Outubro Rosa: Revista em casa por 9,90
Continua após publicidade

Desafios da anemia falciforme – e o tratamento atual

Pesquisa aponta desinformação geral sobre essa doença de origem genética, e mostra como ela afeta o cotidiano dos pacientes. Avaliamos o cenário

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 10 abr 2023, 15h40 - Publicado em 11 jul 2022, 16h37
o que é anemia falciforme
A causa da anemia falciforme é genética, marcada por uma alteração no formato dos glóbulos vermelhos do sangue  (Foto: ANIRUDH/Unsplash/Divulgação)
Continua após publicidade

Em quatro anos morreram, no Brasil, mais de 3 300 pessoas abaixo de 40 anos com anemia falciforme, marcada por alterações dos glóbulos vermelhos que gera sintomas como dores, cansaço e feridas. A doença, decorrente de uma mutação genética, vitimiza mais as mulheres (52%) e a população negra (80%). Esses dados vêm dos estudos que tentaram mapear esse problema por aqui.

Mas uma pesquisa da farmacêutica Global Blood Therapeutics, Inc. (GBT) verificou o impacto da anemia falciforme no cotidiano, a partir de informações de 1 300 indivíduos em dez países (Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Canadá, Bahrein, Omã e Alemanha). Segundo ela, adultos e crianças com a doença faltam, em média, mais de uma semana por mês na escola ou no trabalho.

O mesmo levantamento indica que 53% dos médicos não têm ferramentas eficazes para ajudar seus pacientes a lidarem principalmente com as dores e o cansaço, sinais que mais prejudicam a qualidade de vida de que tem anemia falciforme. Esses mesmos profissionais carecem de uma rede de apoio, seja do governo ou de associações, que mantenha o paciente informado a evolução da doença ao longo de sua vida.

+ Leia também: Anemia: o que é, sintomas, causas e como combater

Os danos aos sistemas de saúde também são financeiros. Estima-se que o Brasil gaste 400 milhões de dólares por ano tratando complicações da doença.

Continua após a publicidade

No Brasil, a Bahia é a região com maior incidência. “No estado, há uma criança falciforme a cada 250 nascimentos. O mais comum é que a partir do resultado do teste do pezinho o bebê já seja encaminhado a um hemocentro da região. Mas nem sempre isso ocorre”, explica Rodolfo Cançado, hematologista e hemoterapeuta do Hospital Samaritano, em São Paulo, e membro do comitê de glóbulos vermelhos e do ferro da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).

O Ministério da Saúde divulgou que, em 2018, havia 100 mil casos da doença no Brasil, e criou um protocolo de tratamento. Especialistas apontam, no entanto, que ainda há desigualdade na forma de atendimento entre as regiões.

O que é a anemia falciforme e de onde ela vem?

Ela é marcada por um defeito no formato das hemácias, as células que carregam oxigênio no sangue. Em vez de serem redondos, os glóbulos vermelhos assumem o formato de foice e ficam endurecidos. Isso provoca entupimentos em veias e artérias, o que pode acarretar infarto, derrame ou crises no fígado e nos rins. O diagnóstico é feito pela eletroforese de hemoglobina que consta no teste do pezinho.

Essa doença genética é mais frequente em quem descende de famílias da África Subsaariana. Mas também afeta em maior grau indivíduos de ascendência hispânica, do sul da Ásia, do sul da Europa e do Oriente Médio.

Continua após a publicidade

As consequências da anemia falciforme já são sentidas nos primeiros meses de vida. “Há sintomas como anemia, ictericia, dificuldade de ganhar peso. A criança fica muito irritada, tem dificuldade de desenvolvimento”, relata Cançado.

No geral, os sintomas da anemia falciforme são:

  • dores fortes
  • fadiga intensa
  • atraso no crescimento
  • feridas
  • palidez
  • sistema imunológico frágil, com tendência a infecções
  • complicações neurológicas, cardiovasculares, pulmonares e renais

O dia a dia da pessoa diagnosticada é comprometido, em grande parte, pelas dores. “Elas ocorrem porque há uma oclusão de certos vasos, o que dificulta o fluxo sanguíneo”, explica Cançado.

Esse sintoma pode surgir em qualquer parte do corpo, seja nos braços, nas pernas, no pulmão, no sistema nervoso. Quando a crise dolorosa é intensa demais, o indivíduo precisa buscar atendimento hospitalar para receber analgésicos mais potentes.

Continua após a publicidade

A fadiga extrema é um ponto menos abordado pelos especialistas, mas bastante relatado por indivíduos que participaram daquela pesquisa da GBT. Ou seja, quando não é a dor que paralisa, o cansaço impede que a pessoa realize suas atividades diárias.

Como é o tratamento?

Em bebês, vacinas para prevenir complicações por outras doenças e doses preventivas de antibióticos são ministradas. “A cada três meses, é preciso de uma nova avaliação para evitar as complicações que podem ocorrer nesse início da vida, como derrame cerebral”, destaca Cançado.

O remédio mais usado é a hidroxiureia. “É um quimioterápico que ajuda a controlar complicações e a mortalidade. Ainda não é o ideal. Ele é, muitas vezes, utilizado com outras terapias combinadas”, analisa o médico da ABHH. Um problema da hidroxiureia são seus efeitos colaterais, intoleráveis em certos casos que podem ser inaceitáveis ​​para algumas pessoas.

Mais recentemente, anticorpos monoclonais entraram em cena contra a doença. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, aprovou o crizanlizumabe (da Novartis), que age especificamente em uma molécula ligada à enfermidade. Segundo estudos, ele reduz as crises de dor em 45%. Mas o fármaco ainda não está no SUS.

Continua após a publicidade

Outras drogas similares também foram desenvolvidas. Em 2019, voxelotor (da GBT) foi aprovado nos Estados Unidos, com a promessa de melhorar a saúde dos glóbulos vermelhos. O remédio ainda não chegou ao Brasil.

A mesma farmacêutica está testando o inclacumabe, um novo anticorpo monoclonal, em estudos clínicos de fase 3.

Compartilhe essa matéria via:

Mas não só a tecnologia vai melhorar o tratamento. O correto é que haja uma equipe multidisciplinar no acompanhamento. “As complicações da doença envolvem oftalmologista, endocrinologista, psicoterapia. São muitas áreas que precisam conversar”, aponta Cançado.

Continua após a publicidade

+ Leia também: Doação de medula óssea: os bancos precisam de jovens adultos

A única possibilidade de cura é o transplante de medula-óssea, mas a indicação depende de algumas características da doença. E ainda é uma luta encontrar um doador compatível. “Não chegamos nem a cem transplantes por cada 50 mil habitante no Brasil”, pontua Cançado.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.