Borra de café não elimina mosquito da dengue
Texto nas redes sociais diz que colocar a borra do café em vasos de plantas combateria larvas do Aedes aegypti, mas não há comprovação da eficácia
Em tempos de surto de doenças, outra epidemia toma conta das redes sociais: a desinformação. Com a dengue não é diferente. Uma das dicas requentadas nos últimos meses é o uso de borra de café como forma de eliminar o mosquito Aedes aegypti, propondo uma “alternativa natural” e de baixo custo que seria mais eficaz do que outras medidas preventivas.
Embora a informação se baseie em um estudo real, essa hipótese foi defendida há cerca de 20 anos sem que outros trabalhos conseguissem confirmar o sucesso da borra de café no combate à dengue.
+Leia também: Ivermectina não cura dengue nem ameniza sintomas da doença
Onde surgiu a esperança na borra de café
Notícias sobre a possibilidade de usar o produto para controlar a população de mosquitos começaram a circular na internet brasileira ainda em 2001, graças a uma pesquisa feita na Unesp que buscava alternativas a produtos disponíveis no comércio, como inseticidas e repelentes. Mais de duas décadas depois, com as redes sociais, informações incompletas voltaram a ganhar força.
Na época, a bióloga Alessandra Laranja estava desenvolvendo sua pesquisa de mestrado em torno do tema, com experimentos em São José do Rio Preto. Os resultados, que saíram também em publicações científicas, indicavam que diluir borra de café em água, aplicando a solução em locais de proliferação do Aedes aegypti, como vasos de plantas, poderia interromper a reprodução do mosquito.
Mas mesmo o estudo original era cauteloso nas afirmações, utilizando um tom condicional: os achados podiam “reforçar a indicação” como uma alternativa aos métodos então em uso.
O problema é que, ainda hoje, as informações sobre o tema continuam se referindo a esse estudo original, sem que pesquisas posteriores demonstrassem de forma conclusiva uma redução significativa na proliferação do mosquito.
Atualmente, o uso do café no enfrentamento à dengue não é endossado por autoridades sanitárias. Em alguns estados, a aplicação da borra de café é inclusive desencorajada, como apontam as orientações divulgadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde no Espírito Santo e no Paraná.
Um dos riscos é o de que, ao aplicar a borra de café, a pessoa deixe de tomar medidas que de fato são eficazes contra o Aedes aegypti. Isso, por sua vez, aumenta o risco de disseminação da dengue.
+Leia também: Por que é importante se precaver da hepatite A no verão?
Como evitar a proliferação do mosquito
Por enquanto, a melhor forma de combater o mosquito da dengue continua passando pelas recomendações clássicas: evitar o acúmulo de água parada em casa. Não deixe que o líquido fique em vasos e outros recipientes, e garanta a limpeza frequente do seu quintal e de áreas onde a água pode empoçar depois de uma chuva.
Além disso, mantenha garrafas viradas para baixo e preencha de areia os pratos dos vasos das plantas, para que o líquido seja totalmente absorvido. Na dúvida, é sempre melhor combater os focos de acúmulo de água, onde o Aedes aegypti se reproduz, do que apelar para métodos alternativos.
Vale lembrar que, mesmo que o ciclo reprodutivo do inseto seja interrompido, os mosquitos que já circulam no ambiente continuam sendo uma ameaça. A proteção pessoal nesse caso envolve o uso de repelentes, inseticidas e mosquiteiros.
E a vacinação, que começou a ser oferecida em várias cidades brasileiras em 2024, previne as complicações no caso de um contágio.