PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Virosfera

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
Continua após publicidade

HIV: a pandemia sem fim

Nosso colunista recupera a história da descoberta do HIV/Aids e mostra que lições esse episódio traz para o enfrentamento de outras epidemias

Por Paulo Eduardo Brandão
Atualizado em 6 dez 2021, 10h28 - Publicado em 6 dez 2021, 10h28
combate a aids
Vírus HIV (as bolinhas amarelas) atacando uma célula do sistema imune humano.  (Foto: National Cancer Institute/ Unsplash/Divulgação)
Continua após publicidade

Era início dos anos 1980. Os doentes tinham pneumonia, perda de peso, às vezes diarreia. Podiam também ter feridas na boca e manchas na pele. Pareciam, na verdade, mais suscetíveis a infecções que, em condições normais, o organismo seria capaz de combater. Era como se o sistema imune deles estivesse se desligando.

Mas ninguém sabia o porquê nem como tratar essas pessoas. A taxa de letalidade, altíssima, não era o único desafio: os pacientes ficaram estigmatizados, por motivos que se mostraram não apenas equivocados como desumanos e desastrosos para a contenção da nova epidemia. Como os casos iniciais da doença foram detectados na comunidade de homossexuais masculinos, ela foi apelidada de “peste gay”.

Por fim, virologistas acabaram encontrando a causa. Era um vírus da família dos retrovírus, conhecidos por serem capazes de suprimir o sistema imune do hospedeiro. O agente infeccioso por trás da síndrome misteriosa foi nomeado vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês) e a doença provocada por ele, aids, sigla em inglês para síndrome da deficiência imunológica adquirida.

O HIV infecta as células do sistema imune chamadas de linfócitos, essenciais para que o nosso organismo enfrente infecções em geral. O resultado é que bactérias, fungos, protozoários e outros vírus se sentem livres para atacar o corpo sem trégua.

+ LEIA TAMBÉM: Promessa de vacina e medicamentos injetáveis marcam os 40 anos do HIV

Mas o HIV ainda faz algo que seus outros primos retrovirais fazem: ele encaixa seu genoma no nosso próprio genoma e daí ele nunca mais sai. Uma infecção por retrovírus é para sempre.

Continua após a publicidade

Se compararmos o HIV com o coronavírus da pandemia de Covid-19, notamos outro truque: se os dois vírus tivessem um relógio para exibir suas taxas de mutação, o do HIV estaria girando umas 100 vezes mais rápido do que o do coronavírus.

Felizmente, o avanço científico permitiu desenvolver medicamentos antirretrovirais para cercar o HIV. Hoje, os pacientes podem usar um coquetel de remédios que mantém o vírus em silêncio. Ter o HIV não significa mais ter aids. Em outras palavras, você pode carregar o vírus, mas não ficar doente.

Mesmo assim, o genoma do HIV fica lá, incrustado e silencioso dentro de algumas das nossas células. Há raros casos em que a infecção chegou a ser totalmente eliminada, mas são exceções. E ainda não contamos com uma vacina: é difícil fazer um imunizante para um vírus que se muta tão rapidamente e se camufla no genoma do hospedeiro.

Continua após a publicidade

Os anos 1980 foram passando e ficou evidente que qualquer pessoa podia ser infectada pelo HIV. Ele se transmite muito bem pelo sangue e o sêmen, e não apenas entre homens que fazem sexo com outros homens. O uso de preservativos, essencial não apenas como contraceptivo mas como barreira contra as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), se tornou uma arma fundamental diante do HIV e da pandemia.

+ LEIA TAMBÉM: HIV: baixa adesão a tratamento na pandemia ameaça conquistas

Com o tempo, ao contrário do preconceito por aí, a doença começou a ser controlada. E a comunidade LGBTQIA+, alvo direto da discriminação, teve e tem um papel exemplar nesse sentido, fazendo campanhas de conscientização, levantando fundos e mostrando caminhos.

Mas algo enigmático ainda pairava no ar: onde estava o HIV antes dos anos 1980? Bem, isso acabou sendo esclarecido quando olhamos para os retrovírus de nossos primos, os chimpanzés.

Continua após a publicidade

Cientistas descobriram que, setenta anos antes de a pandemia dar seus sinais, um retrovírus de chimpanzés pulou para seres humanos quando pessoas se alimentaram desses animais. Pouco a pouco, aquele vírus se adaptou à nossa espécie e deu origem ao HIV, que foi silenciosamente se espalhando entre nós.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 680 mil pessoas morreram por infecções associadas ao HIV em 2020, enquanto 37,7 milhões de pessoas conviviam com o vírus, das quais 1,5 milhão são novos casos. Sim, o problema continua.

Mas, que fique bem claro, a aids não é uma peste gay, assim como a Covid-19 não é uma doença chinesa e as vacinas contra o coronavírus não causam aids (sim, teve gente disseminando isso).  O preconceito, o negacionismo e as fake news são cúmplices perfeitos para o sucesso dos micro-organismos. Nas pandemias que vieram e naquelas que estão por vir.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.