Na mesma medida em que a popularidade dos cigarros eletrônicos cresce, sobretudo entre jovens, seus perigos à saúde vão ficando cada vez mais claros. Agora, um novo estudo associa esse tipo de produto a uma maior probabilidade de disfunção erétil em homens, independentemente da idade, do histórico de doença vascular ou de outros fatores de risco.
Pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine e da Johns Hopkins University School of Medicine usaram uma base de dados com informações sobre os hábitos relacionados ao uso de tabaco e à saúde de mais de 45 mil adultos. Mas eles focaram em 13 711 homens que responderam sobre disfunção erétil. Também avaliaram uma amostragem mais restrita, de 11 207 homens com idades entre 20 e 65 anos, sem diagnóstico prévio de doença cardiovascular.
A partir dos questionários, foi constatado que quem fuma cigarros eletrônicos diariamente tem 2,4 vezes mais risco de desenvolver a disfunção erétil em comparação com os indivíduos que nunca fazem uso desses dispositivos.
Vira e mexe, ouvimos que, por não gerarem combustão, esses produtos não expõem o usuário ao monóxido de carbono – daí porque os fabricantes alegam que eles seriam menos perigosos. Porém, a nicotina também é responsável por processos inflamatórios no organismo, além de causar a dependência.
“Essa substância lesa o interior dos vasos sanguíneos, prejudicando a circulação. Isso aumenta a pressão arterial e, como consequência, o risco de doenças cardíacas”, afirma a cardiologista Jaqueline Ribeiro Scholz, coordenadora do Comitê de Controle do Tabagismo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
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Você pode estar pensando: mas o que isso tem a ver com a disfunção erétil? Pois bem: esse mesmo mecanismo capaz de provocar um infarto ou AVC está por trás da impotência.
“A ereção masculina depende da boa circulação sanguínea. O pênis precisa de vasodilatação para ter ficar ereto. Não à toa, a disfunção erétil é um dos marcadores de risco para doenças cardiovasculares”, ensina a cardiologista.
Mais perigoso do que o cigarro comum
O cigarro eletrônico tem potencial de causar mais danos em relação ao convencional devido à forma com que é utilizado. “Como não há um cheiro incômodo e não dá para contar as unidades fumadas, o usuário perde completamente a referência do quanto está consumindo”, descreve a cardiologista.
Segundo Jaqueline, uma pessoa que fumava dez cigarros por dia, por exemplo, pode chegar a inalar o equivalente a um maço inteiro com o vaporizador sem se dar conta.
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“Quando avaliamos o sangue dos usuários, encontramos substâncias cancerígenas do tipo 1 por causa da quantidade de nicotina ingerida”, relata a médica. Agentes considerados de grau 1 são aqueles com potencial carcinogênico atestado por evidências científicas.
Fora a nicotina, outros elementos maléficos estão presentes nos diversos modelos do produto. Há solventes químicos, compostos orgânicos voláteis e aldeídos, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, material particulado ultrafino, além de compostos que produzem os sabores. É uma bomba para o organismo.
“Há uma nova geração, chamada de PODs, que contém micropartículas de nicotinas aliadas a outras substâncias, que, pelo seu tamanho, são mais rapidamente absorvidas na corrente sanguínea, o que provoca uma reação inflamatória imediata no organismo”, conta Jaqueline.
No Brasil, a venda do produto é proibida, mas os usuários encontram maneiras de adquiri-lo. “Há muitas opções na internet. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) precisa manter a proibição e coibir a comercialização no Brasil”, defende a médica.
Há pouco tempo, nos Estados Unidos, o uso indiscriminado dos cigarros eletrônicos internou milhares de jovens e matou seis pessoas por uma síndrome respiratória misteriosa. Por lá, os jovens ainda têm o hábito de misturar a nicotina a outros elementos, como o THC, substância psicoativa encontrada na cannabis.
“O cigarro comum, que também é claramente prejudicial, leva anos para provocar consequências, enquanto a versão eletrônica causa estragos em poucos meses de uso”, alerta a médica. Passou da hora de entendermos que esses modelos tecnológicos estão longe de serem inofensivos.