Análise do DNA de Hitler teria revelado doença que causa micropênis
Pesquisas integram documentário sobre o ditador. Testes desmentiram boato sobre parentesco judaico de Hitler, e apontam propensão a doenças
Uma nova pesquisa sugere que o ditador Adolf Hitler apresentava uma doença genética sexual rara, chamada de Síndrome de Kallmann. A análise genética, desenvolvida como parte do documentário Hitler’s DNA: Blueprint of a Dictator (em tradução livre, O DNA de Hitler: Modelo de um Ditador) da rede de televisão britânica Channel 4, ainda aponta que o boato de que Hitler teria ascendência judaica não passa de um mito.
A equipe de cientistas analisou o DNA de Hitler a partir do sangue no sofá onde o ditador se suicidou com um tiro em 1945. À época, um soldado americano levou um pedaço do tecido do sofá para os Estados Unidos, onde permaneceu, até hoje, exposto no Museu de Gettysburg, na Pensilvânia.
A análise do DNA ainda sugere que, em relação a um amostra populacional, o ditador teria maior propensão a transtornos mentais. Todo o projeto é cercado de controvérsia, e os resultados devem ser tomados com extrema cautela.
O documentário, que será lançado em dois episódios, estreia no Channel 4 em 22 de novembro.
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Como a análise de DNA foi feita?
Para chegar à conclusão de que Hitler era propenso a desenvolver autismo, esquizofrenia e transtorno bipolar, os cientistas usaram um método chamado de teste de escore de risco poligênico. O exame resume o número de variantes genéticas de um genoma. Assim, ao equiparar esse indicador com o do restante da população, é possível estimar se há mais ou menos chance de ter determinadas doenças.
O problema é que, mesmo com uma probabilidade mais elevada que o restante da amostra usada, isso não quer dizer que Hitler tinha uma chance alta de ter transtornos como esquizofrenia, autismo e bipolaridade. Também não dá para firmar diagnósticos.
Além disso, esse tipo de teste costuma ser usado para avaliar populações, não indivíduos – caso em que é mais impreciso.
Já o mito de que Hitler teria um ancestral judeu persiste há mais de uma década. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, citou o boato ao defender a invasão da Ucrânia. Essa hipótese foi desmentida pela comparação do DNA a outra amostra da família do ditador.
Um dos vários riscos da pesquisa é gerar uma estigmatização ainda maior para tais transtornos mentais, ao associá-los com um genocida. Os hipotéticos e incomprováveis transtornos tampouco podem ser relacionados com as políticas de genocídio do ditador.
O que é Síndrome de Kallmann?
Outro achado da pesquisa é a indicação de que Hitler teria Síndrome de Kallmann. As principais características da condição genética são o atraso ou a ausência da puberdade e o comprometimento do olfato.
O achado corrobora alguns rumores e evidências históricas: em 1923, um relatório da prisão de Landsberg afirma que Hitler apresentava criptorquidia em um testículo (falha na descida de um ou dois dos testículos para o escroto). Também há indícios de que um médico aplicasse injeções de testosterona no ditador – um dos tratamentos para a condição.
A origem da síndrome de Kallmann é uma mutação genética – que pode ser herdada dos pais ou ocorrer aleatoriamente. A mutação causa o hipogonadismo hipogonadotrófico: quadro em que as gônadas (testículos ou ovários) não produzem hormônios sexuais em quantidades adequadas.
A síndrome é mais comum entre os homens. Como consequência, alguns sinais da condição são a presença de micropênis e criptorquidia – a falha na descida de um ou ambos os testículos para o escroto.
A condição pode ser percebida já na infância, mas se torna mais notável na puberdade, quando as características sexuais secundárias não se desenvolvem. A síndrome de Kallmann também pode levar à infertilidade. Em mulheres, ausência ou atraso na menstruação, bem como menstruação irregular são alguns sinais do quadro.
Sintomas adicionais são a hiposmia ou a anosmia – capacidade diminuída ou ausente de detectar odores, respectivamente. Esse quadro costuma estar presente desde o nascimento. Problemas renais, anomalias ósseas e perda auditiva também podem ocorrer.
O tratamento inclui reposição hormonal durante toda a vida.
Controvérsias em torno do documentário
A primeira das questões controversas quanto ao desenvolvimento do projeto diz respeito à própria amostra de DNA.
Os documentaristas afirmam que a amostra de DNA retirada do tecido do sofá do bunker de Hitler é autêntica porque foi comparada a outra amostra, de um parente do ditador. Não se sabe quem é esse familiar e se ele permitiu a análise. Tampouco foi possível localizar outro familiar para obter uma amostra genética nova.
Ainda outra questão controversa trata dos próprios achados da pesquisa. A geneticista Turi King queria enviar as conclusões da pesquisa para publicação em um periódico científico revisado por pares. Entretanto, a produção do documentário não concordou em aguardar a aprovação do artigo para lançar a série.
Segundo a BBC, vários laboratórios europeus se recurasam a analisar as amostras do projeto, que foram enviadas para os Estados Unidos.
Embora os documentaristas envolvidos afirmem que há valor histórico em investigar o DNA de Hitler, o projeto pode levantar associações deterministas. Mas o DNA não dita quem uma pessoa é ou o que ela fará, e não pode ser associado a comportamentos ou visões de mundo.
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