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Exames genéticos podem evitar cirurgias de tireoide?

Cientistas buscam incorporação de tecnologia brasileira ao rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde

Por Lucas Rocha
Atualizado em 6 out 2023, 15h13 - Publicado em 6 out 2023, 15h02
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  • Estima-se que 60% dos brasileiros terão nódulos na tireoide em algum momento da vida, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

    “Nos últimos anos, observamos um crescimento significativo na incidência, muito provavelmente por conta do aumento de pedidos médicos de ultrassom e também pela melhora na tecnologia desses exames, que permitem observar nódulos cada vez menores”, afirma a médica endocrinologista Rosália do Prado Padovani, diretora da SBEM-Regional São Paulo.

    Na maior parte dos casos, eles serão benignos, mas cerca de 5% estão associados ao câncer.

    O problema é que nem sempre os exames que fazem essa diferenciação apresentam resultados conclusivos, o que pode levar a cirurgias de retirada da tireoide para que só então seja definido o diagnóstico.

    + Leia também: Câncer de tireoide: entenda quais são os sinais da doença

    Alternativa genética

    Nesse contexto, os testes moleculares podem ajudar a reduzir o número de procedimentos cirúrgicos. Eles avaliam dados genéticos das células, permitem investigar mutações e outras informações associadas ao câncer de tireoide.

    Atualmente, existem quatro exames desse tipo disponíveis no mundo, sendo um deles criado com tecnologia 100% nacional.

    O projeto brasileiro, chamado TMT-microRNA, foi desenvolvido entre 2015 e 2018 pelo laboratório Onkos. A fase inicial contou com a parceria do Hospital de Câncer de Barretos.

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    A validação do exame foi publicada no periódico científico Thyroid. Já a aplicação de maneira mais ampla na população foi descrita na revista eBioMedicine, que integra a Lancet Discovery Science.

    Neste segundo estudo, o exame demonstrou reduzir em até 52% as chances de cirurgia em pacientes com nódulo indeterminado.

    “Utilizamos o material da punção e, por meio da análise genética, classificamos se o paciente tem um nódulo benigno ou maligno para que se evite fazer uma operação desnecessária”, explica o cientista Marcos Santos, CEO da Onkos e responsável pelo desenvolvimento do teste.

    O estudo de moléculas é feito com base em informações de um banco de dados de nódulos de tireoide criado pelos cientistas.

    “Identificamos um painel de 11 microRNAs [tipo de molécula que regula a “atividade” dos genes]. Quando o nódulo é benigno, essas moléculas têm um perfil de expressão muito específico. Quando é maligno, o padrão se altera”, afirma Santos.

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    Atualmente, existem quatro exames moleculares para tireoide no mundo (Foto: Pedro Son/Divulgação)

    Ampliação do acesso

    O produto está sendo avaliado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para inclusão no rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde.

    A agência inicialmente foi desfavorável à incorporação, citando limitações metodológicas dos estudos disponíveis e incertezas quanto à acurácia do teste e ao número de cirurgias evitadas.

    Após essa primeira análise, a ANS realizou em setembro uma consulta pública para receber contribuições sobre o tema.

    “Tivemos 1.270 contribuições, sendo 97% favoráveis à incorporação da tecnologia. Dessas, cerca de 500 de médicos, entre endocrinologistas e cirurgiões de cabeça e pescoço. Agora, ela está novamente em análise pela agência e a previsão é de que o resultado seja anunciado antes do final do ano”, diz Santos.

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    Sediado em Ribeirão Preto, o laboratório oferece o teste para todo o Brasil e outros países. Na rede particular, o custo é de cerca de R$ 4 mil.

    A especialista da SBEM-SP reforça que nenhum teste molecular fornece 100% de certeza quanto ao diagnóstico. “Ele simplesmente vai oferecer mais uma avaliação ao risco de malignidade desse nódulo. A partir daí, o médico pode optar por uma conduta mais assertiva, seja uma cirurgia ou o acompanhamento durante mais um período”, diz Rosália.

    + Leia também: Tireoide: por mais bom senso na indicação de exames e tratamentos

    Avaliação da tireoide

    Nódulos da tireoide são classificados como benignos ou malignos de acordo com um sistema internacional chamada Bethesda, que vai de I a VI.

    “Nesses casos, temos Bethesda III, que é atipia de significado indeterminado, ou Bethesda IV, que é a suspeita de neoplasia folicular”, diz Rosália.

    Para fazer essa distinção, o exame mais comum consiste em um tipo de biópsia, com amostras coletadas com uma pequena agulha, inserida na área onde se encontra o caroço.

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    Dali, são aspiradas as células que serão analisadas pelo médico patologista em laboratório.

    A especialista explica que são recomendadas medidas diferentes para cada uma das classificações.

    “De conduta para o nódulo Bethesda III, a recomendação é repetição da punção ou teste molecular e, por fim, lobectomia diagnóstica, a cirurgia para retirada do nódulo a fim de fazer o diagnóstico. Nos casos Bethesda IV, a orientação é pelo teste molecular ou a cirurgia diagnóstica”, detalha.

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