Estima-se que 60% dos brasileiros terão nódulos na tireoide em algum momento da vida, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
“Nos últimos anos, observamos um crescimento significativo na incidência, muito provavelmente por conta do aumento de pedidos médicos de ultrassom e também pela melhora na tecnologia desses exames, que permitem observar nódulos cada vez menores”, afirma a médica endocrinologista Rosália do Prado Padovani, diretora da SBEM-Regional São Paulo.
Na maior parte dos casos, eles serão benignos, mas cerca de 5% estão associados ao câncer.
O problema é que nem sempre os exames que fazem essa diferenciação apresentam resultados conclusivos, o que pode levar a cirurgias de retirada da tireoide para que só então seja definido o diagnóstico.
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Alternativa genética
Nesse contexto, os testes moleculares podem ajudar a reduzir o número de procedimentos cirúrgicos. Eles avaliam dados genéticos das células, permitem investigar mutações e outras informações associadas ao câncer de tireoide.
Atualmente, existem quatro exames desse tipo disponíveis no mundo, sendo um deles criado com tecnologia 100% nacional.
O projeto brasileiro, chamado TMT-microRNA, foi desenvolvido entre 2015 e 2018 pelo laboratório Onkos. A fase inicial contou com a parceria do Hospital de Câncer de Barretos.
A validação do exame foi publicada no periódico científico Thyroid. Já a aplicação de maneira mais ampla na população foi descrita na revista eBioMedicine, que integra a Lancet Discovery Science.
Neste segundo estudo, o exame demonstrou reduzir em até 52% as chances de cirurgia em pacientes com nódulo indeterminado.
“Utilizamos o material da punção e, por meio da análise genética, classificamos se o paciente tem um nódulo benigno ou maligno para que se evite fazer uma operação desnecessária”, explica o cientista Marcos Santos, CEO da Onkos e responsável pelo desenvolvimento do teste.
O estudo de moléculas é feito com base em informações de um banco de dados de nódulos de tireoide criado pelos cientistas.
“Identificamos um painel de 11 microRNAs [tipo de molécula que regula a “atividade” dos genes]. Quando o nódulo é benigno, essas moléculas têm um perfil de expressão muito específico. Quando é maligno, o padrão se altera”, afirma Santos.
Ampliação do acesso
O produto está sendo avaliado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para inclusão no rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde.
A agência inicialmente foi desfavorável à incorporação, citando limitações metodológicas dos estudos disponíveis e incertezas quanto à acurácia do teste e ao número de cirurgias evitadas.
Após essa primeira análise, a ANS realizou em setembro uma consulta pública para receber contribuições sobre o tema.
“Tivemos 1.270 contribuições, sendo 97% favoráveis à incorporação da tecnologia. Dessas, cerca de 500 de médicos, entre endocrinologistas e cirurgiões de cabeça e pescoço. Agora, ela está novamente em análise pela agência e a previsão é de que o resultado seja anunciado antes do final do ano”, diz Santos.
Sediado em Ribeirão Preto, o laboratório oferece o teste para todo o Brasil e outros países. Na rede particular, o custo é de cerca de R$ 4 mil.
A especialista da SBEM-SP reforça que nenhum teste molecular fornece 100% de certeza quanto ao diagnóstico. “Ele simplesmente vai oferecer mais uma avaliação ao risco de malignidade desse nódulo. A partir daí, o médico pode optar por uma conduta mais assertiva, seja uma cirurgia ou o acompanhamento durante mais um período”, diz Rosália.
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Avaliação da tireoide
Nódulos da tireoide são classificados como benignos ou malignos de acordo com um sistema internacional chamada Bethesda, que vai de I a VI.
“Nesses casos, temos Bethesda III, que é atipia de significado indeterminado, ou Bethesda IV, que é a suspeita de neoplasia folicular”, diz Rosália.
Para fazer essa distinção, o exame mais comum consiste em um tipo de biópsia, com amostras coletadas com uma pequena agulha, inserida na área onde se encontra o caroço.
Dali, são aspiradas as células que serão analisadas pelo médico patologista em laboratório.
A especialista explica que são recomendadas medidas diferentes para cada uma das classificações.
“De conduta para o nódulo Bethesda III, a recomendação é repetição da punção ou teste molecular e, por fim, lobectomia diagnóstica, a cirurgia para retirada do nódulo a fim de fazer o diagnóstico. Nos casos Bethesda IV, a orientação é pelo teste molecular ou a cirurgia diagnóstica”, detalha.