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Casos de reinfecção por Covid-19 no Brasil e no mundo: o que sabemos

A ciência já comprovou que é possível contrair o coronavírus duas vezes. Entenda quão comum isso é e o papel das novas variantes na reinfecção

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 12 mar 2021, 12h18 - Publicado em 22 jan 2021, 17h30
Sars-Cov-2
Casos de reinfecção por Covid-19 ainda são raros, mas número pode ser subestimado, alertam especialistas.  (Unsplash/CDC/Divulgação)
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No dia 15 de janeiro de 2020, o Brasil confirmou seu quinto caso de reinfecção por Covid-19. Trata-se de uma mulher que contraiu, no final de dezembro, a nova variante do coronavírus identificada no Amazonas.

O assunto é permeado de incógnitas. Apesar de ser possível contrair a doença duas vezes, isso não parece acontecer com muita frequência. Por outro lado, as novas mutações alertam para aumento do risco de reinfecções nos próximos meses e exigem mais estudos. Ou seja, talvez elas mudem esse cenário.

Conversamos com dois infectologistas para responder dúvidas comuns sobre o tema.

Quantos casos de reinfecção aconteceram no Brasil e no mundo?

Difícil saber ao certo. O primeiro caso confirmado no mundo veio à tona em 25 de agosto: um homem de Hong Kong, que não chegou a desenvolver sintomas no segundo contágio.

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O site BNO News mantém uma contagem atualizada diariamente, com base nas informações oficiais dos países. O contador acusa, no dia 22 de janeiro, 39 casos confirmados e quase 10 mil em investigação. No Brasil, cinco ocorrências foram registradas até essa data.

Especialistas alertam, contudo, que o número pode estar longe da realidade. “Não é uma situação comum, mas com certeza deve existir mais do que o que já vimos oficialmente, porque é difícil comprovar uma reinfecção”, aponta o infectologista Wladimir Queiroz, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Como se comprova uma reinfecção?

O Ministério da Saúde considera caso suspeito a pessoa com dois resultados positivos no exame de RT-PCR, que detecta a presença do vírus no organismo, com intervalo igual ou superior a 90 dias entre as duas infecções.

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Mas, para ter certeza de que se trata de uma nova doença, é preciso sequenciar o código genético do vírus nas duas ocasiões e comparar os resultados. “E essa não é uma prática do cotidiano”, pontua Queiroz. Ou seja, a falta dessa avaliação dificulta uma contagem precisa dos episódios de reinfecção.

Qual é o papel das novas mutações do coronavírus nesse cenário?

Dos cinco registros de reinfecção no Brasil, dois estão ligados às variantes identificadas no Amazonas e na África do Sul. Pelo perfil das mutações genéticas, os cientistas suspeitam que elas sejam mais contagiosas e poderiam escapar dos anticorpos desenvolvidos na primeira vez. A versão africana já foi alvo de um estudo neste sentido, ainda não revisado por outros pesquisadores.

De qualquer modo, as especulações fazem sentido. É comum que os vírus sofram mutações para driblar o sistema imune, e isso pode levar a reinfecções. É o que ocorre com o influenza, da gripe. Ele muda tanto que exige vacinas novas todos os anos, e quem pegou uma vez não está livre de ficar gripado de novo.

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“Pelo que estamos vendo, parece que o Sars-CoV-2 vai se comportar desse jeito, exigindo reforços periódicos da imunização. Mas isso ainda deve ser confirmado em estudos”, aponta o infectologista Guilherme Furtado, líder médico da Infectologia do HCor, em São Paulo. Por ora, não há indícios de que as mutações escapem das vacinas.

Por que a reinfecção acontece, então?

Além do papel das variantes, há outras possíveis explicações. Pessoas afetadas novamente tiveram, em sua maioria, quadros brandos ou até assintomáticos no primeiro contato com o novo coronavírus. “Isso pode indicar que não houve uma resposta imune muito robusta, o que os deixaria mais suscetíveis a uma nova infecção”, aponta Queiroz.

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Outra teoria sugere que a imunidade adquirida não seria duradoura. “Estamos vendo, nos estudos, que o nível de anticorpos cai em alguns meses. Isso não significa que houve perda total da proteção, mas pode ser um indicativo de que ela diminui com o tempo”, diz Queiroz.

“Os achados sobre o assunto são contraditórios, mas existem evidências de que a capacidade de defesa fica reduzida a partir do sexto mês, abrindo caminho para reinfecções”, concorda Furtado.

De novo, isso não seria uma exclusividade do Sars-CoV-2. Estudos indicam que o contato com os coronavírus que causam resfriados comuns desperta uma imunidade temporária, de poucos meses.

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A primeira ocorrência confirmada no mundo é um exemplo disso. Ao contrair o agente pela segunda vez, o sistema imune daquele homem produziu uma nova leva de anticorpos. Mas ainda há muitos pontos de interrogação nessa história. A mulher reinfectada no Amazonas, por exemplo, tinha anticorpos em circulação, escreveram os autores da descoberta. E mesmo assim teve sintomas moderados.

A segunda vez é mais grave?

Os relatos da literatura apontam para diferentes cenários. Há pessoas que manifestaram casos leves nas duas vezes e outras que só apresentaram sintomas em uma das duas infecções. E surgiram relatos raros de episódios mais graves na segunda ocasião. Conclusão: “Temos um número muito pequeno de acometidos para fazer qualquer inferência sobre o prognóstico da pessoa”, pontua Furtado.

Diante das incertezas e da chegada de novas variantes, a recomendação atual é considerar que o risco de desenvolver complicações da Covid-19 em uma reinfecção se assemelha ao de quem pega o vírus pela primeira vez. “Mas, na prática, temos visto que a segunda infecção tende a ser mais leve. E que os pacientes com quadros graves não têm se reinfectado, talvez por causa da resposta mais robusta do sistema imune”, destaca Furtado.

É possível se prevenir das reinfecções?

Claro. E não tem segredo: mantenha todos os cuidados com a pandemia mesmo após se curar da Covid-19. Até porque é bem provável que o indivíduo acometido duas vezes pelo coronavírus, mesmo sem apresentar sintomas, seja capaz de transmitir o vírus.

“E isso vale para quem tomou as vacinas também”, destaca Queiroz. Ora, ainda não se sabe se as doses apenas protegem o imunizado ou se são capazes também de barrar a transmissão. Ou seja, o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene frequente das mãos seguem mandatórios até que a maioria da população esteja vacinada.

Isso é importante tanto para prevenir novos casos quanto as reinfecções. “Quanto mais o vírus circular, maiores as chances de ambas as coisas acontecerem. Independentemente de ser uma cepa mutante ou não, o cuidado é o mesmo”, ensina Furtado.

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