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Anvisa aprova primeira terapia gênica no Brasil. O que isso significa?

A chegada de um tratamento que mexe no DNA — no caso, contra uma condição que causa cegueira — traz a perspectiva de uma revolução frente às doenças raras

Por Chloé Pinheiro
11 ago 2020, 19h53
terapia genica aprovada no brasil cegueira anvisa
Os genes estão cada vez mais ao alcance da ciência. (Ilustração: Daniel Almeida/SAÚDE é Vital)
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, pela primeira vez, o registro de uma terapia gênica no país. Essa inovação específica é voltada para tratar a Distrofia Hereditária da Retina (DHR), um problema raro que causa perda de visão e está associado a mutações no gene RPE65.

Estudada há décadas, a terapia gênica tem uma premissa inovadora: corrigir genes defeituosos com a introdução de genes saudáveis (também chamados terapêuticos) nos portadores de diferentes distúrbios. De maneira simplista, seria uma espécie de transplante no DNA.

Para isso, é necessário o uso de vetores virais. Estamos falando de vírus que são modificados para não causarem doenças, mas que tem potencial para entrar nas células humanas e entregar o novo material genético, fabricado em laboratório.

Em enfermidades causadas por um único gene defeituoso, a estratégia tem um potencial enorme. Ora, com a correção desse pedaço do código genético, a base do problema seria solucionada (ou bastante controlada), o que significaria grandes ganhos para o paciente. Como uma parcela significativa das doenças raras tem esse perfil de serem originadas por uma mutação específica, é nelas que a terapia gênica vem sendo mais testada.

Os primeiros tratamentos do tipo foram aprovados para uso comercial nos Estados Unidos em 2017. A terapia liberada no Brasil foi desenvolvida pela farmacêutica Novartis e inclui uma aplicação única do gene saudável — via injeções na veia — contra a DHR.

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A Distrofia Hereditária da Retina

A DHR é uma condição de origem genética que afeta a retina, estrutura dos olhos responsável pela formação de imagens. Apesar de rara, é a segunda causa de baixa visão em crianças de até 15 anos de idade, e boa parte de seus portadores progride para a cegueira total até por volta dos 18 anos.

A ciência investiga a relação do problema com outros genes, mas as mutações no gene RPE65 são os alvos mais mirados pela ciência. Ao corrigi-las com a terapia gênica, os estudos mostraram ganho de visão funcional e de autonomia em adultos e crianças.

Para que ela funcione, contudo, é preciso ter alguma quantidade de células da retina ainda funcionando normalmente. Do contrário, os benefícios são consideravelmente menores. Também deve-se fazer um teste genético para saber se a mutação aqui discutida é realmente a causadora da doença.

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Esperança para doenças raras

Com ares de ficção científica, a terapia gênica representa uma esperança para doenças raras causadas por distúrbios genéticos, que impactam a qualidade de vida e podem comprometer o desenvolvimento infantil. Para boa parte delas, ainda não há muitas opções de tratamento disponíveis.

Manipular os genes a nosso favor é uma proposta promissora. Por outro lado, ela terá de superar desafios importantes, como o preço astronômico. Nos Estados Unidos, uma terapia de princípio semelhante à liberada no país custa U$2 milhões, ou quase R$11 milhões no câmbio do dia 11 de agosto. Saiba mais sobre essa revolução em curso em uma reportagem nossa sobre o tema clicando aqui.

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