Com a diminuição dos casos de Covid-19 (ainda bem!), enfim as consultas começam a ser diferentes daquela rotina de sintomas gripais, febre, perda de olfato, entre outras manifestações da infecção pelo coronavírus. Surgem novamente no consultório as outras doenças pulmonares, que pareciam até estar desaparecidas.
Antigos pacientes começam a sair de casa (muitos já vacinados) para os cuidados de rotina com a saúde abandonados por um período. E, após realizarem exames para checar o estado dos pulmões, não é raro que alguns leiam no laudo da tomografia a seguinte frase: “focos de enfisema pulmonar esparsos”.
A simples menção à palavra “enfisema” já faz as pessoas imaginarem que estão com uma doença séria e procurarem atendimento médico. Então vou tentar explicar de uma maneira mais simples o que vem a ser esse problema, que, em sua forma mais grave, realmente provoca internações e compromete a qualidade de vida.
Enfisema tem a ver com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que é um conjunto de duas patologias: a bronquite crônica e o enfisema pulmonar em si. Aliás, no meio médico, usamos muito mais essa sigla do que os dois outros termos separados.
Só para ter ideia da dimensão da DPOC, estima-se que 15% da população tenha algum grau dela. Isso significa milhões de pessoas. Só que apenas 10% tem o diagnóstico estabelecido — ou por demora para reconhecer os sintomas e buscar o médico ou por outros fatores.
Por definição, trata-se de uma doença prevenível e tratável que acomete os pulmões, levando a uma obstrução ou a um estreitamento dos brônquios e à perda da elasticidade pulmonar devido à destruição dos alvéolos, as pequenas estruturas responsáveis pelas trocas gasosas. Parece complicado, mas, como coloquei, dá pra prevenir.
A principal mensagem é a seguinte: se você não fumar, não terá enfisema pulmonar. Nesse sentido, deve-se evitar todas as formas de uso do tabaco. Não tem melhor nem pior. Então não acredite se alguém disser que cigarro eletrônico ou narguilé são menos prejudiciais. Não tem fundamento.
Como eu falei, é uma doença tratável. Só que tratável não é sinônimo de curável. Felizmente, porém, existem tratamentos que amenizam os sintomas e suas complicações.
Por isso, não pense jamais que o diagnóstico de enfisema ou DPOC é um “fim da linha”. Pelo contrário, o paciente tem boas chances de controlar a situação e se sentir melhor. Como? Começa com o que chamamos de reabilitação pulmonar, exercícios físicos diários e orientados que tornam a musculatura da respiração mais forte.
À reabilitação associamos a prescrição de medicamentos broncodilatadores, e hoje contamos com alguns específicos para DPOC. Além disso, temos algumas medidas nutricionais e o acompanhamento psicológico, sempre desejável. Como você pode ver, é um tratamento multiprofissional. E ele faz diferença. Entendo isso como um dos grandes avanços em saúde: diversos profissionais trabalhando juntos com a mesma finalidade.
Voltando ao começo, o diagnóstico não é batido com algumas imagens do pulmão sugerindo enfisema numa tomografia ao acaso. Fora avaliar os sintomas, outros métodos são convocados, como provas de função pulmonar, além do bom e velho exame físico em consultório. É assim que fazemos o diagnóstico e estabelecemos o tratamento individualizado.
Agora que você conhece melhor o que é enfisema e a DPOC, já sabe o que fazer para prevenir: nunca comece a fumar e, se já for fumante, procure ajuda para largar o vício. Parar de fumar é parte do tratamento.
E, importante, se estiver com falta de ar, tosse com catarro e cansaço frequente, vale falar com o médico, porque esses podem ser sintomas de DPOC. Vamos ficar de olho e fazer nossa parte, pois respirar é preciso!