O câncer de pulmão corresponde a menos de 5% dos tumores diagnosticados no Brasil, mas é o que mais mata. Em 2019, 29,3 mil pessoas morreram pela doença — que, em geral, é detectada tardiamente.
Além do sofrimento do paciente e da dor causada às famílias das vítimas, a alta mortalidade do tumor também gera prejuízos à economia do país.
É o que mostra um estudo feito pelo Núcleo de Saúde e Políticas Públicas do Insper, com apoio da biofarmacêutica AstraZeneca e em alinhamento com a Lung Ambition Alliance, coalisão internacional de combate da doença.
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Ao analisar dados fornecidos pelo DataSUS, economistas avaliaram que, em 2019, o custo do câncer de pulmão foi de 1,3 bilhão de reais.
Dessa quantia, estima-se que apenas 20% tenha sido gasta diretamente com o tratamento dos casos.
A maior parte do valor, equivalente a 1,012 bilhão de reais, são custos indiretos, ou seja, relacionados à perda de produtividade pela morte precoce e pelo absenteísmo (faltas no trabalho) durante o curso da doença.
“Os gastos são exorbitantes, ainda mais considerando que o câncer de pulmão gera custos semelhantes ao dos tumores de mama e próstata, apesar de ser bem menos prevalente do que eles”, afirma Vanessa Boarati, pesquisadora do Insper e coordenadora do estudo.
Em 2019, foram registrados 31.270 casos de câncer de pulmão, 59.700 de câncer de mama, 68.220 de câncer de próstata. Apesar disso, o gasto total gerado pelo câncer de pulmão (R$1,3 bilhão) foi consideravelmente superior ao relacionado à próstata (R$ 0,8 bilhão).
O câncer de mama foi o que gerou mais despesas no período, superando a marca de 2, 5 bilhões de reais.
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“Nosso estudo mostra que, não apenas do ponto de vista da saúde, mas também da economia, é urgente que o câncer de pulmão seja rastreado e diagnosticado precocemente”, resume Boarati.
Desafios e soluções
Depois de quantificar custos, os pesquisadores partiram para uma segunda fase da pesquisa. Nesta etapa, revisaram 77 artigos publicados nos últimos cinco anos e mapearam as barreiras para o diagnóstico precoce, que melhora o prognóstico do paciente.
Entre as principais dificuldades indicadas estão a falta de financiamento para o rastreamento, bem como a ausência de protocolos de tratamento e triagem triagem. Outras situações que agravam o déficit são as desigualdades regionais, o estigma sobre a doença e o baixo treinamento e engajamento profissional.
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Na terceira e última etapa do estudo, 18 especialistas foram entrevistados acerca de soluções possíveis para a implementação de um protocolo de enfrentamento à doença. As propostas reunidas dizem respeito à várias esferas da saúde.
Em termos de governança, espera-se que centros de excelência em atenção básica estejam melhor preparados para assumir a referência no diagnóstico precoce e sirvam de exemplo.
Em relação à força de trabalho, é necessário capacitar e engajar profissionais de saúde para triagem. Eles também são fundamentais para esclarecer a população sobre o tema e para garantir o monitoramento da evolução da doença.
O financiamento é essencial para a execução do plano. Ele deve não apenas ser suficiente, como também constante e não estar “suscetível a flutuações no âmbito político-ideológico”, ressaltam os especialistas.
Por fim, é necessário estabelecer e divulgar quais são os principais grupos de risco e diretrizes para o diagnóstico dos casos.
“Esperamos que, com mais informação e melhores estratégias, consigamos dobrar a taxa relativa de sobrevida do câncer de pulmão [sobrevivência 5 anos após o diagnóstico], que atualmente é de 18%, para 36%”, afirma Olavo Corrêa, diretor-geral da AstraZeneca no Brasil.
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Novas orientações para o rastreamento do câncer de pulmão
Em confluência com a necessidade de protocolos, três entidades médicas criaram um documento inédito com orientações para a triagem de pessoas em maior risco de ter esse tumor.
O 1º Consenso Brasileiro para Rastreamento de Câncer de Pulmão foi elaborado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
Segundo o relatório, a tomografia do tórax de baixa radiação é o principal exame de rastreamento e deve ser feita anualmente por pessoas que se encaixem nestes três critérios:
- Ter de 50 a 80 anos de idade;
- Fumar regularmente ou ter parado de fumar há menos de 15 anos;
- Ter carga tabágica de 20 anos/maço.
Para calcular a carga tabágica, o paciente deve dividir a média de cigarros tragados diariamente por 20 (padrão do maço). Depois, o valor é multiplicado por anos de fumo.
Por exemplo, se uma pessoa fuma 30 cigarros por dia há 30 anos, sua carga tabágica é de 45 maços/ano.