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O que saber sobre os casos de coronavírus sem sintomas

Algumas pessoas com o novo coronavírus não apresentam sinais da doença. Mas elas podem transmitir o vírus? Devem fazer exames?

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 18 ago 2020, 10h48 - Publicado em 13 mar 2020, 10h08
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  • O aumento no número de casos no Brasil e a confirmação de um episódio assintomático de infecção pelo novo coronavírus (chamado de Sars-CoV-2) em uma adolescente paulistana levantaram certas dúvidas. Pessoas sem sintomas devem fazer o exame para eventualmente diagnosticar o vírus? E mesmo nessa situação elas podem transmiti-lo? SAÚDE vai responder.

    Comecemos pelos exames: “Testar quem não está doente sobrecarrega o sistema de saúde e não traz benefícios para o indivíduo, uma vez que não há recomendação de tratamento para episódios assintomáticos”, aponta Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

    Fora que o indivíduo que vai até o hospital ou a um laboratório para ser testado pode acabar contaminado por outros vírus circulantes — estamos no vivendo os primeiros casos de infecção por influenza, o causador da gripe, que matou pelo menos mil pessoas em 2019. Aliás, a campanha de vacinação começa no dia 23 de março.

    Kfouri lembra ainda que muitos casos do novo coronavírus são leves e, portanto, é provável que indivíduos sem sintomas circulem pelo país em dado momento. “Em epidemias de doenças virais respiratórias, a maioria das infecções nem chega ao nosso conhecimento. Se testarmos todo mundo, encontraremos muitos positivos, mas não necessariamente essas pessoas ficarão doentes”, destaca o médico.

    Outro ponto contra a realização do exame em indivíduos sem sintomas é a imprecisão. Ora, um eventual resultado negativo não descarta a infecção dias depois. “Trata-se de um resultado que só serve para aquele momento”, reforça Celso Granato, infectologista do Fleury Medicina e Saúde. Ou seja, as pessoas precisariam fazer testes rotineiramente para terem certeza de que não carregam o Sars-Cov-2. E isso não é viável.

    No mais, o novo coronavírus pode permanecer incubado por até 14 dias, e ainda não se sabe a partir de quando ele passa a ser detectável no sangue.

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    É comum o novo coronavírus não causar sintomas?

    Só estudos populacionais dirão com certeza. Mas infecções assintomáticas são comuns na medicina. No caso da dengue, para ilustrar, estudos apontam que uma porcentagem alta de moradores de algumas regiões do Brasil possui anticorpos contra o vírus, o que comprova que houve contato com ele. Porém poucos lembram de terem ficado doentes.

    É possível que o mesmo ocorra com a Covid-19, nome da doença causada pelo novo coronavírus. As crianças e os adolescentes, por exemplo, parecem contrair o agente infeccioso e transmiti-lo, porém dificilmente ficam derrubados a ponto de serem internados. Já indivíduos mais velhos e com doenças crônicas são mais suscetíveis às complicações da enfermidade.

    Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?

    Sim, mas provavelmente menos. “De uma maneira geral, o nível de excreção do vírus está relacionado com a sintomatologia da doença. Ou seja, quanto mais doente a pessoa está, mais carga viral carrega e, portanto, mais vírus libera em circulação”, raciocina Kfouri.

    Fora que, sem tossir ou sem espirrar, já se eliminam duas vias de transmissão importantes do Sars-CoV-2, que é propagado por meio de gotículas das secreções respiratórias.

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    De novo, pesquisas futuras devem esclarecer esse ponto. “Por enquanto, temos apenas relatos esporádicos indicando contágio por meio dos casos assintomáticos”, conta Nancy Belley, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

    Quando fazer o teste do coronavírus sem sintomas

    Nancy esclarece que, em situações específicas, os médicos podem solicitar o exame mesmo que o indivíduo não esteja doente. “Aquela adolescente paulistana, por exemplo, compareceu ao hospital por outro motivo. Mas, como esteve na Itália e poderia disseminar o vírus em um ambiente com muitas outras pessoas do grupo de risco, o teste foi feito”, comenta a infectologista.

    O mesmo valeria para alguém que retornou de um país com ampla disseminação da Covid-19 e está com uma cirurgia marcada. “Quem irá fazer um procedimento cardíaco, por exemplo, que exige internação na UTI, um local onde o vírus pode ser mais perigoso, também poderia incluir o exame na preparação por precaução”, opina Nancy.

    No dia 13 de março, o Ministério da Saúde passou a recomendar que todo viajante internacional, ao retornar, fique isolado em casa por sete dias. Mas, se não surgirem sintomas, ele não precisa realizar o exame.

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    E se eu tive contato com um caso confirmado?

    Nessa situação, o que ocorre é a observação. “A pessoa deve ser orientada a prestar atenção em sinais parecidos com o de resfriado ou gripe”, orienta Elisa Aires, infectologista da DaVita Serviços Médicos.

    Se os sintomas surgirem e forem leves, a recomendação é deixar de circular por aí e conversar com um médico, eventualmente indo a um posto de saúde. Mas só visite o hospital se estiver no grupo de risco (acima dos 40 anos de idade ou com doenças crônicas). Por outro lado, febre alta, mal-estar intenso ou dificuldade para respirar exigem uma investigação pormenorizada, eventualmente com internação.

    Os testes e o acompanhamento próximo de quem teve contato com os infectados são importantes para frear a transmissão local e diminuir a velocidade com a qual ele se espalha.

    Agora, conforme o número de casos for aumentando e se espalhando pelo país entre os próprios brasileiros, a conduta pode mudar. Em um contexto de ampla disseminação, o foco poderia se concentrar no atendimento dos acometidos com quadros mais severos.

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    “Claro que, se a pessoa doente quiser, poderá fazer na rede particular. Mas, quando o vírus está disseminado, consideramos que é mais um entre as centenas que já temos circulando, e só os doentes graves precisariam ser testados para determinar o melhor tratamento”, explica Nancy.

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