As restrições impostas pela Covid-19 e os entraves socioeconômicos desencadeados pela pandemia tornaram a tarefa de criar os filhos ainda mais solitária e extenuante.
É o que mostra um levantamento com 1 086 brasileiros realizado pelo grupo Consumoteca. Pelo menos seis em cada dez participantes afirmaram sentir falta de apoio no dia a dia com as crianças e sobrecarga pelo acúmulo de trabalhos — o que engloba emprego e cuidados com os filhos e a casa.
De acordo com Manuela Fonseca, coordenadora de insights da Consumoteca, a parentalidade é vista como uma obrigação do núcleo familiar central, e o isolamento social reforçou o peso que ela pode exercer entre pessoas que precisam estar inseridas no mercado de trabalho — inclusive nos lares liderados por mães solo.
“O termo ‘rede de apoio’, do qual os entrevistados sentem falta, ganhou uma nova camada de importância nesse contexto. E o provérbio africano ‘É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança’ adquire ainda mais notoriedade”, analisa.
Ainda segundo Manuela, o estudo ressalta a necessidade de olhar para as necessidades psicossociais desses pais que se veem sozinhos e cansados.
Até para prevenir um quadro que já vem sendo chamado de burnout parental: o esgotamento ao tentar conciliar a vida profissional e a criação dos filhos, algo observado em 66% dos pais em uma pesquisa americana.
+ LEIA TAMBÉM: Burnout faz cada vez mais vítimas. Como prevenir?
Para não ficar sem amparo
De onde o apoio deve vir, segundo Manuela Fonseca, da Consumoteca:
Escola: fora as atividades do currículo, as instituições podem colocar famílias em contato e criar um tipo de comunidade.
Emprego: as empresas precisam ser mais inclusivas e flexíveis diante das demandas da parentalidade.
Amigos: colegas sem filhos podem se afastar daqueles com uma cria. Mas dá para conciliar a amizade.
Família: avós, irmãos e companhia costumam estar na primeira fila da rede de apoio. Vale incentivar isso!
Redes sociais: canais virtuais, mediados ou não por profissionais, promovem contatos e trocas entre pais.
Eventos: atividades culturais devem se pautar pela inclusão e harmonizar interesses dos adultos e das crianças.
Solidão piorou com a pandemia?
O tema foi debatido no último Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, sediado em Gramado (RS), onde especialistas compartilharam dados sobre as consequências da pandemia no nível de solidão reportado pelas pessoas e os reflexos fisiológicos de uma vida solitária.
O que se viu foi que os percalços da Covid-19 não elevaram necessariamente a sensação de solidão — isso parece ser moldado pelos traços de personalidade de cada um.
De qualquer forma, indivíduos que se sentem sozinhos deveriam procurar apoio. Pelo bem de sua saúde mental e cognitiva. Em sua fala, o psiquiatra Adriano Resende Lima, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), comentou que há estudos indicando que a solidão eleva em três vezes o risco de demência, por exemplo.