem orientado sobre o tratamento, porque ele é longo. Se deixar de tomar muitas doses supervisionadas, tem que refazer tudo”, avisa a dermatologista. Cabe frisar que o esquema terapêutico é oferecido exclusivamente no SUS.

Sandra lembra que cerca de 40% das pessoas doentes ainda correm o risco de passar pelas reações hansênicas durante ou depois da terapia, como citamos antes. Nesses quadros, as lesões dão uma piorada e surgem febre e dor nos nervos.

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“Normalmente, isso acontece quando o indivíduo não elimina totalmente os detritos inflamatórios. Aí, quando surgem outras infecções, como um simples resfriado, o sistema imune é estimulado e reage dessa forma”, esclarece a especialista.

Ao finalizar a poliquimioterapia, o paciente é considerado curado. Contudo, os medicamentos não são capazes de restaurar os estragos nos nervos periféricos. Por isso é tão importante realizar o diagnóstico precoce e iniciar a terapia o quanto antes.

Nos casos em que a doença já tiver avançado, será necessário, junto aos antibióticos, fazer um trabalho de prevenção à incapacidade. Ele consiste em fisioterapia e orientações para evitar infecções e novas lesões no dia a dia.

“Quando o indivíduo é bem ensinado, mesmo já com algum dano, ele pode ficar muito bem, sem desenvolver incapacidade”, relata.

Quais são as complicações da hanseníase

Além dos problemas decorrentes da inflamação nos nervos, uma das principais complicações são as lesões decorrentes da perda de sensibilidade – e que estão inclusive relacionadas ao estigma da enfermidade.

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Veja: ao encostar em uma panela quente, por exemplo, uma pessoa com a sensibilidade íntegra vai afastar a mão rapidamente, certo?

“Portadores de hanseníase não conseguem se proteger adequadamente. Então, eles vão se queimar e se machucar, terão infecções secundárias e até perderão fragmentos da pele”, informa a expert. Mais um motivo para buscar tratamento precoce.

Dá para prevenir?

A medida mais importante para evitar a hanseníase é buscar ajuda médica assim que alguém com quem você teve contato for diagnosticado.

Toda a rede do infectado precisa tomar a vacina BCG – aquela que recebemos nos primeiros dias de vida e que deixa uma marquinha no braço. “Ela é aplicada contra a tuberculose, mas também protege parcialmente contra a hanseníase, diminuindo o risco de ter formas graves”, conclui Sandra.

Caso já tenha tomado duas doses ao longo da vida, aí não é necessário.

Independentemente de ter aplicado o imunizante novamente ou não, lembre-se de que o período de incubação da M. Leprae é longo. Então, fique de olho em sinais que surgirem no corpo no decorrer dos anos. Se aparecer qualquer mancha, placa ou caroço, não demore a procurar o médico.

Por fim, não se esqueça de que pacientes que estão em tratamento não transmitem a enfermidade. Além de quebrar a cadeia de transmissão, é preciso combater o estigma e o preconceito.

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