Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Como a pandemia pode ter ajudado a criar bactérias superresistentes

Crenças equivocadas e outros motivos promovem o consumo exagerado de antibióticos durante a pandemia, o que pode trazer outro problema de saúde pública

Por Cristiane Santos, da Agência Einstein*
Atualizado em 13 out 2021, 13h18 - Publicado em 13 out 2021, 13h00

A pandemia de covid-19 pode acelerar o processo de evolução da chamada resistência bacteriana. Isso acontece quando esses micro-organismos conseguem se adaptar e se tornar refratários ao tratamento com antibióticos, dando origem a bactérias mais difíceis de combater.

Consideradas um desafio para a medicina, as chamadas superbactérias já eram motivo de preocupação das principais organizações de saúde antes mesmo do Sars-CoV-2 se espalhar pelos seis continentes e infectar mais de 235 milhões de pessoas.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, a estimativa era de que, até 2050, cerca de 10 milhões de pessoas morreriam, a cada ano, por doenças resistentes a medicamentos. Agora, a previsão está sendo revista.

Em fevereiro de 2021, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), afirmou, em um comunicado, que “a resistência aos antibióticos ainda é uma ameaça à saúde pública durante a pandemia” e que estava monitorando “de perto” a relação entre o uso desses fármacos para a doença e a resistência antibacteriana em todo o país. Antes disso, no fim de 2020, a regional europeia da OMS publicou um comunicado alertando sobre esse mesmo risco.

Continua após a publicidade

Uma pesquisa comportamental conduzida pela OMS em nove países europeus apontou um crescimento do uso de antibióticos durante a pandemia. Entre os que tomaram esses medicamentos, 79% a 96% afirmaram que os utilizavam acreditando que poderiam prevenir a infecção.

LEIA TAMBÉM“Medicamentos estão sendo usados irracionalmente”, alerta farmacêutico

Ainda de acordo com a entidade, 75% dos internados em estado grave receberam antibióticos, apesar de apenas 15% terem desenvolvido coinfecções causadas por bactérias, que justificariam a indicação.

Continua após a publicidade

Cenário no Brasil

No Brasil, o consumo de antibióticos também parece ter aumentado. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), só em 2020, a venda do antibiótico azitromicina cresceu 105%.

Esse fármaco pode integrar o tratamento de doenças respiratórias causadas por bactérias, porém não é indicado para uso preventivo ou para o combate da covid-19 em si. Nesse contexto, a azitromicina e outros possíveis antibióticos só entrariam em cena quando há uma clara suspeita de coinfecção por uma bactéria oportunista.

LEIA TAMBÉMMais um estudo aponta ineficácia da azitromicina no tratamento da Covid-19

Continua após a publicidade

“O uso desnecessário ou indiscriminado de antibióticos pode, com o tempo, tornar infecções bacterianas simples em doenças difíceis de serem combatidas”, afirma Geraldo Druck Sant’Anna, médico e professor de otorrinolaringologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

O médico, que também é ex-presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial (ABORL-CCF), explica que as vias aéreas superiores — nariz e cavidade nasal, faringe e laringe — são a porta de entrada para vírus e bactérias causadores de diversas doenças. As infecções virais, mais comuns, são frequentemente tratadas equivocadamente com antibióticos.

“Ainda que no Brasil o consumo de antibióticos seja controlado com a retenção da receita médica desde 2010, é comum que pacientes peçam indicação aos médicos durante a consulta. Também não é incomum o médico prescrever o medicamento por avaliação equivocada, por precaução de piora do quadro ou por não poder acompanhar a evolução do estado de saúde nos próximos dias”, enumera o otorrinolaringologista.

Continua após a publicidade

O diagnóstico correto, que considera histórico do paciente, tempo de sintomas e, quando necessário, exames laboratoriais, é fundamental para a indicação do tratamento correto. “Em infecções virais, é necessário observar e apenas tratar os sintomas com remédios, ajudando o paciente a passar pelo período natural da doença com menos desconforto”, ensina. A ingestão de líquidos e repouso também são eficientes no tratamento.

Como evitar a resistência bacteriana

● Use apenas antibióticos quando prescritos por um profissional de saúde certificado
● Nunca exija antibióticos se o seu profissional de saúde disser que você não precisa deles
● Nunca compartilhe sobras de antibióticos
● Previna infecções lavando regularmente as mãos, preparando os alimentos de forma higiênica, evitando o contato próximo com pessoas doentes, praticando sexo seguro e mantendo as vacinas em dia

O aumento da resistência bacteriana é ameaça à saúde pública mundial

Os mecanismos de resistência desenvolvidos pelas bactérias ameaçam a capacidade do tratamento de doenças infecciosas comuns, o que pode resultar em duração prolongada das condições e até a morte.

Continua após a publicidade

De acordo com a OMS, a resistência aos antibióticos está colocando em risco conquistas da medicina moderna e podem tornar perigosos procedimentos como cesarianas, cirurgias comuns, quimioterapias e transplantes de órgãos.

Para ter uma ideia, cerca de 230 mil pessoas no mundo morrem de tuberculose multirresistente por ano, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019.

*Esse conteúdo foi originalmente publicado na Agência Einstein

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.