As aulas presencias já estão voltando na maioria dos estados brasileiros. Com a nova onda de Covid-19 provocada pela variante Ômicron, a vacinação infantil ainda incipiente e os casos crescendo nessa faixa etária, pais e responsáveis buscam respostas sobre o que fazer nesse contexto.
Afinal, o filho deve ir para a escola? E elas deveriam estar abertas?
Em primeiro lugar, é unânime a interpretação de que a volta às aulas é urgente por causa dos prejuízos educacionais e sociais já sofridos pelas crianças nesses dois anos. Segundo o último Censo Escolar do Ministério da Educação, 650 mil crianças deixaram a escola durante a pandemia.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apoia o retorno presencial, mas se posiciona pela cobrança rígida dos protocolos por parte dos pais.
“Estamos debatendo se deve ou não ter aulas, enquanto a discussão deveria ser outra. É preciso cobrar políticas públicas e falar das condições sob as quais vamos colocar todas as crianças de volta às escolas”, pontua a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
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O retorno é necessário, mas os riscos não podem ser negados, ressalta a especialista. Os pequenos menores de 12 anos são o grupo etário menos vacinado e, por isso, ficam mais vulneráveis ao vírus e podem desenvolver quadros severos, embora seja mais raro que isso aconteça.
A Ômicron é uma variante mais transmissível que as anteriores, e ainda capaz de provocar casos graves, principalmente em que não recebeu a imunização completa. Ou seja, mesmo que poucas crianças tenham complicações, quando muitas se infectam ao mesmo tempo, as estatísticas mais preocupantes aumentam junto.
Alguns estados, como São Paulo, divulgaram que a taxa de internação em UTIs pediátricas está crescendo. Dados da Secretaria de Saúde mostram alta de 61% na hospitalização de menores de 18 anos em UTIs nos últimos dois meses.
Aulas poderiam ser adiadas
Sem esse apoio governamental, na visão de Ethel Maciel, a volta às aulas deveria ser adiada em duas semanas. Além disso, ela defende um esquema de escalonamento, dando preferência ao retorno de crianças com a primeira dose da vacina.
“A estimativa é de que o pico da Ômicron ocorra em meados de fevereiro, ou seja, 45 dias após o início da transmissão, que começou em dezembro. Seria um tempo para que algumas crianças sejam imunizadas e o contágio começasse a cair”, avalia a médica.
Sete estados decidiram adiar o início das aulas para depois de 14 de fevereiro, segundo levantamento da Agência Brasil. São eles: Tocantins, Amazonas, Maranhão, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
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Os riscos e como evitá-los
Supostamente, os professores estão completamente vacinados ou em vias de tomar a terceira dose, mas ainda são potenciais transmissores aos pequenos.
Por isso, é preciso seguir todos os protocolos, com foco em evitar a transmissão pelo ar (medidas como higienizar calçados e aferição da temperatura são consideradas pouco eficazes).
“As escolas precisam garantir a utilização de máscara PFF2 entre os funcionários, oferecer aulas em ambientes arejados e fazer mais uso do pátio”, recomenda Eduardo Jorge da Fonseca Lima, pediatra e membro do Departamento Científico de Imunizações da SBP.
Bons sistemas de filtragem de ar e programas de testagem em crianças, como vistos em outros países, também seriam bem-vindos.
Com a liberação do autoteste, que deve começar a ser vendido ainda neste mês, pode ficar mais fácil fazer isso, uma vez que as escolas particulares poderiam comprar os exames por conta própria.
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Governos estaduais ou municipais teriam de colocar a mão no bolso para suprir as escolas públicas, já que o Ministério da Saúde não se pronunciou sobre a possibilidade de oferecer kits gratuitos.
Mais urgente ainda é vacinar as crianças. “As escolas devem cobrar dos pais. Só não apoiamos a ideia de proibir a entrada dos não vacinados porque isso seria punir a criança duas vezes, já que a primeira perda é ela não ser levada ao posto pelo responsável”, crava Lima.
O pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), ressalta ainda que, como a campanha infantil acabou de começar, não dá para descuidar do resto.
“A imunização completa delas será demorada. Nesse cenário, é preciso reforçar as medidas não farmacológicas: usar máscara, manter distanciamento e lavar bem as mãos”, avalia o presidente da SBIm.
“As escolas têm regras bem definidas, mas o importante é que os pais fiquem atentos para verificar se esses protocolos estão sendo seguidos”, acrescenta.
Crianças que não podem ir à escola
Os pequenos que apresentem qualquer sintoma gripal — febre, coriza, tosse e dor de garganta, mesmo que leves — não podem comparecer às aulas. O mesmo vale para aqueles com casos suspeitos de Covid na família ou no convívio próximo.
Os protocolos de isolamento mudam a cada particularidade: se há ou não sintomas, e há quantos dias a suspeita dura. Consulte aqui essas possibilidades.
Tomar esse cuidado é uma questão de segurança coletiva. Mesmo que uma criança tenha sintomas leves ou esteja assintomática, pode encontrar amiguinhos mais suscetíveis a um quadro grave, ou passar o vírus a um funcionário.
Maioria dos pais quer proteger os filhos
Se a campanha de vacinação seguir o que dizem as pesquisas de opinião, logo as crianças estarão mais seguras na escola. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre hesitação vacinal estima que 80% de pais e responsáveis querem imunizar os seus filhos.
Medo de reações adversas (que são leves, parecidas com a de outros imunizantes) e o boato infundado de que as fórmulas sejam experimentais foram alguns dos motivos apontados por quem ainda não sabe se vai aderir à campanha. A fundação ouviu pessoas 15 297 pessoas de todas as regiões do país.
Não é só Covid-19
No momento em que as crianças voltam a conviver mais intensamente, a carteirinha de vacinação deve estar em dia para evitar a disseminação de outros vírus e bactérias.
O surto de gripe não ocorreu por acaso: foi impulsionado pelas baixas taxas de imunização. Há ainda o risco de males esquecidos voltarem, uma vez que estamos vivendo quedas históricas nas taxas de cobertura contra sarampo, coqueluche e outras doenças evitáveis.