A vacina da febre amarela é feita com uma versão atenuada do vírus vivo – ele fica praticamente incapaz de causar estragos, mas oferece o material necessário para que nossas defesas construam anticorpos contra a doença. Daí porque o risco de reações adversas é raro (uma morte a cada 450 mil doses aplicadas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo). Só que essa probabilidade pode aumentar se a sua imunidade é bastante abalada por uma enfermidade ou por certos remédios. E é isso o que às vezes ocorre com problemas reumatológicos como a artrite reumatoide.
Presente em até 2% da população, a enfermidade é causada por um ataque do nosso próprio sistema imunológico às articulações, especialmente nos dedos das mãos. Se não tratado direito, o quadro autoimune evolui para dores e deformações da região afetada.
“Quando estamos diante de uma doença que interfere na imunidade, é sempre bom avaliar o paciente antes de indicar qualquer vacina com vírus vivo atenuado”, explica o reumatologista Fernando Neubarth, ouvidor da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
A artrite reumatoide, o lúpus e outros males reumatológicos autoimunes podem, por si sós, bagunçar as defesas do corpo. Portanto, nas fases em que estão mais ativas, o ideal de fato seria não se vacinar contra a febre amarela.
Além disso, esses transtornos muitas vezes exigem o uso de corticoides ou outros imunossupressores. Estamos falando de remédios que diminuem a agressividade do sistema imunológico, o que abranda os ataques destrutivos contra o próprio organismo.
Ocorre que esse apaziguamento artificial na atividade dos soldados do corpo pode tornar a pessoa mais suscetível aos efeitos colaterais graves da vacina (e a infecções em geral). Tanto que uma nota técnica da SBR orienta a não imunizar contra a febre amarela pessoas que fazem uso dessas medicações.
Então a vacina é contraindicada sempre?
Não é bem assim. Se o paciente está, por exemplo, com artrite reumatoide controlada e faz uso de algum imunossupressor, é possível que ele suspenda o tratamento por alguns dias, tome a vacina da febre amarela, espere mais ou menos um mês até ela surtir efeito máximo e, aí, retome o seu medicamento.
Primeiro recado: isso só pode ser feito com acompanhamento muito próximo do médico reumatologista. Esse pessoal realmente não pode recorrer à vacinação sem antes conversar com o doutor.
Acima disso, essa estratégia é voltada para quem mora em zonas de risco ou precisa viajar a um local de circulação da febre amarela. “Do contrário, a vacina é desnecessária e vai oferecer um risco, mesmo que mínimo”, completa.
Daí o pedido por bom senso. Um paciente desses que vive num grande centro urbano e pretende ficar por ali não está sob risco de ser infectado com a febre amarela. Portanto, não vai colher benefícios da injeção.
Eles ainda devem pensar duas vezes antes de ir para zonas com relatos de casos e verificar se determinada viagem de turismo não poderia ser adiada. E, claro, quem já tomou a vacina antes do surgimento da doença autoimune pode se considerar protegido.
Para terminar, convém destacar que os males reumatológicos que não afetam o sistema imune, como a osteoporose, dispensam esses cuidados especiais. A não ser que seu portador tenha mais de 60 anos – mas aí já é outra história…