Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Cientistas identificam alterações na urina de crianças com autismo

Mudanças na concentração de certas substâncias presentes no xixi podem, no futuro, contribuir para o diagnóstico desse transtorno. Mas o estudo é inicial

Por Lucas Rocha
Atualizado em 4 abr 2024, 17h06 - Publicado em 4 abr 2024, 15h29
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O transtorno do espectro do autismo (TEA) é definido como uma condição de desenvolvimento neurológico caracterizada por dificuldades de comunicação e de interação social, além de comportamentos repetitivos e interesses restritos. Mas, na prática, fazer o diagnóstico do quadro é bem complexo. Daí porque pesquisadores buscam identificar, dentro do organismo dessas pessoas, biomarcadores que ajudem a detectá-la.

    Nesse contexto, um grupo de pesquisa do Instituto Butantan detectou alterações de substâncias em amostras de urina de crianças com o transtornoA expectativa é de que, no futuro, isso ajude a formular testes que ajudem a diagnosticar e a acompanhar a evolução do quadro. Os achados foram publicados no periódico científico Biomarkers Journal.

    + Leia também: O acolhimento ao aluno autista na escola

    Por dentro do estudo

    Os cientistas avaliaram um conjunto de amostras de 44 crianças, sendo metade diagnosticadas com TEA e a outra parte de indivíduos neurotípicos (sim, é pouca gente, e essa é uma das limitações do trabalho). Os participantes fazem parte do Centro de Especialização Municipal do Autista, em Limeira (SP), e da Associação de Pais e Amigos do Autista da Baixa Mogiana, em Mogi Guaçu (SP).

    Na secreção de crianças com autismo foram observadas alterações nas quantidades de diversos aminoácidos:

    De acordo com o estudo, os níveis anormais podem estar relacionados a diversas manifestações observadas em pessoas com TEA. Durante a formação do feto ou no período pós-natal, quando os receptores de neurotransmissores estão em desenvolvimento, o desequilíbrio de aminoácidos pode tornar o cérebro vulnerável à superestimulação, por exemplo.

    Continua após a publicidade

    Muitas dessas substâncias, aliás, tambem têm relação com o sistema gastrointestinal. E indivíduos com TEA podem apresentar problemas nessa seara, inclusive intolerância a alimentos como derivados do leite ou glúten. Vale destacar que a microbiota intestinal tem sido amplamente estudada no campo da psiquiatria como um todo, incluindo estudos voltados para o autismo, depressão e transtorno bipolar.

    Leia também: Autismo: “Vejo mais diagnósticos equivocados do que nunca”

    “Nossa intenção foi trazer elementos não só para a caracterização do quadro do TEA, como para fornecer um acompanhamento da evolução do distúrbio. As informações precisam ser validadas em uma população maior, mas indicam um caminho a ser seguido”, pontua o farmacêutico-bioquímico Ivo Lebrun, coordenador do estudo, em comunicado.

    A pesquisa abre caminhos para a investigação de potenciais biomarcadores para o transtorno. Mas, como o próprio autor dela reitera, os resultados não justificam, hoje, avaliar essas substâncias na urina em busca de um diagnóstico.

    O psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), reitera isso: “Sem dúvida, a psiquiatria está caminhando para o desenvolvimento de testes que possam ser usados na clínica. O do Butantan é uma hipótese que vem a ser estudada“.

    Continua após a publicidade

    Nardi acrescenta que, entre os possíveis exames, um de urina seria especialmente benéfico pela facilidade da coleta, que poderia ser feita até mesmo em casa. “Estudamos biomarcadores no sangue e outros líquidos do corpo humano, como o líquor que banha o sistema nervoso central. Mas a urina é de fácil acesso”, destaca.

    Diagnóstico clínico

    A suspeita do transtorno do espectro autista surge geralmente ainda na infância, seja pelos serviços de atenção primária à saúde ou pela comunidade escolar.

    Os primeiros sinais costumam envolver dificuldades no aprendizado ou atrasos no uso da linguagem. A criança também pode demonstrar o que parece ser indiferença aos cuidadores, momentos de agitação e comportamentos repetitivos.

    O diagnóstico é essencialmente clínico, o que significa que a identificação de traços do espectro autista deve ser conduzida pela observação da criança, diálogo com os pais, além da aplicação de métodos de monitoramento do desenvolvimento. Até o momento, não há nenhum exame laboratorial para confirmar o quadro.

    Continua após a publicidade

    “O diagnóstico não é simples. Não há uma regra para todo mundo, mas ele pode levar de seis meses a um ano”, analisa Nardi.

    O termo “espectro” é utilizado para incluir as diversas apresentações do autismo e destacar que a condição se manifesta de maneiras diferentes para cada indivíduo. Os níveis são classificados de leve a grave, de acordo com o grau de dependência ou necessidade de suporte.

    Embora não tenha cura, o TEA pode ser administrado com suporte psicológico e técnicas que estimulam a independência e ampliam a qualidade de vida, além de medicações para certos sintomas. Nesse sentido, a intervenção precoce possibilita ganhos significativos no aprendizado e no desenvolvimento da criança.

    “Além do diagnóstico precoce, é importante um esforço coordenado entre equipes multidisciplinares, famílias e escolas. É fundamental que a equipe seja capacitada e acolhedora, para orientar famílias e escolas para que possam intervir e manejar o comportamento de forma adequada. É importante observar os sinais em crianças desde muito pequenas. Precisamos saber os marcos do desenvolvimento típico, para podermos perceber se há diferenças desses padrões”, a pedagoga Adriana Faria Pereira, especialista em neuropsicologia aplicada ao TEA, do Centro de Terapia ABA Sepaco.

    Continua após a publicidade
    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.