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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

Vírus que matam bactérias ganham força contra infecções letais

Os bacteriófagos estão sendo redescobertos pela ciência, com resultados promissores contra as bactérias superresistentes

Por Paulo Eduardo Brandão
5 jun 2025, 13h15
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A infecção por bactérias resistentes aos antibióticos é considerado um dos principais problemas de saúde pública (Freepik/Reprodução)
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Um número estimado de 6 milhões de pessoas morrem por ano porque os antibióticos que recebem não são capazes de matar as bactérias que as deixaram doentes.  Foras as mortes, a resistência bacteriana causa um custo extra de 1 trilhão de dólares aos sistemas de saúde.
Como isso acontece? Bom, os antibióticos ou matam as bactérias ou impede que se reproduzam, mas tem que ser usados em doses efetivas e por um tempo suficiente para agirem.  Só que, imagine a cena: estou doente e a médica me diz para tomar o antibiótico por sete dias; começo o tratamento e, lá pelo 3º da, já me sinto melhor.

Preciso continuar tomando o remédio? E aí que está o perigo: se eu parar o tratamento antes do tempo suficiente para todas as bactérias alvo morrerem, pode ser que uma ou outra ali naquela população de patógenos sobreviva, porque tinha uma mutação que a permitia aguentar um pouquinho do antibiótico.

E vai ser essa superbactéria quem vai dominar agora. E não para por ai: bactérias resistentes podem aprender a ser resistentes a múltiplos antibióticos e aí não tem quem seguro. Ou tem?

Entram em ação os vírus, para salvar (e não só para acabar com) o mundo!

+Leia também: Quais são os riscos de usar antibióticos sem prescrição?

Desde 1915, bem antes de Alexander Flemming descobrir o primeiro antibiótico, a penicilina, e achar que o problema estava resolvido, sabe-se que existem vírus que comem bactérias o que, em grego, usado, como o latim, para dar nome as coisas na ciência, virou bacteriófago (bactéria +phagein, comer).

Na verdade, para muitos de nós, a figura do bacteriófago é a representação mais pop de um vírus: uma cabeça hexagonal, um pescoço fino e várias pernas saindo dele, meio que  como o Módulo Lunar da Apollo 11.

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bacteriofago
(Freepik/Reprodução)

O interessante é que os bacteriófagos só infectam bactérias e são bem específicos: cada tipo de bactéria tem bacteriófagos para chamar de seu.

Com isso, onde quer que quiséssemos controlar as bactérias, surgiram várias aplicações para os bacteriófagos. Se um paciente, humano ou não, tem uma infecção por uma superbactéria daquelas, é possível utilizar vírus sob medida, que não vão afetar outras bactérias, como as que ajudam em nossos processos digestivos, e, muito menos, nossas próprias células, que são muito diferentes das bactérias.

Na fermentação industrial, os bacteriófagos podem ser de grande ajuda também matando bactérias que atrapalham a a ação da levedura  Saccharomyces cerevisiae na produção de álcool, inclusive de vinhos e cervejas, ou de outras bactérias que são úteis para produção de iogurtes e queijos.

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E tem mais: os bacteriófagos, ou fagos, como são mais carinhosamente chamados entre virologistas, podem ajudar a conter e reverter o aquecimento global.

Ora, uma das muitas causas deste fenômeno acelerado pelos humanos é que vacas, ao comerem, precisam digerir o alimento em seus estômagos com ao auxílio de uma ampla comunidade de bactérias. Mas algumas bactérias produzem muito gás metano, que é eliminado pelos animais na atmosfera e impede que o calor do Sol que a Terra recebe seja dissipado de volta ao espaço.

E é aí que entram os fagos: dá para tratar as vacas com bacteriófagos que matam só aquelas bactérias mais “gasosas”, sem afetar a produção de leite e carne. E dá para fazer o mesmo em outra fonte de metano, os aterros sanitários, que funcionam de modo bem parecido aos estômagos das vacas.

E parece mesmo que os fagos são tudo de bom: podem ser dados por via oral ou injetável, sua dose efetiva é mínima e são altamente específicos, sem efeitos colaterais.

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Mas, enquanto há vida, há evolução. Bactérias podem ter mutações que as tornem resistentes aos fagos. Aí, como no caso dos antibióticos, só trocando o tipo de fago ou “engenheirando” um novo sob medida no laboratório.

A evolução é um tipo de tango, onde os pares parecem às vezes se aproximar, às vezes fugir um do outro. Temos vírus que comem bactérias, temos ciliados (parecidos com protozoários) que comem vírus, temos vírus que “comem” outros vírus. Como se a vida fosse uma única reação química, com seus componentes subindo e descendo pela cadeia alimentar.

E na cadeia alimentar, bem como na medicina, é assim. Um dia da caça, outro do caçador.

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