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Como nasce o vício por comida

A repetição exagerada de atitudes prazerosas, como tomar um sorvete ou beber vinho, altera o cérebro, promovendo a compulsão

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 7 dez 2018, 17h08 - Publicado em 10 ago 2016, 14h34

Por que uma pessoa tomaria uma atitude que sabe que será destrutiva, como apostar até perder todo o dinheiro? Essa pergunta norteou a carreira do neuropsiquiatria Stephen Stahl, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Ao longo das décadas, o especialista estudou o comportamento de pessoas viciadas nas mais diversas coisas e como isso mexe com o cérebro delas.

Aproveitando que ele esteve em São Paulo para uma palestra — durante o evento “The Best of Brain, Behavior and Emotions”, que teve o apoio da farmacêutica Libbs —, SAÚDE fez uma entrevista com o expert. Saiba agora como uma atitude prazerosa pode se transformar em um vício e como os profissionais estão lidando com isso.

SAÚDE: Por que uma pessoa se vicia em algo?
Stephen Stahl: Começamos a fazer várias coisas porque elas são recompensadoras. Mas, com o tempo, isso vai de recompensador para uma prática excessiva e, por fim, transforma-se em um hábito. E o cérebro não é mais o mesmo quando se vicia.

Temos vários tipos de vício, como o de comida. Muitos obesos têm compulsão alimentar. São pessoas que não comem porque estão com fome. Estão fazendo isso porque virou um hábito ruim com repercussões no cérebro.

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Aí que está: por que alguém faz uma coisa destrutiva? Se você é esperto, sabe que apostar dinheiro demais trará problemas. Se tomar essas drogas, vai ser preso, vai perder sua esposa. Então, por que faz? A resposta é que todo mundo fica condicionado, como um cachorro que saliva quando ouve o barulho do pacote de ração. Os indivíduos, quando se viciam em comida, não cheiram, não sentem o gosto, não aproveitam e não param. Eles estão condicionados. Veem uma geladeira e pensam em comer, veem um pacote de bolacha e querem acabar com ele. E quando comem, não aproveitam.

Para entender isso dentro da cabeça, vou usar o exemplo do alcoolismo. Na ausência de um vício, o cérebro produz mais dopamina, um neurotransmissor do prazer, quando você bebe ou cheira o vinho. A dopamina, portanto, é o prazer que você sente. O curioso é que, quando está viciado, não é assim. Entre os viciados, os picos de dopamina surgem quando você vê a garrafa ou o copo. É uma resposta condicionada, só com base na expectativa. E o pior é que, ao beber, a dopamina nem sobe tanto. Ou seja, não há prazer no ato em si quando o sujeito tem uma adição.

Além disso, o cérebro muda a forma como funciona. No vício, a região mais ativada não é uma relacionada ao controle, mas sim outra vinculada a reações automáticas. Ele entra no piloto automático. Você nem percebe que está mordendo as unhas, batendo o pé… Ou comendo. São hábitos.

Como tratar isso então?
Temos que quebrar o hábito. Infelizmente, estamos começando a entender que as mudanças provocadas no cérebro por um vício podem ser irreversíveis. No entanto, um novo aprendizado talvez bloqueie um antigo. Ou seja, em vez de tentar fazer o cérebro voltar ao normal, podemos criar um circuito paralelo — e é aí que entra a psicoterapia. Nela, o paciente aprende a suprimir o circuito do vício sem se livrar dele. Essa pode ser a chave do tratamento. Mas ainda estamos aprendendo muito sobre o tema.

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Temos que entender que ter recaídas é comum no tratamento. É como cair do cavalo: você não pode desistir por isso. Em resumo, o dano pode ser permanente, mas isso não quer dizer que não há esperança.

Mas, com relação ao vício por comida, a pessoa não pode simplesmente parar de se alimentar. Isso é um desafio a mais?
Certamente. Você até pode parar de beber álcool, mas não de comer. A adição é o excesso. Como definir esse termo que é o desafio. Na psiquiatria, excesso é quando alguém começa a afetar o próprio funcionamento social por causa de uma atitude. E isso pode acontecer com comida, exercício físico, apostas…

Várias vezes, o vício vem de uma tentativa de escape, como a perda de um relacionamento. A pessoa pode estar lidando mal com a perda. Ela imagina que não precisa lidar com esse término, desde que fique se exercitando ou comendo. Mas assim que para, a perda está ali. Lidar com isso é doloroso, mas necessário.

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