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Alta taxa de pessoas que controlam o HIV sem remédio é encontrada no Congo

Os chamados controladores de elite conseguem suprimir o vírus da aids mesmo sem remédio. Pesquisá-los pode ajudar na criação de tratamentos melhores

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 18 mar 2021, 15h41 - Publicado em 15 mar 2021, 17h18
Fita vermelha que simboliza luta contra a aids.
Há algumas poucas pessoas que, mesmo quando infectadas com o HIV, não desenvolvem problemas.  (Foto: Alex Silva/A2 Estúdio)
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Os controladores de elite do HIV são indivíduos infectados pelo vírus da aids, mas que conseguem conter a sua replicação dentro do organismo mesmo sem tratamento. A carga viral deles é naturalmente tão baixa que não provoca sintomas ou complicações e fica praticamente indetectável por exames convencionais.

Desde os primeiros casos de aids registrados na África Central e nos Estados Unidos, ainda nos anos 1970, há relatos isolados dessas pessoas. Mas eles são raros: representam cerca de 0,1 a 2% dos 38 milhões de soropositivos do mundo.

Eis que pesquisadores anunciaram a descoberta de um número incrivelmente alto de controladores de elite em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC). Dos 10 mil participantes com HIV do estudo, até 4,3% não tinham o vírus detectável no plasma sanguíneo. As informações foram publicadas no periódico científico EBioMedicine.

“Essa frequência elevada é incomum e sugere que há algo interessante acontecendo em um nível fisiológico na República Democrática do Congo, e que não é aleatório”, comentou, em comunicado, o médico Tom Quinn, diretor do Centro Johns Hopkins para Saúde Global e um dos autores da pesquisa. O trabalho inclui também a empresa global de cuidados para a saúde Abbott, a Universidade de Missouri e a Universidade Protestante do Congo.

As amostras de plasma usadas no trabalho foram coletadas em diferentes momentos nos últimos 30 anos. Os estudiosos explicam que essa descoberta apareceu só agora porque as últimas quatro décadas de agitação política e falta de infraestrutura atrapalharam uma análise aprofundada das pessoas com HIV.

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Mas por que os cientistas estão tão animados com a revelação? “Os resultados podem aproximar pesquisadores do objetivo de reduzir a disseminação do HIV, descobrindo ligações entre a supressão natural do vírus e futuros tratamentos”, explica Michael Berg, cientista da Abbott e outro envolvido no levantamento.

Ou seja, os especialistas podem investigar o que os controladores de elite têm de especial e, a partir daí, tentar desenvolver remédios ou vacinas, por exemplo. Investigações já vinham sendo feitas nesse sentido, porém agora há muito mais gente para avaliar.

Em 2020, um estudo publicado na revista Nature mostrou que, em controladores de elite, o HIV costuma ser encontrado em partes inativas do no código genético humano (chamados “desertos de genes”). Como nessas áreas o DNA nunca é ativado, o vírus não conseguiria usá-lo para criar mais cópias — e, aí, permaneceria sob controle. Os pesquisadores ainda não sabem explicar o motivo disso, já que normalmente o vírus se instala em trechos ativos do genoma.

“Cada descoberta sobre o HIV é mais uma peça no quebra-cabeça evolucionário que estamos tentando completar”, finaliza Carole McArthur, professora do Departamento de Ciências Orais e Craniofaciais da Universidade de Missouri e coautora do estudo de 2021.

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