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Saúde é pop

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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.
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Já pensou em fazer um detox digital?

Entenda as implicações da dependência por celular, internet e computador e o que os especialistas aconselham para que a saúde não pague o preço

Por André Bernardo
Atualizado em 4 set 2019, 14h22 - Publicado em 4 set 2019, 11h57
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  • Você já teve a curiosidade de saber quantas horas por dia passa conectado à internet? Ou, então, quantas vezes, no intervalo de 24 horas, acessa seu smartphone para checar e-mails, mandar mensagens ou navegar nas redes sociais? Não?

    Então, o jornalista americano Kevin Roose, de 31 anos, teve… E levou um susto ao descobrir que, num único dia, pegou seu aparelho 101 vezes e, por essa razão, gastou 5 horas e 37 minutos no mundo virtual. É mais que o dobro do tempo médio de uso do americano comum: 2 horas e 37 minutos.

    Parece muito, não é? Mas, acredite, é pouco se comparado ao tempo médio de uso do internauta brasileiro: 4 horas e 48 minutos!

    Refeito do susto, o colunista de tecnologia do The New York Times resolveu, por conta própria, tomar algumas resoluções. A primeira delas foi evitar o Twitter nos fins de semana. Pouco adiantou. O próximo passo foi instalar bloqueadores nos aplicativos. Nada feito.

    O jeito foi pedir umas dicas à jornalista Catherine Price, autora de Celular: Como Dar um Tempo. Em seu livro, ela ensina alguns truques para se livrar do vício em celular, como pular fora de grupos de WhatsApp e redes sociais, manter distância do aparelho pelo menos na hora de dormir e, na medida do possível, trocar o mundo digital pelo real.

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    Se morasse no Brasil, Kevin poderia ter ido ao Instituto Delete, que funciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde que foi inaugurado, em 2013, o primeiro núcleo do país especializado em pesquisa, prevenção e tratamento da dependência digital já atendeu, toda sexta-feira, a partir das 8 horas da manhã, mais de 4 mil pessoas (a maior parte delas com idade entre 13 e 35 anos).

    De cada 100 pessoas atendidas, 80 fazem uso abusivo de tecnologia. Dessas, 20 sofrem de algum transtorno, como depressão, fobia social ou síndrome do pânico. “Não somos contra a tecnologia. Apenas defendemos seu uso consciente”, explica a psicóloga Anna Lúcia Spear King, diretora do Delete e autora do livro Nomofobia – Dependência de Computador, Internet e Redes Sociais.

    Doutora em saúde mental, Anna Lúcia explica que, de acordo com o questionário respondido na primeira consulta, os pacientes são classificados em três categorias: consciente, que usa a tecnologia de forma racional; abusivo, que usa os gadgets de forma exagerada; ou dependente, que perdeu o controle sobre os dispositivos eletrônicos. Em tese, os abusivos são tratados com psicoterapia e os dependentes, também com medicamentos.

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    “O uso da tecnologia passa a ser abusivo quando prejudica o cotidiano do usuário”, analisa o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da UFRJ que integra a equipe do Delete. “Na maioria das vezes, o sujeito para de viver no mundo real e vive apenas no virtual”.

    O tratamento é gratuito e o atendimento, multidisciplinar. A fisioterapeuta Mariana King Pádua também faz parte do time. Autora do livro Ergonomia Digital, ela explica que são muitos os males, entre problemas de visão e lesões por esforço repetitivo, que o uso exagerado pode desencadear.

    O mais famoso deles talvez seja o “pescoço de texto”. Em posição normal, a cabeça humana pesa cerca de cinco quilos. Dependendo do grau de inclinação, pode chegar a 25. “O ideal é fazer intervalos de cinco minutos a cada 60 trabalhados”, aconselha a fisioterapeuta. “É tempo suficiente para dar uma boa espreguiçada, piscar várias vezes para lubrificar os olhos e movimentar a cabeça em várias direções”.

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    O tratamento, calculam os especialistas, pode variar de oito a dez sessões. “No Instituto Delete, o usuário vai aprender a usar a tecnologia de maneira responsável. Quando sabe dos riscos que corre a médio e longo prazo, tende a estabelecer limites e a respeitá-los”, afirma Anna Lúcia. Entre outras recomendações, ela sugere aos pacientes que só respondam e-mails corporativos no horário comercial, desliguem seus celulares durante as refeições, estabeleçam limites de tempo para navegar nas redes sociais, deem preferência a encontros presenciais e, aos sábados, domingos e feriados, pratiquem atividades físicas ao ar livre.

    Kevin Roose, o americano que ficava mais de cinco horas por dia no universo digital e chegou a guardar o próprio celular dentro de um cofre para resistir à tentação, seguiu à risca os conselhos de Catherine Price. Um mês depois, voltou a checar o aplicativo que contabiliza o tempo de uso: ele mexeu no celular 20 vezes e gastou apenas uma hora do dia conectado à internet.

    Para comemorar a façanha, publicou o artigo Do Not Disturb: How I Ditched My Phone and Unbroke My Brain (Não Perturbe: Como Abandonei Meu Celular e Consertei Meu Cérebro, em livre tradução), relatando seu detox digital. Nele, afirma ter redescoberto o prazer da leitura, de assistir a filmes ou, simplesmente, de jogar conversa fora com amigos sem ficar o tempo todo bisbilhotando o celular. “Passar um fim de semana inteirinho sem um celular por perto pode ser uma experiência incrível. Você tem que experimentar”.

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    E aí, alguém se habilita?

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