Exames de imagem ajudam a desvendar doenças psiquiátricas
O registro da atividade em certas áreas do cérebro sinaliza diferentes transtornos
Da anatomia do cérebro ao seu funcionamento: o uso de tomografia e ressonância magnética aliado à cintilografia se populariza no diagnóstico de problemas como depressão e esquizofrenia.
Um dos pioneiros no país no uso da cintilografia de perfusão cerebral por tomografia por emissão de fóton único (Spect), o radiologista Roberto Levi Jales, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), conta a origem da técnica: “Nos anos 1990, dois médicos americanos da Universidade da Califórnia observaram que as imagens do cérebro de pessoas com determinadas patologias seguiam diferentes padrões de cor após a administração de uma substância radioativa na veia: vermelho para transtorno bipolar, azul para esquizofrenia, por exemplo”.
A partir daí, eles criaram um banco de dados para estabelecer referências de cada doença. “O Spect é um apoio valioso na diferenciação de desordens cerebrais que nem sempre têm sintomas específicos”, resume Jales.
Mais que mil palavras
À esquerda, o exame mostra uma distribuição sanguínea normal nos neurônios. Já à direita, captura fluxo em excesso, caracterizado pela cor vermelha. “Nesse caso, a queixa era de depressão, mas o resultado confirmou se tratar de transtorno bipolar, num momento em que o paciente estava entrando numa fase maníaca”, explica o professor da UFRN.
De olho na tela
As doenças psiquiátricas e neurológicas na mira dos exames de imagem:
Depressão
O diagnóstico preciso é crucial para o manejo da doença, marcada por manifestações inespecíficas como tristeza, alteração do sono e letargia.
Esquizofrenia
No mapeamento cerebral feito por cintilografia, a coloração azul em determinadas regiões aponta a desordem que causa alucinações e delírios.
Demências
As manchas captadas nas imagens podem detectar distúrbios neurodegenerativos como Alzheimer e até indicar o grau de gravidade do quadro.
Bipolaridade
Com oscilações entre euforia e depressão, o transtorno compromete as conexões no lobo frontal, região onde se organizam pensamentos e emoções.
Brasil em um banco de dados
A cintilografia é usada por aqui há anos para flagrar alterações no cérebro. “Mas, para que seja eficaz em diagnósticos psiquiátricos, é preciso ter uma quantidade de imagens suficiente para fazer correlações entre os padrões de atividade cerebral”, esclarece Jales.
A boa notícia é que o Brasil passou a integrar um banco internacional com dados americanos, europeus e chilenos, que reúne mais de 180 mil varreduras catalogadas.
“Para alimentá-lo, os exames têm que seguir critérios rigorosos, como o uso de um fármaco específico como radiotraçador e imagens feitas em um mesmo modelo de aparelho e em determinadas posições”, contextualiza o radiologista, que coordena o uso da técnica em Natal, no Rio de Janeiro e em Vitória.