Como uma dor se torna crônica?
Calcula-se que até três em cada dez pessoas convivam com um incômodo persistente em uma região do corpo. Coluna lidera queixas
A dor é, antes de tudo, um mecanismo de proteção. Entretanto, às vezes pode persistir mesmo quando o problema para o qual ela alerta já está resolvido.
Veja como sentimos o incômodo e porque ele se torna uma dor crônica:
1. Sistema de alarme
Sempre que acontece um machucado ou há um perigo iminente, como ao colocar a mão no fogo, pequenas estruturas chamadas nociceptores detectam o estímulo negativo e convertem a informação em impulsos elétricos, que serão enviados pelos nervos até a medula espinhal e, de lá, ao cérebro.
Esses receptores existem no corpo todo, mas estão mais concentrados na pele.
2. Central de processamento
É no cérebro que os impulsos elétricos são interpretados, com base em experiências anteriores, no contexto em que ocorreu o estímulo e no estado emocional da pessoa.
Várias áreas são ativadas, entre elas os lobos frontal e parietal, que participam da tomada de decisões, e o tronco cerebral, uma espécie de farmácia interna, que libera neurotransmissores como serotonina, endocanabinoides e outros de ação analgésica.
3. Ação e reação
Parte do que acontece no cérebro envolve a produção de hormônios no hipotálamo, entre eles o do estresse e os que ativam o sistema imune, responsável por promover uma reação inflamatória e enviar células de defesa ao local ferido. E
sse processo é doloroso, mas regenerativo e controlado. Depois de alguns dias ou semanas, o machucado ou a doença melhoram e o trânsito de moléculas volta à normalidade.
4. Pane no sistema
A grande questão é que, para algumas pessoas, a dor permanece mesmo com a resolução do problema no local. Isso até pode ocorrer por uma sensibilização das fibras nervosas envolvidas na troca de informações, mas na maioria das vezes o enrosco é central.
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É como se o sistema de alarme do cérebro estivesse quebrado e os mecanismos de controle da dor funcionassem pior do que antes.
Causas e consequências
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Tem solução
A fisiatra brasileira Andrea Furlan, da Universidade de Toronto, no Canadá, usa uma analogia para falar do tratamento da dor crônica: “Muitas vezes, as pessoas com o problema procuram soluções locais, como uma massagem para as costas, mas, como se trata de algo central, no sistema de alarme do cérebro, seria como chamar a polícia ou a ambulância toda vez que ele dispara à toa”.
Existem medicamentos e até cirurgias que podem corrigir os mecanismos descompensados, mas o que mais funciona são as mudanças de estilo de vida. Destaque para a prática de exercícios regulares e o cuidado com o sono e a mente.
Fontes: Andrea Furlan, fisiatra da Universidade de Toronto, no Canadá; Manoel Jacobsen, neurologista do Hospital Sírio-Libanês (SP)