A baixa umidade do ar atinge diversas cidades pelo Brasil. No período de estiagem, os índices podem permanecer abaixo de 30%, representando um alerta para a saúde. O tempo seco, comum no inverno, tem impacto significativo no organismo, especialmente para o sistema respiratório.
Uma das principais consequências é a maior suscetibilidade a infecções, como gripes e resfriados. Além disso, pessoas com condições crônicas, como asma e bronquite, podem ter seus sintomas exacerbados, com maior risco de crises e desconforto respiratório.
“Em condições de baixa umidade, as mucosas nasais, que têm a função de filtrar, umidificar e aquecer o ar que respiramos, tendem a ressecar. E isso compromete a integridade da mucosa, deixando-a mais suscetível a pequenas lesões, fissuras e inflamações”, explica o médico pneumologista Bruno Arantes Dias, do Hospital Nove de Julho.
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O pneumologista destaca que, secas, as mucosas perdem parte de sua capacidade de proteção, o que facilita a entrada de agentes irritantes e causadores de doenças, como vírus e bactérias.
“Além das infecções e do risco de rinite e sinusite, a situação pode provocar sangramentos, especialmente em pessoas mais sensíveis, como crianças e idosos”, afirma Dias.
A baixa umidade do ar também aumenta a concentração de poluentes e partículas em suspensão, em especial diante das queimadas que se alastram pelo país, o que piora os quadros respiratórios.
Durante estes períodos, é comum as pessoas sentirem desconforto nasal, com sintomas como sensação de nariz entupido, ardência e coceira.
Lavagem nasal alivia sintomas
Uma saída para aliviar o incômodo é apostar na lavagem nasal. “Ela umidifica a mucosa do nariz, ajudando a remover as secreções e agentes irritantes de uma forma eficiente. Pode ser feita por praticamente qualquer pessoa, crianças, adultos e idosos, mas deve ser evitada em casos específicos como malformações ou dificuldade para engolir”, destaca o otorrinolaringologista Marcel Menon, professor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O especialista explica que o procedimento pode ser realizado de duas formas. A versão de baixo volume é feita com spray, conta-gotas ou jato contínuo. Já a modalidade de alto volume utiliza garrafas, seringas ou lotas (objeto semelhante à lâmpada do Aladdin).
“A grande vantagem da segunda é que ela tem o potencial de remover mecanicamente o excesso de secreção e partículas que ficam na mucosa do nariz. Importante lembrar que ela deve ser feita com alto volume e baixa pressão, não é para apertar com toda a força”, orienta Menon.
No fundo do nariz há uma comunicação que se liga ao ouvido, erros no manejo podem conduzir o líquido para dentro órgão, provocando quadros de inflamação ou otite.
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O que fazer para driblar os impactos da baixa umidade?
Para minimizar os impactos do tempo seco, é importante adotar algumas medidas práticas.
“Manter a hidratação é fundamental, por isso é recomendável beber bastante água ao longo do dia. Além disso, chás e sucos naturais podem ser bons aliados para garantir uma ingestão adequada de líquidos”, recomenda Dias.
Outra estratégia eficaz é o uso de umidificadores de ar, que ajudam a melhorar a situação em ambientes fechados. “Se não tiver um desses, é possível improvisar com baldes de água ou toalhas molhadas espalhadas pelo quarto, por exemplo”, acrescenta o pneumologista.
Cuidar das vias respiratórias também é essencial. Aplicar soro fisiológico nas narinas várias vezes ao dia pode ajudar a manter as mucosas nasais hidratadas, prevenindo o ressecamento e possíveis irritações.
“É importante evitar ambientes com ar muito seco ou poluído, como lugares com ar condicionado excessivo ou locais com muita poeira, que podem agravar os sintomas do tempo seco”, afirma Dias.
Por isso, manter a casa limpa e arejada também é uma prática recomendada, pois a poeira acumulada pode irritar as vias respiratórias, especialmente durante esses períodos.
A alimentação pode ser uma aliada importante nesse contexto. Consumir frutas e vegetais ricos em água contribui para a hidratação do corpo, enquanto alimentos repletos de ômega-3, como peixes e sementes, ajudam a manter a pele e as mucosas saudáveis.
“Por fim, é recomendável evitar atividades físicas intensas ao ar livre nos horários de pico de calor. Se exercitar no início da manhã ou no final da tarde é uma boa opção para evitar a perda excessiva de líquidos e o estresse térmico”, frisa o pneumologista.
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Outros efeitos
Esse tempinho ainda pode favorecer o aparecimento de outras encrencas e doenças além das respiratórias. Um dos problemas mais comuns é o ressecamento da pele, que pode levar a rachaduras, irritação e coceira.
“A pele tende a ficar seca, áspera, e pode haver descamação, coceira, agravamento de inflamações da pele, como dermatite, e infecções desencadeadas pelo ato de coçar”, pontua a médica dermatologista Vanessa Barreto, assessora de Alergia e Dermatoses Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Nos períodos mais áridos, é importante tomar banhos mais rápidos, com água em temperatura morna, com pouco sabonete e sem bucha.
“Passe o hidratante abundantemente na pele ainda úmida, até três minutos após o banho e, de preferência, reaplique mais uma vez ao dia. Use sabonetes mais suaves, como os de glicerina ou de bebê”, orienta Vanessa.
Para melhorar o ressecamento labial, vale investir no uso de hidratantes específicos para a região, incluindo produtos à base de pantenol e manteigas como de cacau e karité, ou mesmo a vaselina.
“Evite o hábito de lamber os lábios, pois a saliva provoca mais ressecamento, assim como morder ou arrancar casquinhas dos lábios”, frisa.
Os cabelos também podem ficar ressecados e quebradiços nessa época.
“É importante não lavar os cabelos em água muito quente, evitar o uso de secador muito quente e de chapinhas, e hidratar os cabelos a cada lavagem. Alguns fios podem ficar arrepiados ou com frizz, no tempo muito seco”, afirma a dermatologista.