Excesso de formol no ar em salões de beleza (e em produtos para o cabelo)
Em uma cidade paulista, boa parte dos salões tem altas taxas de formol no ar – substância usada em produtos de alisamento capilar e que causa até câncer
O formol, uma substância com potencial cancerígeno, está tomando conta do ar de muitos salões de beleza, segundo um estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Pelo menos na cidade de Bauru, no interior paulista, 39% dos estabelecimentos teriam taxas excessivas dessa molécula circulando pelo ambiente.
Para o experimento, cientistas selecionaram 23 salões de beleza de diferentes regiões, que atendiam os mais variados públicos. A partir daí, instalaram dispositivos que captavam partículas no ar – eles ficavam posicionados na altura da cabeça dos cabeleireiros, que seriam os mais afetados por passaram o dia todo no ambiente.
As amostras, então, foram levadas para o laboratório. E foi lá que se descobriu que 39% delas ultrapassaram o limite de concentração de formol estabelecido no Brasil – 1,6 PPM (parte por milhão) para uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.
“Além de irritação em nariz, laringe e olhos, problemas respiratórios e na pele, o formol é uma substância cancerígena”, reforça Marcelo Eduardo Pexe, engenheiro ambiental e autor do levantamento. “Chegamos a encontrar amostras com até 4,2 PPM em uma única aplicação. Considerando que em muitos salões podem ocorrer até três escovas progressivas por dia, qual é o risco a que estão expostos os profissionais?”, questiona, em comunicado à imprensa.
Embora os cabeleireiros sejam os mais ameaçados pelo tempo de exposição, os clientes também devem ficar atentos.
Aliás, a pesquisa brasileira também testou 18 marcas de creme para escova progressiva usadas nesses salões. E todas ultrapassaram significativamente o limite de formol determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Para ter ideia, a concentração máxima no produto não pode extrapolar 0,2%. Só que, de acordo com o estudo, as quantidades variaram de 3,64 a 10,96% – até 54 vezes acima do valor máximo.
“Cerca de 65% das cabeleireiras apresentaram queixas de doenças ocupacionais, relatando irritação ocular, lesões de pele, cefaleia, dor em membros superiores e inferiores e problemas respiratórios”, explica Pexe.
Claro que não dá para extrapolar esses achados para o resto do Brasil. Por outro lado, eles alertam para a necessidade de profissionais e clientes refletirem um pouco mais sobre a necessidade do alisamento e, acima de tudo, buscarem produtos de boa qualidade. Além de, claro, aplicarem esses itens corretamente.
Não é só o creme para escova progressiva que importa
Outra descoberta interessante: características do salão de beleza influenciaram na concentração de formol no ar. Exemplos: quantidade de portas e janelas e altura do pé direito. Quanto mais ventilado, melhor.
Os pesquisadores também chamaram a atenção para o fato de que lavar os cabelos antes da etapa de secagem e “pranchamento” dos fios diminuiu a exposição a essa substância. Isso porque parte do produto seria retirada nesse processo.