A chegada da minha segunda filha vai, em breve, me levar novamente para uma nova jornada na amamentação. Ao mesmo tempo, também estou passando por um momento muito único e especial, que é o desmame gentil da primogênita.
A minha pequena Esther, de 2 anos de idade, ainda mama no peito, mesmo com a gravidez! É uma condição que chamamos de lactogestação e, ao contrário do que muitos acreditam, amamentar durante a gestação não é uma contraindicação absoluta. Na maioria das vezes, isso é possível e tem baixo risco – apesar de poucos profissionais apoiarem. A amamentação prolongada tem seus desafios, mas isso é um tema para outro dia…
Agora, Esther tem mamado cada vez menos e, aos poucos, vamos nos conectando de outras maneiras amorosas, o que é realmente muito incrível.
Este momento que estou passando me fez refletir mais uma vez sobre a importância da informação de qualidade para as mulheres que amamentam ou pretendem amamentar.
Quando me tornei mãe, sabia que amamentar não seria fácil nem intuitivo. Apesar de todo o meu conhecimento técnico, e de ter ajudado milhares de mulheres em suas dificuldades, tinha certeza de que precisaria viver minha própria história.
Pude perceber ali, literalmente na pele, o quanto teoria e prática são tão diferentes e como a rede de apoio é essencial. Como diz um famoso provérbio, “é preciso de uma vila inteira para educar uma criança”. Mas me permitam fazer um ajuste: “é preciso de uma vila inteira para que uma mãe consiga amamentar”.
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Amamentar vai além de uma boca e um peito e, para que realmente possamos fazer diferença na sociedade no que concerne à conscientização da importância da amamentação, é preciso mais. É preciso mais do que citar os inúmeros benefícios do aleitamento e levantar a bandeira do apoio. Quem não defenderia uma causa tão nobre?
É preciso, por exemplo, saber o que fazer quando uma mãe procura um profissional em busca de ajuda. É preciso criar leis que apoiem a amamentação num mercado de trabalho tão competitivo. É preciso mais.
Para que a amamentação aconteça de forma saudável para mamãe e bebê, é preciso olhar além, e não só para a dupla envolvida. Minha experiência diária com mães e bebês mostra o quanto é um momento delicado, de muita doação e, não raro, dificuldades.
Existe uma visão muito romantizada da amamentação. Mulheres plenas, maquiadas e sentadas tranquilas com os bebês no seio. Essa é a expectativa. Mas, quando a realidade chega, vem a percepção de que não é necessariamente tão fácil assim. Por isso, gosto de conversar muito com as gestantes e com as mulheres que estão enfrentando contratempos no aleitamento.
Os profissionais que acompanham a mãe recém-nascida – sim, as mães também nascem com a chegada do bebê – têm um papel fundamental no sucesso do processo. Desde a maternidade, um bom acolhimento e um olhar sensível da equipe fazem toda a diferença naquele início que pode ser tão sombrio e difícil para a mulher.
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Não basta falar que está tudo bem e que, se precisar, a fórmula resolve. As mães devem ser ouvidas e receber um direcionamento seguro e afetuoso, a partir de uma escuta ativa, sensível e acolhedora. Elas precisam de um olhar amoroso e que transmita: “deixa eu te ajudar!”
Eu sempre digo que o conhecimento é algo poderoso para quem ingressa na maternidade. Muitas mulheres direcionam suas energias, leituras, conversas e aflições para a gestação e para o parto, e não fazem ideia do tamanho do desafio que virá depois. Imaginam apenas que irão colocar o bebê no peito e a mágica acontecerá. Ledo engano.
Por isso, ficam aqui algumas dicas para mães de primeira viagem (ou de segunda, terceira…): empodere-se com informações atualizadas e de fontes confiáveis dos mais diversos assuntos na maternidade, inclusive amamentação.
Tenha uma conversa franca com os profissionais que estarão por perto neste momento. Não basta receber apoio: é necessário contar com pessoas capacitadas, que saibam conduzir a amamentação, e que realmente ouçam as queixas e dores da mãe e ajudem a resolver a questão de forma assertiva.
Quando uma mulher chega com o relato de que não consegue amamentar porque está com dor, ela não quer uma desculpa nem um tapinha nas costas dizendo que vai ficar tudo bem. Muito menos uma solução simplista de que a fórmula vai resolver todos os problemas e só assim o bebê vai se desenvolver bem. Essa mulher está pedindo ajuda. Ela precisa de conhecimento e orientação. Ela precisa de amparo e proteção na sua decisão de amamentar.
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Existem muitos profissionais capacitados, atualizados e preparados para atender essas demandas. Grupos de apoio por todo o Brasil são importantíssimos nesta jornada, além das consultoras de amamentação que, por estarem na linha de frente da questão, têm conhecimento para ajudar essa mãe de verdade.
Na prática do consultório já me deparei com muitas histórias. Já vi mães chegarem desesperadas, exaustas e com medo. Mas, com paciência, diálogo e troca de informações vamos desmistificando a amamentação e entendendo, juntas, qual o melhor caminho a seguir.
Nem sempre é fácil. Nem sempre é possível. Mas, é sim, um direito da mulher ter acesso a um cuidado apurado durante todo o percurso. Amparar uma mãe é dever da sociedade.
Quando me tornei mãe e me deparei com as dificuldades e com pensamentos de que aquilo parecia mais uma tortura, entendi realmente como é importante não idealizar o momento. Acredito cada vez mais que, uma vez bem informadas, as mães poderão encarar o desafio com mais tranquilidade, menos culpa e cientes da importância da rede de apoio e de que o seu desejo de dar o peito deve ser respeitado e validado.
O leite materno é vida e amamentar, reforço, vai muito além de uma boca e um peito. É um ato de amor, doação, proteção e sacrifício. Que possamos, a partir de agora, ser parte da solução.